Sakura
Não posso mentir que a discussão do dia anterior com Sasuke não me abalou.
Por mais afrontosa que eu seja, nunca pensaria em traí-lo dessa forma. Não sou o exemplo de mulher idônea, que defende a moral e os bons costumes, mas também não sou uma cobra, que morde a mão de quem me alimenta, no caso alguém que me defende. Tenho gratidão por aqueles que, de alguma forma, me ajudam. E Sasuke era um deles, mesmo com todas as ofensas e ameaças, eu tinha respeito e até um pouquinho de admiração por ele. Não teria motivos para fazer um complô contra ele, muito menos apoiar um homem como Yahiko.
Deve ser por isso que me senti tão mal durante toda a noite, e por isso não quis abrir a porta quando ele bateu pela manhã.
Quando percebi que estava sozinha, sai do quarto de hospedes ao qual eu me instalei na noite anterior, fui até a cozinha, encontrando um bilhete de Sasuke, informado que teria comida e dinheiro caso precisasse de alguma coisa e por último um aviso para que eu não saisse do apartamento, que pedisse aos homens que faziam a minha segurança, eles comprariam tudo que eu precisasse, era só pedir.
Suspirei entristecida.
Nem mesmo um "Sinto muito".
Mas o que eu estava esperando?
Tomei meu café e sentei na frente da tv, assistindo um filme qualquer, ao qual não me distraia, pois minha mente vagava para longe, para a minha vida e o que seria dela.
Voltar a boate era a minha única saída? Não gostaria que fosse.
Me perguntei se seria o caso de pedir a Sasuke uma ajuda para sair dessa vida, mas ele teria certeza de que eu tentei de alguma forma traí-lo por dinheiro. Bufei irritada. Ficar sozinha e enclausurada estava me matando, de dentro para fora.
Olhei para mim mesma, vestindo uma camisa de Sasuke, com o cabelo todo bagunçado e espetado, me lembrei que fazia dois dias que nem mesmo penteava os cabelos, não me exercitava e só comia bobagens. Tudo isso contribui para o meu desânimo.
Fiz uma lista de coisas que queria, eu precisava de roupas e outros itens de higiene pessoal. Vesti uma bermuda de Sasuke, uma bem ridícula por sinal, a qual eu tenho a impressão de que ele nunca usou e uma camiseta branca de algodão. Iria até a farmácia mais próxima e quem sabe um supermercado, compraria algumas frutas e itens de higiene e cosméticos. Gastaria até a última gota de dinheiro que Sasuke deixou sobre o balcão.
Abri a porta, um homem alto estava de costas para a porta, se assustou e olhou para mim, dos pés à cabeça, uma arma enorme em sua mão, as sobrancelhas cerradas assustadoramente.
- Precisa de alguma coisa, senhorita? - Perguntou com uma voz grossa e pouco paciente.
- Vou até a farmácia, comprar algumas coisinhas, eu volto logo. - Sai de dentro do apartamento e continuei caminhando, como se o segurança não fosse me impedir, como se ele não estivesse armado e como se ele não tivesse ordens expressas para não me deixar sair.
- Não vai não! - Ele me segurou pelo braço, com força, deixando minha pele vermelha. Puxei meu braço de volta, reclamando de dor.
- Eu vou onde eu quiser, seu troglodita, você não tem nada com isso! - Reclamei, falando alto.
- O senhor Uchiha disse para que você ficasse em casa, você não vai sair! - Com uma força brutal ele tentou me arrastar para dentro.
- Você está me machucando, seu brutamontes! - Eu achei que minha voz estava controlada, mas não, pois logo pude ouvir uma porta se abrindo e o olhar assustado do vizinho encarando a cena pela fresta. - Eu vou onde eu quiser!
- Escute aqui, sua vadia - Rosnou, a mão dele segurou meu rosto com força, bem perto dele, e agora eu sentia medo. - Você vai fazer exatamente como eu mandar. Vai entrar dentro desse apartamento e calar essa boca, se não quiser que eu te ensine boas maneiras.
- Está me machucando! - Tentei, em vão, empurrar a mão dele.
- Eu nem comecei a te machucar. E pode ter certeza, quando o Senhor Uchiha te descartar, vai descobrir que isso não é nada do que os homens da Organização vão fazer com você.
- Eu sou tão funcionária da Organização quanto vocês... - Minha voz saiu num miado.
- Não. Você não é! - Ele sorriu de um jeito assustador. - Você é descartável. E eu vou fazer questão de brincar com você antes de atirar na sua cabeça. - Eu conseguia sentir o hálito dele no meu rosto, meu corpo todo tremia de medo e meus olhos ardiam.
