39 Foco, cadê você, meu filho?

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A minha analista uma vez comentou que eu talvez tivesse algum traço de TDAH. Eu não deixei essa fala germinar na minha mente porque eu não tenho condições de ter nenhum novo diagnóstico a essa altura da vida.

PORÉM.

De vez em quando entro em um estado de total falta da foco. Só se passaram vinte dias desde o início do ano e até agora eu já iniciei e abandonei uns sete livros. Não que eu tenha abandonado realmente. Acho que todos são interessantíssimos. Mas enquanto leio uma coisa a minha mente já começa a vagear e, quando vou ver, já estou lendo outra.

Eu queria entender por que fico assim. Não é a primeira vez. Acontece de tempos em tempos. É como se a minha mente curiosa tivesse assumido o controle e ela quer satisfação imediata apenas. Boas ideias, um pouco de emoção, novas ideias, novas emoções.

Não sei porque a minha analista mencionou um possível traço de TDAH. A verdade é que não percebo os sintomas em mim. Tenho que lembrar de perguntar sobre isso a ela.

Esse meu estado de desconcentração é esporádico. Atualmente, não estou tendo facilidade para fazer coisas que não me interessam em nada. Por exemplo, a minha pós. Todo o conteúdo me parece tão raso e desatualizado, que simplesmente não tenho a menor vontade de prestar atenção e, muito menos, fazer as atividades avaliativas. Nesse caso em específico, entendo que a minha "falta de foco", na verdade, está relacionada à falta de desafio intelectual da pós.

Mas o problema vai além disso. No último post (acho) falei sobre me sentir em um hiato. Ainda estou me sentindo assim. Não estou engrenando. Mais uma vez: quando falo isso, não quero dizer que estou parado esperando a morte chegar. Apenas que não estou afetivamente envolvido com as minhas tarefas. Não estou conseguindo me conectar afetivamente.

Sem o afeto, o intelecto fica burocrático. Sem a emoção de viver o pensamento de Foucault, ler a obra dele se torna burocrático. Ler, analisar, entender, passar adiante. Como carimbar papéis (a imagem arquetípica do trabalho burocrático por excelência).

Então estou falando de um problema afetivo. Estou preocupado com esse meu distanciamento emocional.  Mas se eu entender o meu distanciamento como um sintoma, posso imaginar que seja uma defesa contra o desgaste emocional que tive com meu marido cerca de dois dias antes de viajar.

Estou me sentindo extremamente cansado desde então. Acho que esses embates entre nos nós vão acabar culminando em uma separação. Eu sei que vira e mexe falo sobre isso aqui, como se fosse uma ladainha, sendo que nunca vai acontecer. Mas ao mesmo tempo em que parece que nunca vai acontecer, parece cada vez mais possível que aconteça, sabia?

Mas eu não sei, não quero bancar o vidente porque não dá para fazer prognóstico de uma relação que é problemática, mas também é muito boa.

Também não sei se é isso. Acho que eu já vinha meio desanimado mesmo antes do último embate. Sinto que estou ficando cansado dos embates no geral. E por que isso mo mobiliza tanto?

Porque não se trata apenas de discussões, ou incompatibilidades de perspectivas. Esse desencontro com ela se reflete em outras questões, como o fato de eu não querer viver sozinho. Se reflete também nos meus dilemas sobre o quanto de concessões é necessário fazer para sustentar um relacionamento.

Uma conta que nunca fecha realmente. 

Acho que o que eu tinha para dizer hoje era isso: continuo no hiato. Não estou com falta de foco. Não exatamente. Estou em crise com a vida. Sinto que a minha energia está sendo direcionada para elaborar essas forças tectônicas que atuam dentro de mim: questões existenciais, relacionais, profissionais, familiares.

Como vou lidar com isso? Do mesmo jeito de sempre: observando, não me forçando demais, nem de menos. Acho que tem coisas muito subjetivas que precisam de tempo para assentar.

Por hoje é isso! Escrevi, não li, espero que esteja inteligível.

I'll come back.

Como ser normal sendo superdotado - DiárioWhere stories live. Discover now