Um Amor Além do Tempo

Capítulo 21: Um olhar indecifrável

O olhar pode dizer muitas coisas sem que uma única palavra seja dita.

Um olhar de raiva, outro de desprezo, muitos de inveja. Não é preciso dizer uma única palavra para que a pessoa saiba o que sentem em relação a ela.

Não podemos nos esquecer do olhar apaixonado ou de amor. Esses podem ser tão óbvios que até mesmo um cego conseguiria ver.

Mas há um olhar que consegue ser enigmático. Um olhar indecifrável, onde diversas emoções colidem umas com as outras, fazendo uma bagunça na cabeça da outra pessoa...

— Srta. Carson, você pode se sentar ali, naquele assento vazio na quinta fileira — disse o Sr. Miller, apontando o dedo em direção à carteira vazia à minha frente.

— Só pode ser brincadeira — murmurei, incrédulo com o que estava acontecendo.

Não havia ninguém que não conhecesse o sobrenome Carson, uma família tão poderosa quanto respeitável. Eles são conhecidos por serem muito reservados com sua vida pessoal e por não se envolverem em nenhum tipo de escândalo que prejudicasse sua imagem impecável de família perfeita.

Meu pai teve a oportunidade de ser o advogado pessoal do Sr. Cristian Carson, e graças a isso, minha família ganhou mais reconhecimento e poder financeiro. Claro, nosso patrimônio não é tão grande quanto o dos Carson, mas é o suficiente para vivermos nossas vidas despreocupados com o futuro.

Embora o Sr. Carson considere meu pai um amigo, para ele, Cristian é o motivo de sua maior inveja.

Ele sempre teve uma obsessão meio doentia em ser 'perfeito', ser o melhor de todos, tanto que colocou na cabeça que nossa família também deveria ter esse mesmo pensamento. Ele não poupa esforços em exigir tudo de nós.

Eu e minha mãe somos seus troféus, que ele usa para se gabar para a mídia quando tem oportunidade. Mas, quando as câmeras desligam, lá está ele reclamando que deveríamos nos esforçar ainda mais. Como se drenar toda nossa energia vital não fosse o suficiente para aquele homem.

Sem desviar o olhar de Chloe, logo percebi que sua atenção também estava voltada para mim, somente em mim. E conforme ela se aproximava mais e mais, seu olhar era... tão estranhamente feliz. Era uma mistura de alívio, alegria, tristeza, culpa. Era como se ela estivesse encarando a pessoa — no caso, eu — que não via há muito tempo.

Confuso, desvio o olhar para o lado.

Eu me sentia estranho. Por que eu me sentia estranho? Não é a primeira vez que recebi esse tipo de olhar, mas o daquela garota conseguiu me mexer de um jeito que não consigo explicar. A única vez que me senti assim foi com a...

— Lucy Walter...

— Sim!? — respondeu Lucy, parecendo meio agitada, após se levantar de forma brusca de sua cadeira, fazendo todos olharem para ela.

— Chamada — disse o Sr. Miller, confuso.

— Ah! Claro... me desculpe. — Com as bochechas vermelhas pela vergonha, Lucy voltou a se sentar.

— O que deu nela? Ficou doida de vez? — pensei em voz alta.

Com isso, começo a organizar meus materiais em cima da mesa.

Não demorou muito até que o professor terminasse sua chamada. Quando estava prestes a iniciar sua aula, Catherine e Robert voltaram da diretoria, pedindo desculpas pelo atraso e entrando logo em seguida.

A princípio, achava que esses dois irmãos fossem arrogantes e mimados pelo simples fato de serem filhos do diretor, mas para a sorte de todos, eles são de boa. Um pouco frios, meio inexpressivos e de poucas palavras.