P.O.V – Narradora:
O mês havia passado como uma tortura lenta para o Gabriel. Cada dia era mais pesado que o anterior, com a incerteza e o medo a corroer o seu interior. O silêncio dos sequestradores, a ausência de qualquer contato ou demanda, era um jogo psicológico impiedoso. A tensão estava a um ponto de ruptura. Ele havia mobilizado todas as suas conexões para tentar encontrar a Isa, mas parecia que ela havia sido engolida pela escuridão.
O Leo estava igualmente perturbado, mas ele nunca parou de procurar. Enquanto o Gabriel mantinha uma rede de informantes à procura, o Leo fazia um trabalho de campo minucioso. Usava todos os contatos que tinha no submundo, procurava pistas em cada canto, e nunca desistiu. A dor de perder a Isa era insuportável para ambos, mas mantinha-os unidos de uma forma que nenhum dos dois jamais imaginou.
Foi no final daquela manhã, depois de um mês de buscas infrutíferas, que o Gabriel finalmente recebeu a chamada que tanto temia e, ao mesmo tempo, esperava.
O telefone tocou, e o Gabriel atendeu imediatamente, sentindo o sangue pulsar com força.
- Gabriel! - disse a voz familiar e fria do outro lado. - Está na hora. Queremos o dinheiro, mas com uma condição. Não haverá trocas imediatas. Queremos o dinheiro num local específico, e depois... veremos.
- Vocês disseram que fariam a troca. Não vou pagar sem a Isa! – gritou o Gabriel, o controlo a esvair-se.
A voz do sequestrador riu baixinho.
- Este não é o teu jogo, Gabriel. Tu vais seguir as nossas regras, ou nunca mais a vês. Amanhã, às oito da noite. O endereço será enviado. Prepare-te.
A linha desligou-se, deixando o Gabriel num silêncio ensurdecedor. Ele estava pronto para agir, mas a frustração de saber que não teria a Isa de volta de imediato o corroía por dentro. Enquanto isso, precisava contar a Leo o que havia acontecido.
Antes que pudesse pegar no telefone para ligar para o Leo, recebeu uma mensagem inesperada. Era dele. Uma mensagem curta, mas que o fez parar.
"Encontrei-a."
O Gabriel olhou para a mensagem com descrença por alguns segundos antes de pegar nas chaves e sair a correr. Não podia perder mais um segundo. Ele não sabia como ou onde o Leo a tinha encontrado, mas a urgência no coração dele acelerava a cada passo.
O Leo estava ao lado da Isa, que ainda parecia incrivelmente fraca e assustada, mas estava viva. Ele havia conseguido rastrear um grupo pequeno de capangas, que a mantinham num armazém longe do centro da cidade, um local tão discreto que passou despercebido por semanas. Quando a encontrou, ela estava ferida, mas não gravemente. O mais preocupante era o seu estado emocional e físico; os dias de cativeiro tinham a deixado frágil.
Quando o Gabriel chegou ao local, viu o Leo junto à Isa, que estava sentada num canto, com a cabeça baixa. O alívio misturava-se com a culpa e a raiva. A visão dela, tão vulnerável, fez o coração dele apertar. Aproximou-se, mas parou a uma curta distância, sem saber como aproximar-se naquele momento delicado.
- Isa... - murmurou Gabriel, a voz rouca de emoção.
Ela levantou o olhar lentamente, os olhos dela encontrando os dele com uma mistura de alívio e dor. O Gabriel ajoelhou-se ao lado dela, pegando a mão dela com cuidado. Ela estava tão frágil, e a raiva por ter sido incapaz de protegê-la queimava dentro dele.
- Desculpa. Eu falhei contigo! - sussurrou ele, apertando a mão dela.
A Isa balançou a cabeça, os olhos cheios de lágrimas, mas ainda com uma força silenciosa.
- Não falhaste... estou aqui... graças a ti e ao Leo.
O olhar do Gabriel cruzou-se com o do Leo por um momento. Havia uma conexão silenciosa, um respeito que, apesar de toda a rivalidade e tensão, estava ali agora. O Leo havia feito o que Gabriel não pôde, e por isso, ele estava grato.
- Precisamos tirá-la daqui! - disse Leo. - Ela tem a primeira sessão de tratamento marcada para hoje. Não podemos esperar mais.
O Gabriel assentiu, sabendo o quão crucial aquele tratamento era para a Isa. Ela tinha esperado semanas por aquilo, e a saúde dela já estava comprometida por causa do sequestro. Eles precisavam agir rápido.
O hospital era um contraste total com o ambiente de escuridão do cativeiro. As paredes brancas, o cheiro de desinfetante e o som suave dos monitores traziam uma sensação de segurança e esperança. A Isa estava deitada numa cama, pronta para iniciar a primeira sessão do tratamento. A sala de tratamento era pequena, com luzes suaves e uma sensação de tranquilidade, mas o Gabriel não conseguia relaxar.
Ao lado dela, o Gabriel e a Leo observavam enquanto a equipa médica preparava tudo. A Isa estava nervosa, mas havia uma determinação nos seus olhos que não existia antes. Por mais debilitada que estivesse, a Isa não se deixaria vencer pela doença ou pelas cicatrizes do sequestro.
Quando a primeira gota do medicamento entrou na veia dela, ela olhou para os dois homens à sua frente, e algo nos olhos dela mudou. Havia gratidão, mas também força. Ela sabia que, apesar de tudo, tinha uma luta pela frente — e não era só contra a doença. Era pela vida, pela liberdade de ser quem era.
O Gabriel olhou para o Leo, o homem que ele sempre considerou seu rival. Agora, sentia um respeito profundo. O Leo havia sido essencial para encontrar a Isa, e durante todo esse processo, ele havia mostrado um lado que o Gabriel nunca imaginou: leal, corajoso e implacável quando necessário.
- Obrigado! – murmurou o Gabriel, sem conseguir evitar. A palavra parecia inadequada, mas era tudo o que ele tinha.
O Leo assentiu, os olhos fixos na Isa.
- Eu faria qualquer coisa por ela! - respondeu Leo, sem desviar o olhar. - E tu também.
Os dois homens ficaram em silêncio enquanto a Isa recebia o tratamento. O passado sombrio do Gabriel e as diferenças entre eles ainda existiam, mas, naquele momento, ambos sabiam que tinham uma missão comum: proteger a Isa, custe o que custasse.
Enquanto a primeira sessão prosseguia, o Gabriel sentiu que, apesar de todas as feridas que o destino lhes infligira, aquele era o início de algo novo. Isa estava a iniciar a sua batalha mais difícil, mas não estava sozinha. E o Gabriel sabia, pela primeira vez em muito tempo, que tinha algo pelo qual lutar que valia todos os sacrifícios.
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Segredos e paixões.
RomanceSegredos e Paixões: No silêncio da noite, onde os segredos são sussurrados pelo vento e paixões inflamam-se como estrelas cadentes, reside um mundo de mistérios e desejos. Cada segredo guarda em si uma história, e cada paixão, um fogo que arde no co...