- E o que você vai fazer com ela, Chester? - O homem que fazia minha segurança estava tão assustadoramente perto que eu não percebi quando Sasuke chegou. Ele encarava a cena, com os braços cruzados e um olhar assustador. Atrás dele vinha os dois homens que sempre faziam sua proteção.
- Senhor, ela queria sair sozinha. - Agora era a vez dele sentir medo, o tal Chester me soltou rápido quando ouviu a voz do chefe, se colocou numa posição de sentido. Seu olhar no horizonte, queixo erguido, enquanto eu não os encarava, sentindo a raiva do que ele fez e disse me tomar, porém eu sabia que ele estava certo, o que me deixava com mais raiva ainda de Sasuke.
- E isso te deu o direito de ameaçá-la? - Chester negou com a cabeça, rápido, sua pele estava pálida, como se sua pressão tivesse caído abruptamente. - Juugo, acompanhe nosso "amigo", logo me juntarei a vocês para uma reunião. - Juugo era enorme, ruivo e mal encarado, mas diferente dos outros ele sempre foi respeitoso, e mesmo com a ordem de acompanhar Chester, ele apenas mostrou o caminho.
- Senhor eu não tive intenção de...
- Não me importo. - O tom desinteressado de Sasuke foi o suficiente para que ele se calasse e Juugo indicasse o corredor. Os dois sairam da nossa vista, enquanto o olhar irritado de Sasuke não desgrudava de mim. - Entre, vamos conversar!
Respirei fundo, eu não queria falar com ele, eu não tinha nada para dizer e nem mesmo queria ouvir. Por isso lhe dei as costas, entrei no apartamento caminhando o mais rápido que podia.
- Sakura! - Fiz questão de ignorar. - Volte aqui!
Continuei caminhando, porém agora mais devagar.
- Estou ordenando que você volte aqui! - Virei meu corpo de frente para ele. Tudo que o soldado disse veio a minha mente. Ele não mentiu, eu não sou nada para a Organização, sou descartável, então por que Sasuke está tão preocupado?
- VOCÊ NÃO MANDA EM MIM! Eu não sou nada para você!
- Sakura!
- Me deixe voltar para a minha vida, para o meu trabalho! Já sou humilhada o suficiente no Mermaid, eu não preciso de você me dizendo que sou uma traidora, ou um soldado qualquer dizendo que sou como comida de cachorro. Então para com essa encenação e me deixe ir embora daqui!
- Não! - Gritou, impaciente. - Você não vai a lugar nenhum.
- Eu não sou sua prisioneira. Sou livre, até onde eu sei, e se não for mais, me diga, eu dou um jeito de pagar a minha divida, a minha liberdade! - Nós dois estavamos alterados, a raiva parecia irradiar por todos os meus poros e na respiração do Executor.
- Você vai ficar aqui até que eu deixe que vá. Não vai voltar para aquela espelunca nunca mais!
- E vou fazer o que? - Perguntei irônica, rindo, ridicularizando. - Morar aqui com você, Senhor Uchiha? Não seja ridiculo.
- Você não vai mais voltar para aquela porra de lugar, eu vou arrumar um lugar para você morar.
Por mais raivosa que eu estivesse, a esperança acendeu uma fagulha em meu peito. Não me prostituir mais, não morar mais num quarto pequeno e fétido, deixar tudo do meu jeito. É um sonho distante, quase impossivel, e eu pagaria o que fosse para ter essa liberdade, mas logo a realidade me atingiu: Como eu pagaria por isso?
Da única forma que eu poderia...
E provavelmente eu não serviria apenas ao Uchiha, obviamente que não. Não vai demorar o dia em que ele vai arrumar uma noiva de verdade e pela Organização ele não deve manter uma amante, eu terei que servir soldados, exatamente como Chester disse. Eu não queria isso,
Meus ombros pesaram e meus olhos lacrimejaram e sem querer comecei a chorar na frente dele.
- Eu não vou ser sua escrava, a troco de uma casa e nem nada do tipo! - Rosnei irritada.
- Você não... - Não terminei de ouvir, apenas entrei no quarto, batendo a porta, trancando. Me dando o direito de chorar.🌸 🧜
Depois quase derreter, de novo, por esse imbecil, e dormir feito uma desgraçada eu acordei de madrugada, sentindo como se um caminhão tivesse me atropelado, meus olhos ardiam e meu coração batia descompassado.
Abri a porta de correr da sacada, observando a lua redonda e brilhante no céu, tão linda. Quando eu era criança me lembro de confessar meus desejos a ela, como se fosse atender meus pedidos infantis de brinquedos como das minhas amiguinhas da rua ou um dia tranquilo na minha casa.
De fato, nunca fui atendida, e depois que cresci parei de acreditar. Por isso nessa noite não fiz nenhum pedido. Apenas observei.
