𝐎𝐁𝐒𝐄𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍| 𝐊𝐘𝐋𝐈𝐄 𝐉𝐄𝐍𝐍𝐄𝐑

fuga.

A luz da lua passava pelas frestas da janela. Minha cabeça repousava sobre o peito de Kendall, ouvindo cada batida constante de seu coração. O braço da modelo estava em volta da minha cintura, me mantendo presa mesmo durante o sono. Kendall temia que eu fugisse.

Encarei seu rosto sereno. Ela, dormindo, parecia um anjo, um belo anjo caído. No entanto, eu sabia que essa era apenas uma ilusão. A verdadeira Kendall era bem diferente: possessiva, controladora e manipuladora.

Era difícil de acreditar que uma mulher tão bela poderia ser tão cruel. Ainda assim, no fundo, eu sabia que parte dessa culpa era minha. Eu tinha permitido que as coisas chegassem a esse ponto.

Com cuidado, me movi lentamente, respirando fundo e tentando me concentrar. Deslizei suavemente, pouco a pouco, me afastando do corpo de Kendall. Cada movimento era calculado, cada respiração contida. Quando finalmente consegui me desvencilhar, me sentei na beirada da cama, observando Kendall por um momento. Ela continuava dormindo profundamente, os traços relaxados, uma visão quase inocente se eu não conhecesse sua verdadeira face.

Sentada na ponta da cama, meus pés alcançaram o chão frio de madeira. Levantei-me, esforçando-me ao máximo para não fazer qualquer tipo de barulho. Kendall tinha o sono leve, ainda mais por estar sempre alerta, com os olhos sobre mim, me controlando como se eu fosse uma maldita marionete.

Estava exausta da longa tarde que tivemos até que eu finalmente conseguisse convencer Kendall de que a amava e nunca a deixaria. Talvez apenas entregar meu corpo completamente para ela na cama não tenha sido o suficiente. Cada toque dela no meu corpo me fez querer vomitar. Eu costumava me divertir com Kendall, mas agora as coisas eram diferentes.

De fato, eu havia me apaixonado por Kylie. No começo, tudo era um jogo para seduzi-la. Admito que me divertia sempre que ela me rejeitava, e aquilo se tornou algo maior. Mas, pensando bem, eu lhe fiz um favor. Travis não prestava, era um completo babaca que, mesmo tendo uma mulher como Kylie, ainda assim a traiu. Fiquei presa em minha própria teia, estava apaixonada por Kylie e esse havia sido o meu maior erro, essa era primeira vez que me apaixonei as outras vezes eu apenas fiz o que tinha que ser feito e fui bem recompensada, essa era a minha função.

A culpa me corroía por dentro. Eu sabia que, se Kylie descobrisse a verdade, me odiaria para sempre. Não era só por ter manipulado Travis para me aproximar dela, mas por tudo o que havia acontecido desde então, eu dei a chance a Travis de ser fiel, mas ele escolheu ficar com a primeira garota que eu coloquei em sua frente. Por todas as mentiras e decepções. Se ao menos eu pudesse falar com ela, explicar o quanto as coisas tinham mudado, o quanto eu tinha mudado e o que estava disposta a fazer para tê-la ao meu lado.

Caminhei na ponta dos pés, tentando tomar cuidado para não escorregar nas roupas de Kendall espalhadas pelo chão. Cada rangido do chão parecia um trovão em meus ouvidos. A todo momento, olhava para trás para verificar se Kendall ainda dormia. Quando ela se remexeu sobre os lençóis, meu coração parou por um instante, mas ela voltou a dormir.

Quando finalmente alcancei a porta, agradeci aos deuses mentalmente. Ao girar o trinco, percebi que estava trancada. Mas que inferno! Era óbvio que Kendall não facilitaria as coisas, ela não daria um deslize desse a ponto de deixar a porta aberta. Maldita!

Virei-me lentamente e olhei para a calça de Kendall no chão. Peguei-a, procurando nos bolsos a chave. Enfiei as mãos no bolso da calça de alfaiataria, procurando as chaves. Meus dedos tremiam enquanto eu procurava. Quando finalmente senti o metal frio, um suspiro de alívio escapou de meus lábios.

Olhei para a cama e, quando Kendall se mexeu, meu coração quase saltou para fora do peito. Ela mudou de posição e continuou dormindo.

Aproximei-me da porta com cuidado e coloquei a chave na fechadura, girando-a lentamente para evitar qualquer barulho. A porta rangeu ao abrir. Fiquei paralisada de costas para Kendall, implorando mentalmente que ela não tivesse escutado.