Capítulo 2 - PESO DO MOMENTO

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Os dias que antecediam a competição estavam carregados de um nervosismo sutil, aquele tipo de tensão que permeia o ar, mesmo quando todos tentam manter a leveza. Para Rebeca, cada treino, cada alongamento e cada conversa com a equipe era um lembrete de que o mundo estava assistindo. As memórias de Tóquio eram um conforto, mas também uma pressão. Como superar o que já parecia ser o auge?

A Vila Olímpica, com sua energia vibrante, era um mosaico de emoções. Atletas de diferentes modalidades e países interagiam, compartilhavam histórias e, por vezes, se isolavam em seus próprios mundos, tentando manter o foco. Rebeca gostava de observar as diferentes dinâmicas, imaginando as histórias de cada um. Mas, no fundo, sentia a falta de algo. Ou talvez, de alguém.

Nos dias que se seguiram ao reencontro com Simone, Rebeca e a americana se encontraram em várias ocasiões. Ora na academia de ginástica, ora no refeitório. Mas os encontros eram breves, quase sempre interrompidos por compromissos ou pela presença de outros atletas. Ainda assim, a conexão estava ali, inegável, um fio que as ligava mesmo na distância.

Uma tarde, depois de um treino exaustivo, Rebeca decidiu que precisava de um momento para si mesma. Colocou seus fones de ouvido, escolhendo uma playlist tranquila, e saiu para caminhar pelo parque ao lado da Vila. As árvores balançavam suavemente ao vento, e a música a envolvia como um abraço. Era bom ter um pouco de paz em meio ao caos dos preparativos.

Enquanto caminhava, Rebeca avistou Simone novamente, sentada sozinha em um banco, olhando para o horizonte. Parecia estar perdida em pensamentos. Rebeca hesitou por um momento, não querendo interromper, mas então se aproximou, sentindo que talvez ambas precisassem daquele momento juntas.

- Está tudo bem? - Rebeca perguntou, tirando os fones e se sentando ao lado de Simone.

Simone sorriu, mas era um sorriso diferente, mais reservado. - Sim, só pensando. Às vezes, gosto de ficar sozinha antes das competições. Você também faz isso?

Rebeca assentiu, entendendo perfeitamente. - Sim. Às vezes, a gente precisa de um tempo para se reconectar, né?

Simone concordou, e as duas ficaram em silêncio por alguns minutos, aproveitando a companhia uma da outra sem a necessidade de palavras. Era um silêncio confortável, algo que só se tem com pessoas que realmente entendem o que se passa em sua mente.

- Sabe, eu costumava pensar que precisava ser perfeita o tempo todo, que não podia falhar - Simone começou, ainda olhando para o horizonte. - Mas depois de Tóquio, percebi que a perfeição não existe. Que o que importa é como lidamos com nossos próprios desafios.

Rebeca ouviu atentamente, sentindo que aquela era uma confissão que Simone não compartilhava com muitos. - Eu entendo. Sinto que estamos sempre tentando nos superar, mas às vezes esquecemos que somos humanas.

Simone finalmente olhou para Rebeca, com um olhar de compreensão mútua. - Exatamente. E é por isso que estou aqui, não só para competir, mas para aproveitar o momento, como te disse antes. E você? O que te trouxe a Paris?

Rebeca pensou por um instante, refletindo sobre a pergunta. - Acho que estou aqui para descobrir até onde posso ir. Para ver se consigo encontrar algo novo em mim mesma, algo além do que já conquistei.

Simone sorriu de novo, dessa vez com mais calor. - Você vai encontrar. Tenho certeza disso.

As duas ficaram ali por mais algum tempo, conversando sobre suas expectativas, medos e sonhos. O que começou como um encontro casual se transformou em uma conversa profunda, onde ambas puderam se abrir de uma maneira que talvez não fosse possível com outras pessoas. Quando finalmente decidiram voltar à Vila, havia uma sensação renovada de propósito em ambas.

Paris estava apenas começando para Rebeca e Simone, mas aquela tarde no parque, sob as árvores e o céu azul, foi um momento de reconexão, um lembrete de que, independentemente dos resultados, o que realmente importava era a jornada e as pessoas que encontramos ao longo dela.

Enquanto caminhavam de volta, lado a lado, Rebeca sentiu que algo havia mudado entre elas. Não era apenas a amizade que tinham construído em Tóquio, mas uma nova profundidade, uma compreensão silenciosa de que, independentemente do que viesse a seguir, ambas estariam lá uma para a outra, enfrentando cada desafio com coragem e o coração aberto.

E Paris, com toda a sua luz e história, seria o palco onde essas duas amigas, agora mais conectadas do que nunca, escreveriam um novo capítulo de suas vidas.

PARIS 2024 - SIMBECA Onde histórias criam vida. Descubra agora