Capítulo 9 - Um novo início:

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P.O.V – Narradora:

Os primeiros dias de trabalho foram, como o Gabriel prometera, relativamente suaves. A Isa foi rapidamente integrada ao ambiente, passando as manhãs a aprender sobre os processos e as expectativas da empresa. O Gabriel fazia questão de lhe dar uma atenção especial, conduzindo-a através das tarefas e explicando detalhes com paciência. O seu papel exigia foco, mas, até ao momento, ainda não lhe haviam atribuído nada particularmente desafiador.

O Leo, por outro lado, foi apresentado à equipa de segurança. A experiência dele, ainda que sólida, era em campos diferentes, mas a transição estava a ser feita de forma gradual. Os colegas foram recetivos, e ele começou a aprender sobre os procedimentos e protocolos internos. Havia muito o que assimilar, mas a atmosfera na empresa era de cooperação e de apoio mútuo.

Nos primeiros dias, a Isa e o Leo voltavam para casa cada vez mais confiantes. O trabalho, mesmo sendo novo e desafiador, oferecia-lhes um sentido de propósito que há muito procuravam. O ritmo calmo dos primeiros dias permitiu que ajustassem-se ao novo ambiente e às responsabilidades sem sentir demasiada pressão.

Entretanto, havia um subtexto constante na mente da Isa, uma sombra que pairava sobre as suas decisões. A doença que ela tentava esconder do mundo, aquela que ameaçava mudar tudo, estava sempre presente. Por mais que tentasse concentrar-se no trabalho, a realidade da sua condição era inescapável.

Na segunda semana, essa realidade tornou-se ainda mais palpável. O Gabriel, que estava ciente da situação da Isa desde o início, manteve-se discreto, mas atento. Ele sabia que precisavam lidar com isso de frente.

- Isa, tens um compromisso importante amanhã, lembra-te. - disse o Gabriel ao final de um dia, com um tom suave que não deixava espaço para mal-entendidos.

A Isa assentiu, sabendo que não podia adiar o inevitável. Ela sabia que a consulta médica era crucial, o primeiro passo para entender o que vinha pela frente.

Na manhã seguinte, o nervosismo estava estampado no rosto da Isa, embora tentasse disfarçá-lo. O Gabriel percebeu e fez questão de acompanhá-la ao hospital. Era um gesto de apoio, uma forma de dizer que ela não estava sozinha nessa batalha.

Chegaram ao hospital cedo, antes da multidão de pacientes começar a encher as salas de espera. A Isa sentou-se numa cadeira fria de metal, com as mãos entrelaçadas no colo, enquanto o Gabriel preenchia os formulários necessários. A espera parecia interminável, mas finalmente foram chamados.

O médico, um homem de meia-idade com um semblante sereno, recebeu-os no consultório. Ele olhou para Isa com uma expressão que misturava compaixão e profissionalismo.

- Senhora Isa, pelo que vejo no seu histórico, temos muito o que discutir. Mas antes, quero que saiba que estamos aqui para ajudá-la, de todas as formas possíveis.

A Isa engoliu em seco, sentindo o peso das palavras do médico. O Gabriel, ao seu lado, permaneceu em silêncio, mas a presença dele era como uma âncora.

A consulta durou mais de uma hora. O médico explicou os detalhes do tratamento, os possíveis efeitos colaterais, e o que ela poderia esperar nos próximos meses. A Isa fez perguntas, algumas hesitantes, outras diretas, tentando absorver cada detalhe. A informação era esmagadora, mas também trazia um estranho conforto saber o que estava por vir.

Quando finalmente saíram do consultório, a Isa sentia-se esgotada, mas ao mesmo tempo mais preparada. O caminho de volta ao trabalho foi silencioso, mas não desconfortável. O Gabriel respeitou o espaço dela, apenas deixando claro que estaria ali para o que fosse necessário.

No dia seguinte, a Isa voltou ao trabalho. Havia uma nova determinação nela. Apesar dos desafios que viriam, ela decidiu que não deixaria a doença definir os seus dias. Havia um trabalho a fazer, uma nova vida a construir, e ela estava determinada a seguir em frente.

O Leo, ao vê-la de volta, percebeu a mudança. Aproximou-se dela durante a pausa para o café.

- Como correu? - perguntou ele, com uma expressão de preocupação.

A Isa sorriu, um sorriso pequeno mas genuíno.

- Foi difícil, mas acho que estou pronta, Leo. Para o que der e vier.

O Leo acenou, compreendendo a profundidade daquelas palavras. Ele sabia que a travessia seria longa e árdua, mas ao lado da Isa, sentia-se pronto para qualquer coisa.

E assim, o trabalho recomeçou, com a Isa e o Leo a enfrentar cada dia com uma renovada força. Sabiam que o futuro era incerto, mas estavam determinados a seguir em frente, juntos. Cada passo, por mais difícil que fosse, era um passo em direção ao desconhecido, mas também, talvez, a um futuro melhor.

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