Capítulo 20: O substituto do insubstituível

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Por mais que tentemos preencher o lugar que uma pessoa deixou no mundo, é impossível substituí-la completamente. Uma mãe, um pai, um filho, um melhor amigo, não são papéis que qualquer pessoa possa assumir.

Aprendi isso quando Liam se foi.

Meu pai havia perdido seu favorito, seu troféu, o filho perfeito do qual ele se gabava ao apresentar seus sócios. E como eu era o único filho que lhe restava, não demorou muito até que ele passasse a prestar mais atenção em mim, me tornando assim o substituto do insubstituível.

Minha mãe, bem... se antes ela era cuidadosa comigo, depois que meu irmão morreu, seu instinto de proteção só aumentou ainda mais conforme fui crescendo. E agora que estou prestes a fazer 18 anos, sua paranoia sobre minha 'possível morte' está maior do que nunca.

— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?? - gritou minha mãe de forma histérica para mim quando me viu com uma faca na mão, cortando tomates.

Eu a olho confuso, parando de fatiar o legume, quando ela rapidamente veio em minha direção com uma expressão raivosa e bateu fortemente nas costas da minha mão, me fazendo soltar a faca na tábua.

— Ai! - gemi de dor. — Mãe, qual é?!?

— Você ficou maluco? - perguntou nervosa. — Tem ideia do quão perigoso é isso??

— Eu só estava cortando um tomate.

Eu odeio quando ela age desse jeito, exagerado. Não é como se eu fosse me matar droga!

— Por que você precisa fazer isso? Os empregados servem pra quê?

— Ah, pronto! Agora eu não tenho mais liberdade para fazer nada. Só vou ficar parado como uma estátua o dia inteiro enquanto todos fazem tudo por mim.

— Exatamente! Fique parado, não faça nada, apenas estude. Será que é tão difícil entender que eu NÃO quero você nessa cozinha?

— Engraçado, quando o Liam ficava na cozinha mexendo em facas, a senhora não falava nada. - disse, por puro impulso.

Minha mãe, que tinha sua expressão furiosa, agora, depois que mencionei o nome do meu irmão, mudou para uma feição mais vazia, meio triste e sombria. Eu não deveria ter colocado o nome de Liam na discussão.

— Mãe... eu... - arrependido com o que havia falado, começo a pedir desculpas, mas não tenho sucesso.

— Só... - dizia ela, com a voz mais calma e olhar triste. — Não faça isso de novo. - pediu, antes de me dar as costas e ir para seu quarto.

— Parabéns, Adam, você é um babaca. - murmurei, me sentindo péssimo com o que tinha feito.

Vão se fazer quatro anos desde que Liam fez o que fez, e mesmo depois de todo esse tempo, mencionar o seu nome ainda é de grande dor nesta casa.

O quarto dele continua do mesmo jeito, pois meu pai não queria se desfazer das coisas do seu filho favorito. De vez em quando, meu pai entra lá, mexendo nas coisas dele, nas roupas dele, sentando-se na cama onde ele dormia, sussurrando coisas para o nada, como se esperasse alguma resposta do meu irmão.

Minha mãe nem sequer chega perto daquele quarto. Acho que, se ela entrasse, começaria a chorar compulsivamente pela culpa de não ter sido uma boa mãe.

Já eu, bem... o máximo que consigo fazer é ficar parado em frente a porta, com a mão hesitante na maçaneta, sem ter coragem o suficiente para abri-la.

{...}

— Não se esqueça de me mandar mensagem quando estiver saindo da escola. - disse minha mãe, enquanto ambos caminhamos em direção ao carro preto, onde nosso motorista, Sr. Parker, abriu a porta do banco do passageiro para me levar ao colégio.

Um Amor Além do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora