Capítulo 06: Adaptações

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Já se passaram dois dias desde que eu acordei do coma, e durante esse tempo tenho me dedicado ao máximo à recuperação das minhas pernas.

O lado positivo de ter acordado neste corpo é que ele não será totalmente inútil, não ficando inválido, graças à fisioterapia que está fazendo milagres. Talvez, em mais dois ou três dias, eu comece a andar livremente, sem ajuda.

É estranho ser tratada no hospital onde eu era médica na minha antiga vida: ficar deitada o dia todo, ser tratada como paciente, tomar remédio no horário certo. De certa forma, isso me deixa extremamente incomodada. A única coisa que eu quero é voltar a trabalhar; o tédio está me matando. A ideia de voltar a ser uma adolescente não me agrada em nada. Por quê? Porque terei que voltar a frequentar uma escola... de novo.

E sinceramente, mesmo eu sendo um gênio, estudar é um saco! Fala sério, quase 8 horas trancada em um ambiente barulhento, com um número considerável de pessoas, das mais irritantes às mais insuportáveis do mundo. O que eu posso dizer? Adolescentes se consideram invencíveis por serem jovens, e arrogantes demais por não saberem o mínimo sobre o mundo. E pensar que terei que enfrentar isso de novo. Só de pensar já me dá dor de cabeça.

— Ahh, que clima bom. — minha linha de raciocínio é interrompida por Jonathan, que apreciava a paisagem calma enquanto nós dois estávamos do lado de fora do hospital, ele sentado em um banco, e eu em uma cadeira de rodas.

Jonathan achou que seria melhor se eu tomasse um pouco de ar fresco depois de passar tanto tempo trancada em meu quarto. Sinceramente, tanto faz para mim. O céu estando limpo ou não, para mim é sempre a mesma coisa, não muda muito.

— Você está tão pensativa. — diz Jonathan, olhando fixamente para mim. — Na verdade, você tem estado pensativa desde o dia em que acordou. Me pergunto o que seria.

— Nada de importante... — desvio o olhar por um instante. — Só que, às vezes, é difícil de acreditar que tudo isso está acontecendo. Meu acidente, a perda de memória, descobrir que tenho uma família... chega a ser inacreditável. Me pergunto se... vou conseguir me adaptar a isso. — digo, olhando para o nada, com um sorriso de lado, sem graça.

— Do que você está falando? É claro que você vai se adaptar a isso, Chloe. Afinal, nós estamos com você agora. Assim que a mãe se recuperar, vamos cuidar tão bem de você que não vai mais precisar se sentir sozinha de novo. — diz ele com um sorriso largo e gentil para mim, o que me surpreende com seu carinho e leveza.

Suas palavras doces e gentis são como uma onda de alívio para as minhas preocupações. O que é estranho... nunca me senti assim com as palavras de uma pessoa antes. Pela primeira vez, depois de tanto tempo, sinto-me aliviada por não estar sozinha como antes. Estou... feliz, eu acho.

Mas eu não deveria me sentir assim, porque sei perfeitamente que essas palavras não são para mim, porque eu não sou a Chloe. Sou apenas uma intrusa que ocasionalmente ganhou uma nova oportunidade.

— Obrigada, Jonathan. — coloco minha mão sobre a dele, levemente. — Você é um menino muito gentil comigo. — dou um sorriso alegre para ele como agradecimento.

— Que nada, irmã. Eu sempre vou estar com você para tudo, então não se preocupe. — ele segura minha mão com delicadeza, deixando-me feliz.

Jonathan provou ser um menino meigo e carinhoso, sempre disposto a me ajudar e ficar ao meu lado. Ele, sem dúvidas, amava muito sua irmã mais velha. Por isso, vou fazer de tudo para tentar substituir um pouco o lugar que a Chloe deixou.

Eu vou fazer com que a família Carson tenha uma vida boa e feliz enquanto eu estiver por aqui. É o mínimo que posso fazer por eles.

— Acho que já deu de vitamina D por hoje. Quer visitar a mamãe? Tenho certeza que ela sente sua falta.

Um Amor Além do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora