Nada é tão simples quanto parece.

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Esse é penúltimo capítulo...

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𝐊𝐄𝐍𝐃𝐀𝐋𝐋

A raiva corria por minhas veias como um veneno, espalhando-se por cada parte do meu ser, escurecendo minha visão e tornando meus pensamentos doentios. A mão que acabara de se chocar contra o rosto de Sn ainda tremia, tentando entender o que havia feito. O arrependimento me envolveu como um véu; eu nunca quis machucá-la. Senti o gosto amargo na minha boca.

A observei no chão, a expressão de surpresa moldada em seu rosto. Olhei em seus olhos e vi o brilho sumir aos poucos, transformando-se em algo que eu já estava acostumada a receber dela, mas que ainda assim me machucava: Seu desprezo.

Sn sempre teve as melhores cartas, sempre soube como me ferir, encontrar minha fraqueza ou o segredo mais sujo que eu escondia na alma. Naquele momento, me vi diante de um labirinto onde a saída poderia ser dizer a verdade, confessar meu pecado, ou me afundar ainda mais na escuridão, virando o jogo e mostrando que, mesmo quando Hernández acredita estar no controle, sou eu quem dita as regras.

Abaixei-me lentamente, meus joelhos tocando o chão frio de madeira. Agarrei seus cabelos, os fios escuros se enroscando em meus dedos, e ergui seu rosto, obrigando-a a me encarar. O rosto dela estava marcado, a prova do que eu havia feito.

Seu olhar era assustado; talvez ela esperasse que eu continuaria a tratá-la mal. Mas da minha parte, não havia mais violência, pelo menos não do tipo que ela antecipava.

― Você acha que me conhece, Hernández? ― minha voz saiu baixa, mais calma do que eu esperava, mesmo sentindo toda aquela raiva. ― Acha que sabe tudo sobre mim só porque conseguiu arrancar alguns segredos enquanto estávamos na cama? Mas há uma coisa que você parece não entender. ― Inclinei-me até nossos rostos estarem a poucos centímetros de distância. ― Eu posso ser tudo o que você diz, mas o que realmente importa aqui é que, no final das contas, você ainda está aos meus pés. Você ainda é minha, pertence apenas a mim.

Ela tentou desviar o olhar, mas eu a segurei firme, forçando-a a manter os olhos nos meus. ― Eu nunca quis te machucar, mas você me levou a isso, amor... Essa competição com Kylie, essa obsessão que você tanto gosta de usar contra mim... ― continuei, meu tom frio. ― Talvez seja verdade, talvez eu tenha desejado algo que não deveria. Mas e você, Sn? O que você queria de Kylie? Por que acha que ela sempre foi a única coisa que realmente valeu a pena na sua vida? Por que ela e não eu? Porque, no fundo, você sabe que não consegue me deixar, que não consegue me resistir. No final das contas, somos iguais, só que com pecados diferentes.

Soltei-a com um empurrão, fazendo-a cair para trás, os cabelos espalhados pelo chão. Sn parecia tão pequena, tão vulnerável. Levantei-me, endireitando minha postura, olhando para ela de cima.

― Você nunca vai se libertar de mim, Sn. ― Minha voz soou como um simples sussurro. ― Porque eu sou a única pessoa que realmente entende quem você é. E, se quer saber, eu prefiro o inferno com você do que o paraíso com qualquer outra.

Saí do quarto sem olhar para trás, deixando-a no chão, sozinha, para que ela mesma lutasse contra seus próprios demônios. Por mais que Sn tentasse lutar, por mais que tentasse me manipular, no final ela sempre voltaria para mim.

Nós duas éramos prisioneiras dos próprios desejos. E, de alguma forma doentia, éramos as únicas capazes de entender e, talvez, até amar esse lado sombrio uma da outra.

(...)

Os primeiros raios de sol começavam a ultrapassar as persianas. Pisquei os olhos, tentando me acostumar com a claridade; minha visão ainda estava turva. Não havia conseguido dormir direito.

𝐎𝐁𝐒𝐄𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍| 𝐊𝐘𝐋𝐈𝐄 𝐉𝐄𝐍𝐍𝐄𝐑 Onde histórias criam vida. Descubra agora