Fui até a cozinha para comer alguma coisa, estava faminta, mas me recusei a sair de dentro desse quarto, de olhar para Sasuke. Respirei fundo revivendo tudo que aconteceu, tentando pensar num meio de ir embora daqui. Para bem longe desse brutamontes e de toda essa confusão.
Sair agora de madrugada seria o ideal, pois eu tenho certeza de que não há ninguém no corredor, Sasuke é arrogante demais para ter proteção pessoal, tenho certeza de que ele acha que pode se proteger sozinho. Na verdade nem duvido disso, e para mim, essa arrogância seria uma vantagem.
Olhei no corredor vazio, o silencio sepulcral, nem mesmo o vento soprava do lado de fora.
Passo a passo eu caminhei para a porta, notei que estava trancada e que deveria haver uma chave em algum lugar, e de fato ela estava em um pote no aparador, porém haviam varias e eu teria que testar todas. Revirei os olhos, pois isso além de tomar tempo, também faria barulho e o "Senhor Cão de Guarda" poderia ouvir. peguei o primeiro molho, que me pareceu o mais comum e enfiei a chave na fechadura bem devagar. O som raspando parecia ser extremamente alto, mesmo sendo feito com o máximo de cautela.
Com a chave encaixada, verifiquei se Sasuke continuava ressonando no quarto dele, voltei para minha fuga, virando a fechadura, bem devagar, até o "click", comemorei em silêncio por ter acertado de primeira, a sorte estava a meu favor, isso só poderia ser um sinal.
Mais uma vez verifiquei se meu anfitrião não tinha acordado, e confirmado no silêncio, virei a maçaneta, sentindo a liberdade na ponta dos meus dedos.
- Onde você pensa que vai? - A voz arrastada, mal humorada e raivosa me assustou ao mesmo tempo em que a porta bateu. Foi como se Sasuke tivesse saído do buraco da fechadura enquanto eu comemorava previamente.
- Eu vou embora! - Respondo contrariada.
- Você não vai. Você fica aqui! Sakura, você não entende!
- O que eu não entendo, Sasuke? Que eu sou sua prisioneira? que você me considera uma traidora? que quando eu menos esperar acordarei morta nessa porra desse apartamento?
- Eles estão atrás de você!
- Eles quem, seu idiota!? Você matou todo mundo, não sobrou ninguém, só me deixa voltar para a minha vida, viver em paz!
- Eu não matei nem dez por cento da Akatsuki. - Me calo, sem uma resposta, sem entender o que a Akatsuki pode querer comigo. - Yahiko era apenas o subchefe da organização. Eles querem vingança.
- E o que eu significo para eles? - Solto uma risada anasalada, incredula. - Apenas me deixe ir, eu prometo ficar longe de problemas...
Meus olhos estão fixos nos de Sasuke, mesmo que ele seja mais alto, eu preciso ir embora daqui, estou cansada de ter meu coração machucado por ele.
- Volte para o seu quarto. Lá você estará segura. - Sussurrou baixinho, fazendo meus pelos da nuca se eriçarem.
- Segura de quem? - Me aproximo um pouco, eu prometi ficar longe dele, mas não consigo, é como se eu fosse uma mariposa atraída pela luz de Sasuke. Porém ele é uma armadilha e sei que morrerei se tocá-lo.
- De todos, inclusive de mim. - Sinto meus seios enrijecerem e sei que ele percebeu, pois seu olhar esta fixo para baixo. Ele umedece os lábios, confirmando que ele sente o mesmo que eu nesse momento.
Tesão contido.
- Você é perigoso para mim?
- Não brinque com fogo, Sakura...
- Eu sou uma sereia, não posso brincar com fogo... - Nossas vozes estão tão baixas e sussurradas que parece que a casa está lotada de pessoas dormindo e que precisamos fazer extremo silêncio. Minha mão toca o peitoral dele, forte, rígido, consigo perceber que ele está arrepiado e ofegante. - Quer brincar comigo, Sasuke?
- Não! - Ele responde abruptamente e se afasta. - Coma alguma coisa e volta para o seu quarto.
Tranca a porta, vira as costas e volta para o quarto dele, levando a chave consigo.
- Maldito Uchiha! - Resmungo totalmente sozinha e queimando de raiva e de tesão. - Isso não vai ficar assim! Mas não vai mesmo!
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Mermaid- A sereia e o mafioso
RomanceSasuke Uchiha, o executor da Organização Amaterasu, decide se divertir em uma boate que ele não conhece, a Mermaid, onde garotas se apresentam em danças sensuais, entre outros serviços, e é nessa noite que ele conhece a sereia mais arrogante e malcr...