Capítulo 18 - O primeiro beijo:

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P.O.V – Narradora:

Os meses passaram num misto de incertezas e reconstrução. A Isa recuperava aos poucos do trauma do sequestro e, ainda que o tratamento para a sua doença continuasse a ser uma constante, ela estava mais forte. O apoio do Gabriel era uma âncora que a ajudava a seguir em frente. Apesar das sombras que envolviam o passado dele e a sua vida, havia algo novo que crescia entre os dois. Algo que nem ela conseguia negar.

A Isa recebia uma mensagem do Gabriel naquela tarde. Era um convite simples, mas carregado de significado.

"Encontra-me no restaurante perto do rio, às oito. Preciso de falar contigo."

Ela ficou intrigada, mas não questionou. Já se habituara às formas discretas e misteriosas do Gabriel. O restaurante que ele mencionara era o mesmo onde, alguns meses antes, tinham tido um jantar importante, quando as suas interações ainda eram distantes e formais. Agora, tudo era diferente. O tempo que passavam juntos havia construído uma intimidade que ambos sentiam, mas nenhum ousava abordar diretamente.

Às oito em ponto, a Isa chegou ao restaurante, vestida de maneira simples, mas elegante. Quando entrou, viu o Gabriel já sentado à mesa, a olhar para a janela com o rio ao fundo. Ele vestia um terno escuro, como sempre, a sua postura firme e controlada, mas havia uma suavidade nos olhos que ela notava cada vez mais.

Ele levantou-se quando a viu e sorriu de uma forma que ela raramente via — um sorriso que parecia genuíno, longe das tensões que normalmente carregava.

- Chegaste! - disse ele, a voz calma, mas com um certo nervosismo subjacente que ela percebeu imediatamente.

- Claro! - respondeu ela, sentando-se à frente dele. - O que querias falar?

O Gabriel fez um sinal ao garçom, pedindo vinho para os dois. Depois de servidos, ele voltou a focar a atenção nela. Por um momento, não disse nada, apenas a observou. A Isa sentiu o olhar dele a perfurar a sua alma, e uma onda de ansiedade subiu-lhe à garganta.

- Isa. - começou ele, com a voz firme. - Eu não sou um homem que fala sobre sentimentos com facilidade. Nunca fui.

A Isa inclinou-se ligeiramente para a frente, curiosa e apreensiva ao mesmo tempo. Algo dentro dela sabia que aquela conversa não era como as outras que já haviam tido.

- Eu sei. - disse ela suavemente, dando-lhe espaço para continuar.

Ele respirou fundo, os dedos a brincarem levemente com a taça de vinho, um gesto que Isa reconhecia como nervosismo — algo que raramente via no Gabriel.

- Nos últimos meses, aconteceu algo que eu não esperava. Eu sempre fui um homem que controlava tudo. Nada nem ninguém entrava no meu espaço, nas minhas emoções, porque sempre foi mais fácil assim. Mais seguro. - Ele pausou, olhando-a nos olhos. - Mas contigo... não foi assim. E, por mais que eu tentasse resistir... acabei por perder esta luta.

A Isa prendeu a respiração. Sentiu o coração acelerar, a ansiedade a misturar-se com uma excitação que começava a crescer dentro dela. O Gabriel, tão firme e inquebrável, estava a falar de algo que ela não ousava acreditar até aquele momento.

- Gabriel... - murmurou, sem saber ao certo o que dizer.

Ele interrompeu-a, levantando ligeiramente a mão, como se precisasse de dizer aquilo de uma vez por todas.

- O que quero dizer é que estou apaixonado por ti, Isa. Não sei quando aconteceu, mas sei que agora é impossível ignorar. - Ele fez uma pausa, os olhos a fixarem-se intensamente nos dela. - Não consigo imaginar a minha vida sem ti. E pela primeira vez em muito tempo, quero mais. Quero algo que eu nunca achei que fosse possível para alguém como eu.

A Isa sentiu o mundo parar. As palavras dele ecoavam dentro dela, e embora soubesse que havia algo entre os dois, ouvir ele admitir isso, tão diretamente, tão vulneravelmente, era mais do que ela esperava.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, tentando encontrar as palavras certas, mas não havia como disfarçar o que sentia. O seu coração já estava entregue há algum tempo, e naquele momento, todas as dúvidas desapareceram.

- Eu... — começou, hesitante, mas logo os seus lábios curvaram-se num sorriso suave. - Eu também estou apaixonada por ti, Gabriel.

Os olhos dele suavizaram ao ouvir as suas palavras, e por um momento, o homem inabalável à sua frente pareceu respirar aliviado, como se tivesse esperado por aquela resposta durante uma eternidade.

- Sempre achei que fosse impossível... - murmurou ela, a voz entrecortada pela emoção. - Mas, por mais que tente lutar contra isso, a verdade é que sinto o mesmo. És mais do que eu imaginava, Gabriel. E, de alguma forma, tornaste-te alguém essencial na minha vida.

O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Era um silêncio carregado de emoções, de compreensão mútua. Então, o Gabriel levantou-se lentamente e aproximou-se dela, sem desviar o olhar. A Isa ficou de pé, e ambos ficaram a poucos centímetros um do outro, o ar à volta deles cheio de eletricidade.

O Gabriel ergueu uma mão e tocou delicadamente o rosto dela, os dedos acariciando-lhe a pele com uma ternura que ela não sabia que ele possuía.

- Tu fazes-me querer ser melhor, Isa. - disse ele, num murmúrio quase inaudível.

A Isa olhou para ele, os olhos brilhando com a emoção que já não conseguia conter. E antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Gabriel inclinou-se para a frente, e os seus lábios tocaram os dela.

O primeiro beijo foi suave, hesitante, como se ambos estivessem a testar a profundidade daquilo que sentiam. Mas rapidamente a hesitação desapareceu, e o beijo tornou-se mais intenso, mais profundo, carregado de todo o desejo que haviam guardado durante tanto tempo.

Quando finalmente afastaram-se, ambos respiravam pesadamente, os corações a bater descompassados.

- Isto... - sussurrou a Isa, com um sorriso suave nos lábios. - é só o começo, não é?

O Gabriel sorriu, aquele sorriso raro que ela tanto amava, e puxou-a para mais perto.

- Sim! - respondeu ele. - Só o começo.

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