Meses se passaram desde a morte da Isa. A dor, inicialmente sufocante, começou a transformar-se num vazio silencioso que parecia se infiltrar em cada canto da vida do Gabriel. O apartamento, antes cheio de vida, com a presença da Isa a preencher cada espaço, agora estava desprovido de qualquer calor. O som do riso dela, a forma como ela iluminava o ambiente com a sua força e determinação, tudo se fora. E com isso, o Gabriel sentia que uma parte dele também tinha morrido.
Ele já não conseguia voltar ao que fora antes. O trabalho, que sempre lhe dera sentido, parecia irrelevante agora. Todas as operações, os negócios, as tramas perigosas — tudo isso perdia o significado sem a Isa ao seu lado. A vida que ele conhecera, o homem que ele fora, parecia desmoronar lentamente, e o Gabriel deixava-se afundar naquela escuridão, porque, no fundo, não via razão para resistir.
O Leo também mudara. A perda da Isa destruíra algo dentro dele, algo que o Gabriel sabia que nunca mais voltaria a ser como antes. O luto aproximara-os de uma maneira silenciosa e amarga. Havia um entendimento entre os dois — ambos amaram a Isa de maneiras diferentes, e agora, partilhavam a dor de tê-la perdido para sempre.
O Gabriel frequentemente pegava-se a pensar na última vez que vira a Isa viva, no brilho nos olhos dela enquanto enfrentava tudo com coragem. Era isso que mais lhe doía: o fato da Isa ser uma lutadora até o fim. Mesmo diante da morte, ela não havia se rendido. E ele sabia que, se dependesse dela, teria lutado para ficar ao seu lado o máximo que pudesse.
Um dia, enquanto estava sentado no banco de um parque onde ele e a Isa costumavam caminhar, a Clara apareceu. A mãe adotiva da Isa, tão despedaçada quanto ele, aproximou-se lentamente, o olhar cansado. Eles não tinham falado muito desde o funeral, mas não precisavam. O luto era algo que ambos compreendiam, uma linguagem não dita que os unia.
- Ela teria odiado ver-te assim! - Clara disse, sentando-se ao lado dele, o olhar fixo nas árvores à frente. - Tu sabes disso, não sabes?
O Gabriel permaneceu em silêncio, as palavras presas na garganta.
- Ela sempre acreditou em ti, Gabriel. Mesmo quando tu não acreditavas. Ela viu algo em ti que ninguém mais viu.
Ele respirou fundo, lutando contra o nó na garganta. Sabia que a Clara estava certa. A Isa tinha visto nele algo mais, algo que o mundo — e talvez até ele mesmo — nunca vira. Ela o fizera querer ser uma pessoa melhor, uma versão dele que ele nunca pensara ser possível. Mas agora, sem ela, essa parte dele parecia perdida.
- Não sei se consigo, Clara. - disse ele, a voz rouca. - Não sem ela.
Clara pousou uma mão no ombro dele, o toque dela leve, mas firme.
- A Isa não gostaria que tu te perdesses assim. Ela nunca deixou de lutar, mesmo nos piores momentos. Não deixes que a tua dor te destrua. Honra-a vivendo.
As palavras da Clara ficaram com o Gabriel por dias. Ele sabia que a Isa teria odiado vê-lo afundar-se. Ela era a força, coragem e luz, mesmo nas trevas. E, por mais que a dor fosse esmagadora, ele não podia ignorar o que a Isa tinha deixado para trás. A sua memória não podia ser enterrada junto com a sua dor.
Algum tempo depois, o Gabriel decidiu que era hora de se despedir da maneira certa. Foi até o lugar onde Isa fora enterrada. O vento soprava suavemente entre as árvores, e o silêncio do cemitério envolveu-o. Ele ajoelhou-se diante da lápide dela, as mãos trêmulas.
- Eu te amei... - sussurrou, as palavras finalmente a saírem depois de tanto tempo reprimidas. - E ainda te amo. Sempre vou amar.
Deixou-se ficar ali por horas, a falar com a Isa como se ela ainda estivesse ali, partilhando tudo o que não teve a oportunidade de dizer. E, ao final daquele dia, algo mudou dentro do Gabriel. A dor ainda estava lá, mas havia algo mais agora. Uma determinação. Ele sabia que nunca deixaria de sentir falta da Isa, mas também sabia que tinha de honrá-la continuando. Viver seria a sua forma de manter a Isa viva dentro dele.
Nos meses que seguiram-se, o Gabriel não voltou a ser o homem que fora antes de conhecer a Isa. Ele tornou-se algo diferente. Ainda forte, ainda perigoso, mas com um coração que agora sabia o que era amar e perder. E, embora tivesse perdido muito, ele também carregava com ele o que a Isa o ensinara — que, mesmo nos momentos mais sombrios, sempre há luz. E, por ela, ele encontrou forças para continuar.
A Isa tinha mudado a sua vida para sempre. E, de alguma forma, mesmo após a sua morte, ela continuava a guiá-lo.
No final, ele era um homem que, por mais quebrado que estivesse, escolhera continuar a caminhar. Porque, ao fazê-lo, ele mantinha a memória dela viva — e essa era a sua forma de nunca a deixar ir completamente.
Assim, enquanto o mundo continuava a girar, o Gabriel caminhava, sabendo que a Isa sempre estaria com ele, onde quer que fosse.
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Segredos e paixões.
RomanceSegredos e Paixões: No silêncio da noite, onde os segredos são sussurrados pelo vento e paixões inflamam-se como estrelas cadentes, reside um mundo de mistérios e desejos. Cada segredo guarda em si uma história, e cada paixão, um fogo que arde no co...