Capítulo 22: Naquele jardim

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Tebas, Egito
Safyia977 a.C.

"Há sempre infinitas maneiras de iniciar um romance. Seja começando com um olhar, um toque, uma palavra ou com um simples beijo. Sempre haverá diversas oportunidades para o amor entrar em nossas vidas."

"Já o dos meus pais começou de um jeito inesperado, porque o amor deles começou em um lindo jardim florido."

"Foi, como minha mãe sempre me dizia, extraordinário. Ela podia sentir seu coração disparar de forma frenética, como se ele quisesse sair de seu peito. Meu pai ficou tão vislumbrado com a beleza da minha mãe que quase a confundiu com uma deusa – palavras dele, é claro."

"Eles até insinuaram que, se aquele lindo jardim nunca tivesse existido, talvez o amor deles não teria acontecido."

"Bom, talvez fosse melhor assim."

"— Eu estou preocupada, Amon — disse minha mãe, em um tom nervoso. — Eles estão cada vez mais perto. Eu sinto isso."

"Era uma noite fria, como todas as outras, e minha mãe e meu pai conversavam quase em um sussurro para evitar que eu acordasse. Eu estava deitada na cama, virada para a parede com os olhos fechados, fingindo estar dormindo, escutando toda a conversa com atenção."

"— Não precisa ficar assim. Tenho certeza de que tudo vai ficar bem. — disse meu pai, calmo, como sempre tentando acalmar minha mãe."

"— Precisamos sair deste vilarejo. Não é mais seguro aqui. — aquilo me deixou aflita."

"Se realmente fôssemos embora, isso significaria que eu teria que me separar dos meus amigos, das pessoas boas por quem eu tinha tanto carinho e amor, como uma família. Eu passei a maior parte da minha infância naquele vilarejo, conhecia todo mundo e os via como família."

"Como eu poderia sair daquele lugar que tinha orgulho em chamar de lar? Eu não queria isso, de jeito nenhum!"

"— Nós não vamos para lugar nenhum! — falou meu pai, um pouco alterado. — Eu sei que você anda preocupada, eu também estou, mas... só não vamos deixar que nossas preocupações afetem nossa filha. Safyia ainda é muito pequena; ela não entenderia essa mudança."

"Eu dei um pequeno sorriso."

"Naquele momento, pensei: 'Ao menos o meu pai me entende' Que tolice da minha parte."

"— Tem razão — ela cedeu, meio cabisbaixa. — Me desculpe, eu só... estou muito estressada."

"— Não se preocupe, meu amor, ninguém vai nos fazer mal. Eu prometo."

"Se minha mãe tivesse sido mais persistente sobre a nossa mudança, talvez, só talvez, aquele dia nunca tivesse acontecido. Nossas vidas não estariam tão infelizes como agora."

{...}

Oregon, Portland
2022 d.C.

Hoje é meu primeiro dia no colégio Isabelle. Foi meio difícil conseguir minha matrícula, mas nada como mexer uns pauzinhos para conseguir isso.

Eu estava no carro da família, sentada no banco da frente, olhando a paisagem pela janela. Elias era o meu motorista de hoje; seus olhos estavam fixos na estrada enquanto ele dirigia de forma segura, sem nenhuma pressa.

Havíamos acabado de deixar Jonathan na sua escola, e, sem ele para puxar assunto, o silêncio era presente entre Elias e eu.

Talvez eu esteja um pouco mal acostumada, mas o silêncio se tornou um desconforto para mim. Viver cercada de pessoas comunicativas nos últimos dois anos me deixou sensível demais, e olha que vivi uma boa parte da minha vida em solidão.

Um Amor Além do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora