Orfanato de Nova York
Lucy 2009 d.c."Eu odeio os verões, porque eles me fazem lembrar do momento mais infeliz da minha vida."
"— Mamãe, por que estamos paradas em frente a essa casa? — perguntei curiosa, segurando a mão da minha mãe, enquanto ela olhava fixamente para a enorme casa."
"Naquela época, eu deveria ter percebido o que ela tinha em mente. Deveria ter desconfiado desde o momento em que saímos de casa com nossas malas prontas, e deveria ter estranhado o fato de ela ter me comprado doces quando pedi. Mas como poderia?"
"Eu tinha 5 anos e estava aproveitando um dos poucos momentos que compartilhei com a minha mãe."
"— Mamãe? — chamei sua atenção, me sentindo confusa sobre o que estava acontecendo."
"Então, ela suspirou fundo, virou-se para mim e se agachou à minha altura, colocando suas mãos carinhosamente nos meus ombros. Seu olhar era de tristeza, uma tristeza tão grande que eu não conseguia entender o porquê dela estar ali."
"— Escuta, Lucy. — ela começou a falar; sua voz soava como uma melodia triste de piano. — Você quer brincar? — perguntou, dando um falso sorriso."
"— Brincar? De quê?"
"— É simples. Vamos brincar de contar até... até onde você sabe contar?"
'— Eu sei contar até 100. — disse, quase me gabando."
"— Ótimo! Então vamos brincar assim: você fica parada aqui até eu voltar e contar até 100. Quando você estiver terminando, eu volto para te dar o seu prêmio. Mas só vale se você fizer isso direitinho, entendeu? — explicou, o que me deixou empolgada para iniciar a 'brincadeira'. "
"— Tá bom! E quando você voltar, vamos comer carne? — perguntei com um sorriso enorme de animação."
"Minha mãe ficou em silêncio por alguns segundos antes de me responder, passando a mão na minha cabeça."
"— Claro. — afirmou, mordendo o lábio inferior, como se estivesse se punindo por mentir. — Por que não?"
"— Então tá bom! Vou começar agora, pode ir. — disse, na maior inocência e leveza do mundo."
"Eu não deveria ter dito aquilo. Tê-la deixado ir como se não fosse nada, acreditando fielmente que ela voltaria para me buscar e comer carne. Fui tão ingênua. Tão ridiculamente ingênua."
"Se eu tivesse segurado na mão dela e pedido para que não fosse embora, para que não me deixasse sozinha naquele lugar, talvez as coisas teriam sido diferentes. Mas o que vale pensar nisso quando o estrago já foi feito, certo?"
"Inocentemente, comecei minha contagem: um, dois, três, quatro... Contava com aquela empolgação inexplicável que toda criança tem, não importa as circunstâncias."
"Então, com uma mala na mão, minha mãe começou a ir embora, mas, antes que ela sumisse da minha vista, chamei-a pela última vez."
"— Mamãe! — a chamei, e, como de forma automática, ela se virou e olhou para mim para ver o que eu queria. — Tchau, tchau! — acenei para ela com as duas mãos e um grande sorriso bobo."
"Eu até posso estar enganada, mas acho que, no dia em que ela me abandonou, seus olhos estavam transbordando de lágrimas. Minha mãe estava chorando. Chorando por ter que ir e me deixar ali. Claro, é nisso que prefiro acreditar."
"Como tudo para mim fazia parte da brincadeira, fiquei lá, parada como uma idiota, esperando por ela... esperando que voltasse e me abraçasse, dizendo que iríamos para casa."
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Um Amor Além do Tempo
RomantikAh, o amor... um dos sentimentos mais intensos que o ser humano pode possuir. O amor pode ter várias formas, uns podem ser verdadeiros e sinceros, já outros frios e traiçoeiros. Já o meu amor é sincero, frio e cheio de cicatrizes incuráveis causado...