CAPÍTULO 25 - SENTIMENTOS

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Pov Narrador

As luzes do estádio começavam a se apagar, mas a excitação do jogo ainda pulsava nas veias de todos. O placar final de 1x0 para os Estados Unidos deixara as brasileiras com um gosto amargo, mas a camaradagem entre as equipes suavizava a derrota. Em meio à multidão que saía, o grupo de ginastas brasileiras e americanas se movia junto, tentando não se separar.

Jordan, sempre espirituosa, não perdeu a oportunidade de provocar Flávia.

- Parece que vocês precisam de um pouco mais de sorte, hein? Ou talvez de uma treinadora de futebol- ela disse com um sorriso maroto, piscando para Flávia. A brasileira revirou os olhos, mas não pôde deixar de rir. O comentário leve quebrou a tensão, e as outras ginastas também riram, a energia entre elas era quase palpável.

Ao se aproximarem do portão de saída, o grupo começou a se dispersar ligeiramente, com cada uma começando a planejar como aproveitar as últimas horas em Paris. Foi então que Gaby, a jogadora de vôlei que havia chamado a atenção de Simone e causado certo desconforto, se aproximou de Rebeca. -

- Ei, Rebeca, estava pensando... que tal um passeio amanhã? É nosso último dia aqui, seria bom aproveitar- sugeriu Gaby, com um sorriso caloroso.

Rebeca, surpresa e ligeiramente encabulada, olhou de relance para Simone, que estava parada ao seu lado. O sorriso de Rebeca hesitou, sabendo que Simone provavelmente ouvira o convite. Antes que ela pudesse responder, Flávia, que captou o clima estranho, rapidamente interveio.

- Na verdade, estávamos pensando em ir a um restaurante esta noite, que tal se você se juntar a nós, Gaby? - disse Flávia, com uma naturalidade que só uma amiga de longa data poderia ter.

Simone manteve-se quieta, seu olhar agora fixo no chão, e Jordan, que conhecia cada nuance do comportamento da amiga, percebeu a mudança imediata. O desconforto de Simone era palpável. Simone, no entanto, não era do tipo que expunha suas emoções facilmente. Levantando o rosto, ela olhou para Rebeca e, em seguida, para as demais, antes de anunciar:

- Eu... não vou poder ir ao jantar, tenho que terminar algumas coisas antes de voltar para casa.

O anúncio de sua partida iminente deixou um gosto amargo na boca de Simone, e a dor silenciosa de saber que aquele seria um dos últimos momentos que teria com Rebeca a consumia por dentro. Mesmo tentando soar casual, havia uma dor perceptível em suas palavras, algo que Rebeca, mais do que ninguém, captou.

Rebeca, percebendo a confusão e a dor nos olhos de Simone, não conseguiu ignorar.

- Posso falar com você... a sós?-  perguntou Rebeca, sua voz firme, mas carregada de preocupação. As outras ginastas trocaram olhares e, percebendo a tensão, começaram a se afastar em direção ao restaurante. Gaby hesitou, lançando um olhar intrigado para Rebeca, mas acabou seguindo as outras meninas.

Quando finalmente ficaram sozinhas, o silêncio entre Simone e Rebeca era quase ensurdecedor. As luzes da cidade brilhavam ao fundo, mas para Simone, tudo parecia desvanecer, exceto Rebeca. A brasileira se aproximou um pouco mais, não querendo perder tempo com rodeios. - Você está assim por causa da Gaby, não é? -  perguntou Rebeca, sem tirar os olhos de Simone.

Simone negou rapidamente, mas sua voz vacilou. - Não, não é isso. Eu... isso não me atinge. - respondeu, tentando manter a compostura. Rebeca sabia que Simone estava mentindo, ou pelo menos escondendo algo. Ela deu mais um passo em direção a Simone, aproximando-se até que quase se tocassem.

- Simone, olhe nos meus olhos. -  Rebeca ordenou suavemente, mas com firmeza. Simone obedeceu, seus olhos escuros encontrando os de Rebeca. Havia algo em seus olhos, uma vulnerabilidade que Simone raramente mostrava. Rebeca sentiu o coração apertar, mas sabia que precisava ir até o fim.

- Agora me diga... você está assim por causa dela? -  repetiu Rebeca, sua voz mais suave desta vez, quase um sussurro. Simone tentou desviar o olhar, mas a intensidade nos olhos de Rebeca a manteve presa. Finalmente, Simone suspirou, deixando escapar o ar que nem sabia que estava segurando.

- Sim, talvez eu esteja -  confessou Simone, sua voz quase inaudível. - Eu... não gosto de vê-la perto de você. Me incomoda, e eu sei que isso não deveria acontecer, mas... acontece.

