Capítulo 6 - DIFERENÇA NO OLHAR

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Pov Rebeca

Acordei com um leve desconforto, como se algo me dissesse que o dia seria mais complicado do que os anteriores. Não era a pressão da competição que me incomodava, mas sim algo mais íntimo, mais pessoal. Desde a festa na noite passada, senti que algo estava diferente, algo que parecia me afastar de alguém importante de maneira sutil, mas perceptível.

A manhã começou com a rotina de sempre-um café da manhã saudável, alongamentos, aquecimento. A competição de hoje seria nas barras assimétricas, uma das provas mais desafiadoras. Tanto eu quanto Simone ficamos de fora do pódio; ela terminou em quinto, e eu em quarto lugar. Estar tão perto e ao mesmo tempo tão distante de uma medalha era frustrante, mas o que realmente me perturbava era outra coisa.

No ginásio, o clima estava carregado de expectativa. As ginastas se preparavam com concentração absoluta, e eu sentia a tensão no ar. Olhei para Simone, que estava a alguns metros de mim, conversando com Jordan. Ela não olhou para mim nenhuma vez, e aquilo me incomodou mais do que eu gostaria de admitir.

- Tudo bem? - Flávia perguntou, se aproximando e me dando um leve toque no ombro.

- Sim, só estou um pouco pensativa - respondi, tentando disfarçar meus sentimentos.

- Parece que você não saiu do modo competição - Flávia riu, tentando me animar. - Mas hoje você pode relaxar um pouco.

Sorri para ela, agradecendo a tentativa de me distrair. Mas meus olhos continuavam a procurar por Simone, como se precisassem de uma confirmação de que estávamos bem.

A competição começou, e o nível era altíssimo. As performances nas barras assimétricas eram de tirar o fôlego, mas meu foco estava dividido. Enquanto uma ginasta argelina se destacava com uma rotina impressionante, percebi que Simone estava mais distante do que nunca. Ela aplaudia, torcia, mas havia algo em sua postura, em seu olhar, que a afastava de todos-especialmente de mim.

Quando a ginasta argelina conquistou o ouro, seguida por uma chinesa com a prata e Sunisa Lee com o bronze, senti uma onda de orgulho pelas competidoras, mas também uma pontada de inveja. Não pela medalha em si, mas pela clareza e confiança que aquelas ginastas tinham em si mesmas, algo que parecia estar me escapando.

Ao final da competição, todos se reuniram para parabenizar as vencedoras. Tentei me aproximar de Simone, mas ela estava sempre a um passo à frente, sempre ocupada com algo ou alguém. Aquela distância entre nós se tornava cada vez mais difícil de ignorar.

Finalmente, consegui alcançá-la quando ela estava sozinha, observando o pódio.

- Ei, você está bem? - perguntei, tentando esconder a ansiedade na minha voz.

Ela se virou lentamente para mim, os olhos indecifráveis. - Sim, estou. E você?

Havia algo na maneira como ela falou, uma falta de calor que me deixou desconfortável. Ela estava ali, mas não estava realmente comigo. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Jordan apareceu, chamando-a para uma conversa com o técnico.

Eu fiquei parada, vendo-a se afastar mais uma vez, sem ter tido a chance de perguntar o que realmente queria saber.

O resto do dia passou em uma névoa de incerteza. Estávamos todas cansadas, tanto física quanto emocionalmente, mas o cansaço maior era o de não saber o que estava acontecendo entre nós. Algo havia mudado, e eu não sabia como consertar.

Enquanto voltávamos para a Vila, a conversa entre as meninas girava em torno das performances do dia. Eu tentava me envolver, mas minha mente estava a quilômetros de distância, presa naquela última troca de palavras com Simone.

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