Capítulo 16 - O peso da presença:

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P.O.V – Narradora:

Depois do sequestro e da primeira sessão de tratamento, a rotina do Gabriel e da Isa mudou drasticamente. O Gabriel, que sempre manteve-se distante e focado no trabalho, começou a passar mais tempo ao lado da Isa, acompanhando-a nas consultas médicas, garantindo que ela estava confortável e segura. O homem que antes parecia duro, quase impenetrável, começava a mostrar um lado mais humano, vulnerável até.

A Isa, por sua vez, estava a lidar com uma batalha interna. Além do peso físico do tratamento, havia o impacto emocional de tudo o que tinha passado. Contudo, a presença constante do Gabriel começava a ser uma fonte inesperada de força. Ele estava sempre ali, firme, oferecendo apoio de uma maneira silenciosa, mas poderosa. Não diziam muito um ao outro sobre o que sentiam, mas algo mudava entre eles. As horas que passavam juntos criavam uma intimidade diferente, um elo que não existia antes.

Certo dia, o Gabriel apareceu no apartamento da Isa com um saco de compras. Ela estava deitada no sofá, recuperando da última sessão de tratamento. Ao vê-lo, sorriu, mas havia um cansaço nos seus olhos que ele reconhecia. Sem dizer nada, ele começou a tirar os ingredientes das sacolas e foi direto para a cozinha.

- Não precisas fazer isso, Gabriel! – disse a Isa, com uma voz suave, mas ele apenas a ignorou com um sorriso de canto.

- Hoje é o meu dia de cuidar de ti. - respondeu ele, enquanto começava a preparar uma refeição simples.

A Isa riu, uma risada fraca, mas genuína.

- Desde quando tu sabes cozinhar? - provocou, levantando uma sobrancelha.

- Desde que decidi que precisava impressionar uma certa pessoa! - respondeu ele, a brincar, mas havia uma verdade escondida nas palavras. A Isa percebeu, mas preferiu não comentar. Havia algo reconfortante naquele novo Gabriel que começava a revelar-se, e ela não queria arruinar o momento com perguntas ou inseguranças.

Enquanto ele cozinhava, a Isa observava-o em silêncio. Ver o Gabriel tão relaxado, concentrado em algo tão simples como uma refeição, era quase surreal. Estava habituada ao Gabriel implacável, o homem que liderava com mãos de ferro e cuja reputação deixava todos à sua volta em guarda. Mas agora, ele estava ali, numa cozinha pequena, a preparar algo para ela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Depois de algum tempo, ele trouxe dois pratos e colocou-os na mesa da sala. Sentaram-se juntos, em silêncio, enquanto comiam. Isa ainda estava fraca, mas a comida caseira trouxe-lhe algum conforto.

- Isto está surpreendentemente bom! - disse ela, com um sorriso suave.

- Não precisas parecer tão surpresa! - brincou ele, mas o sorriso que lhe deu era sincero, os olhos mais suaves do que Isa estava habituada a ver.

Conforme o jantar terminava, o silêncio entre os dois tornou-se mais profundo, mas não desconfortável. Sentiam-se à vontade na companhia um do outro. O Gabriel olhou para ela por alguns segundos antes de finalmente falar, a voz baixa, quase como se estivesse a confessar algo que vinha a guardar há muito tempo.

- Contigo sou uma pessoa melhor.

A Isa levantou os olhos, surpresa. Não era comum o Gabriel ser tão vulnerável. Ele sempre fora direto, mas nunca deixava que os seus verdadeiros sentimentos transparecessem dessa maneira. A confissão apanhou-a desprevenida.

- O quê? - murmurou, tentando processar o que ele acabara de dizer.

- Contigo, sou uma pessoa melhor! - repetiu ele, desta vez mais firme, como se quisesse ter a certeza de que ela realmente entendesse. - Não sei bem o que mudou, mas desde que começaste a fazer parte da minha vida... percebi que não posso ser o homem que era. Contigo, tenho vontade de ser... diferente. Melhor.

A Isa ficou em silêncio, os olhos fixos nos dele, sentindo o peso das palavras. Sabia que o Gabriel não era um homem de fazer esse tipo de confissões levianamente. Ele sempre escondia-se atrás da sua fachada implacável, da força e do controlo. Mas agora, ali, ele estava a abrir uma parte de si que ela nunca tinha visto antes.

- Gabriel... - começou ela, com a voz trémula. - Não sei o que dizer...

- Não precisas dizer nada. Só quero que saibas que, por mais que eu tente lutar contra isso... tu mudaste a minha vida de um jeito que eu nunca imaginei que fosse possível. - Ele baixou os olhos, a voz quase a falhar no fim. - Eu não sei como seria agora sem ti.

A Isa sentiu as lágrimas começarem a formarem-se nos olhos. Aquela confissão, vinda de alguém como o Gabriel, era mais do que ela jamais esperou. E apesar de tudo — do seu passado sombrio, das suas falhas e das escolhas — ela sabia que ele estava a ser sincero.

Ela estendeu a mão e pousou-a sobre a dele, um gesto pequeno, mas cheio de significado.

- Eu não vou a lugar nenhum, Gabriel. Estamos nisto juntos. Seja lá o que isto for.

O Gabriel apertou a mão dela de volta, o coração dele acelerado. Havia algo naquele momento, naquela troca simples, que parecia muito mais do que apenas palavras. Era uma promessa silenciosa entre os dois. Uma promessa de que, não importa o que viesse pela frente, estariam ali um para o outro.

O silêncio voltou a preencher a sala, mas desta vez, era um silêncio carregado de compreensão. O Gabriel sabia que ainda havia muito que enfrentar — o passado dele, o tratamento de Isa, os segredos que ainda pairavam entre eles — mas, pela primeira vez, ele sentia que tinha algo pelo que lutar, algo que valia a pena.

E, com a Isa ao seu lado, ele estava disposto a ser o homem que nunca achou que pudesse ser.

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