Rebeca sentiu uma onda de emoções passando por seu corpo. Por um lado, estava tocada pela confissão de Simone, mas por outro, preocupada com o quanto esse desconforto estava afetando a americana. - Simone... eu não sei o que te dizer -  começou Rebeca, buscando as palavras certas. - Gaby é uma amiga, nada mais. Não tem motivo para você se sentir assim.

Simone balançou a cabeça, ainda incapaz de esconder a dor. - Eu sei, Rebeca, eu sei disso aqui...-  disse, apontando para sua cabeça. - Mas aqui... -  continuou, levando a mão ao coração, - é diferente. Eu sinto coisas que não consigo controlar, e isso... isso me assusta.

Rebeca permaneceu em silêncio por um momento, digerindo as palavras de Simone. Ela sabia que havia algo mais profundo acontecendo entre elas, algo que ambas estavam tentando ignorar. Mas a tensão entre as duas estava se tornando insustentável. - Simone...-  começou Rebeca, sua voz agora cheia de carinho. - Eu não quero que você sinta isso. Não quero que se machuque por algo que não existe.

- Mas é difícil, Rebeca. - Simone murmurou, olhando para baixo novamente. - Eu não deveria me sentir assim, mas me sinto. E agora, eu só quero fugir, terminar o que tenho que fazer e sair daqui antes que isso fique pior.

Rebeca respirou fundo, sentindo o peso da situação. Ela sabia que, se não fizesse algo, poderia perder Simone. E isso era algo que ela não estava disposta a deixar acontecer. - E o que aconteceu ontem ? Não tem importancia ? - Rebeca questiona se aproximando ainda mais. 

Simone levantou o olhar, sua feição era triste e flash da noite anterior estavam na sua mente. Ela fecha os olhos e sussurra - Ontem foi lindo, uma noite magica que vivi ao seu lado. Foi como se estivéssemos dançado em sincronia desde nosso primeiro toque. Você me fez sentir coisas que eu nunca senti. - Simone desabafa e algumas lágrimas caem dos seus olhos, Rebeca percebe a confusão que estava a cabeca de Simone e se via na necessidade de jogar limpo e colocar as cartas na mesa , para mostrar a america  o que ela queria .

Rebeca olha para os lados e percebe que as ruas estávam vazias, então devagarinho ela empura Simone com carinho, fazendo as costas da americana sentirem a textura dura da parede. Simone abri os olhos e a encara sem entender.

Rebeca se aproxima até seus corpos colarem, segura a cintura da americana como se impedisse-a de sair e sussurra próximo ao seu ouvido.

- Simone, ontem a noite... quando nossos corpos e almas se encontraram pela primeira vez, senti como se todo o universo tivesse conspirado para aquele momento. Cada toque seu, cada beijo, cada suspiro entre nós foi como a materialização de um sonho que eu nem sabia que tinha. Você me fez sentir completa, como se tudo que eu vivi até agora fosse apenas uma preparação para estar ao seu lado. Naquele instante, percebi que não era só desejo, era algo muito maior, algo que transcende o físico. Foi a primeira vez que senti que realmente pertencia a alguém!

- Rebeca... - Simone suspirou seu nome, mas antes que pudesse dizer algo, Rebeca a interrompeu, continuando com ainda mais intensidade:

- Quando nos entregamos, foi como se o mundo inteiro parasse, e só existisse nós duas, como se o universo nos tivesse escolhido. Você me fez sentir viva, completa, em casa. Aquela noite não foi apenas um momento, foi o início de algo extraordinário. E eu quero seguir esse caminho com você, porque ao seu lado, encontrei meu lugar.

Simone, com um sorriso curioso e cheio de emoções, perguntou:

- Isso é uma declaração, Andrade?

Rebeca sorriu com um olhar provocador e, sem esperar , deslizou suas mãos suavemente pelo rosto de Simone, seus dedos acariciando a pele com ternura. Aproximou-se lentamente, e antes que Simone pudesse reagir, seus lábios se encontraram em um beijo suave e profundo. O beijo começou de forma delicada, mas rapidamente se intensificou, revelando a paixão e o desejo contidos em cada toque. Simone sentiu o coração acelerar, perdida na sensação de estar tão próxima de Rebeca. Quando finalmente se separaram, Rebeca manteve o olhar fixo, seu sorriso ainda mais intenso.

- Agora você sabe o que é -  ela sussurrou, seu tom cheio de confiança e ternura. - E isso é apenas o começo. Há muito mais que quero compartilhar com você, estiver disposta a descobrir, Biles...

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