When you know, you know

235 29 9
                                    

O barulho de seus saltos enquanto descia as escadas ecoou pela casa silenciosa. Kendall estava usando um vestido branco longo, elegante e refinado. O vestido tinha um decote em "V" suave e mangas bufantes que criavam volume nos ombros, com laços pretos contrastantes amarrados em cada ombro, adicionando um toque de delicadeza.

Ela estava tão delicada, quase angelical, seu olhar doce como eu estava acostumada a conhecer. Kendall tinha um sorriso genuíno nos lábios, havia um brilho especial em seus olhos. Eu a observava enquanto ela descia as escadas, seus passos leves descendo cada degrau.

Um suspiro escapou dos meus lábios; ela estava idêntica à antiga Kendall que um dia eu conheci, quando éramos adolescentes, aquela que se tornou a minha obsessão e meu maior pesadelo. Seu sorriso esperançoso naquela noite me feria de uma forma que ela jamais entenderia.

Eu sabia que não poderia continuar nesse ciclo doentio. Nós estávamos presas uma à outra por amarras invisíveis, correntes que se formaram ao longo dos anos, alimentadas por uma mistura de amor, ódio e dependência. Kendall nunca entenderia o que isso fazia comigo, como cada palavra sua me puxava mais fundo para um abismo de onde eu não conseguia escapar. Mas, naquele momento, eu finalmente tinha tomado uma decisão.

Ela finalmente se aproximou de mim, seus braços envolveram minha cintura em um abraço apertado. Senti seus lábios tocarem meus cabelos e ela sussurrar um "eu te amo" em meu ouvido, como se fosse um segredo.

Entrelacei nossas mãos, guiando-a em direção à cozinha. Conforme andávamos pelo corredor, o cheiro da comida começava a preencher o espaço. Kendall se sentou na cadeira e apoiou os cotovelos sobre a mesa, me encarando com um sorriso que foi retribuído por mim.

A modelo me observava terminar de cozinhar. Peguei os ingredientes de que precisaria para preparar nosso último jantar juntas. Kendall sempre adorou quando eu cozinhava; era uma das poucas formas de carinho que ela parecia valorizar de verdade. Virei-me para olhá-la, apenas para confirmar que Kendall estava com aquele belo sorriso no rosto, acreditando que estávamos prestes a recomeçar outra vez, como se tudo entre nós pudesse ser consertado.

Peguei uma faca e comecei a cortar os legumes, minha mente vagando pelas memórias de todos os anos que passamos juntas. Desde as primeiras noites de confissões, quando ainda éramos ingênuas, até os dias mais recentes, quando tudo se tornara uma batalha de controle e manipulação. No fundo, eu sabia que Kendall nunca me deixaria ir; ela nunca aceitaria minha liberdade para fora dessa maldita gaiola de ouro.

Mas agora, eu estava disposta a me libertar por conta própria.

O frasco de aconitum estava no fundo de uma gaveta, escondido entre utensílios que raramente eram usados. Aconitum, uma planta venenosa, também conhecida como "capuz de monge" ou "mata-lobos", era capaz de paralisar os músculos, mas sem causar dor imediata. O suficiente para deixá-la vulnerável, completamente à minha mercê.

Despejei algumas gotas no molho que acompanharia o prato principal, mexendo devagar e controlando a respiração, com todo o cuidado para que ela não notasse. O cheiro era imperceptível, o sabor quase inexistente. Não era uma dose letal; eu não queria matá-la. Isso seria fácil demais. Eu queria que ela sentisse o peso de cada uma de suas escolhas, que entendesse, finalmente, o que significava estar presa em uma gaiola, incapaz de escapar.

Assim como um dia ela tentou me matar com essa mesma substância. Lembro-me de tudo muito bem, da forma como fiquei agonizando no chão, achando que aquele seria meu fim, acabando morta no chão do apartamento na Itália.

Meus pensamentos foram interrompidos pela voz da modelo.

— O cheiro está incrível, amor.

Eu me virei lentamente, colocando o prato sobre a mesa e forçando um sorriso de volta.

𝐎𝐁𝐒𝐄𝐒𝐒𝐈𝐎𝐍| 𝐊𝐘𝐋𝐈𝐄 𝐉𝐄𝐍𝐍𝐄𝐑 Onde histórias criam vida. Descubra agora