Capítulo 15 - O resgate e o Início do Fim

10 4 12
                                    

P.O.V – Narradora:

O mês havia passado como uma tortura lenta para o Gabriel. Cada dia era mais pesado que o anterior, com a incerteza e o medo a corroer o seu interior. O silêncio dos sequestradores, a ausência de qualquer contato ou demanda, era um jogo psicológico impiedoso. A tensão estava a um ponto de ruptura. Ele havia mobilizado todas as suas conexões para tentar encontrar a Isa, mas parecia que ela havia sido engolida pela escuridão.

O Leo estava igualmente perturbado, mas ele nunca parou de procurar. Enquanto o Gabriel mantinha uma rede de informantes à procura, o Leo fazia um trabalho de campo minucioso. Usava todos os contatos que tinha no submundo, procurava pistas em cada canto, e nunca desistiu. A dor de perder a Isa era insuportável para ambos, mas mantinha-os unidos de uma forma que nenhum dos dois jamais imaginou.

Foi no final daquela manhã, depois de um mês de buscas infrutíferas, que o Gabriel finalmente recebeu a chamada que tanto temia e, ao mesmo tempo, esperava.

O telefone tocou, e o Gabriel atendeu imediatamente, sentindo o sangue pulsar com força.

- Gabriel! - disse a voz familiar e fria do outro lado. - Está na hora. Queremos o dinheiro, mas com uma condição. Não haverá trocas imediatas. Queremos o dinheiro num local específico, e depois... veremos.

- Vocês disseram que fariam a troca. Não vou pagar sem a Isa! – gritou o Gabriel, o controlo a esvair-se.

A voz do sequestrador riu baixinho.

- Este não é o teu jogo, Gabriel. Tu vais seguir as nossas regras, ou nunca mais a vês. Amanhã, às oito da noite. O endereço será enviado. Prepare-te.

A linha desligou-se, deixando o Gabriel num silêncio ensurdecedor. Ele estava pronto para agir, mas a frustração de saber que não teria a Isa de volta de imediato o corroía por dentro. Enquanto isso, precisava contar a Leo o que havia acontecido.

Antes que pudesse pegar no telefone para ligar para o Leo, recebeu uma mensagem inesperada. Era dele. Uma mensagem curta, mas que o fez parar.

"Encontrei-a."

O Gabriel olhou para a mensagem com descrença por alguns segundos antes de pegar nas chaves e sair a correr. Não podia perder mais um segundo. Ele não sabia como ou onde o Leo a tinha encontrado, mas a urgência no coração dele acelerava a cada passo.

O Leo estava ao lado da Isa, que ainda parecia incrivelmente fraca e assustada, mas estava viva. Ele havia conseguido rastrear um grupo pequeno de capangas, que a mantinham num armazém longe do centro da cidade, um local tão discreto que passou despercebido por semanas. Quando a encontrou, ela estava ferida, mas não gravemente. O mais preocupante era o seu estado emocional e físico; os dias de cativeiro tinham a deixado frágil.

Quando o Gabriel chegou ao local, viu o Leo junto à Isa, que estava sentada num canto, com a cabeça baixa. O alívio misturava-se com a culpa e a raiva. A visão dela, tão vulnerável, fez o coração dele apertar. Aproximou-se, mas parou a uma curta distância, sem saber como aproximar-se naquele momento delicado.

- Isa... - murmurou Gabriel, a voz rouca de emoção.

Ela levantou o olhar lentamente, os olhos dela encontrando os dele com uma mistura de alívio e dor. O Gabriel ajoelhou-se ao lado dela, pegando a mão dela com cuidado. Ela estava tão frágil, e a raiva por ter sido incapaz de protegê-la queimava dentro dele.

- Desculpa. Eu falhei contigo! - sussurrou ele, apertando a mão dela.

A Isa balançou a cabeça, os olhos cheios de lágrimas, mas ainda com uma força silenciosa.

- Não falhaste... estou aqui... graças a ti e ao Leo.

O olhar do Gabriel cruzou-se com o do Leo por um momento. Havia uma conexão silenciosa, um respeito que, apesar de toda a rivalidade e tensão, estava ali agora. O Leo havia feito o que Gabriel não pôde, e por isso, ele estava grato.

- Precisamos tirá-la daqui! - disse Leo. - Ela tem a primeira sessão de tratamento marcada para hoje. Não podemos esperar mais.

O Gabriel assentiu, sabendo o quão crucial aquele tratamento era para a Isa. Ela tinha esperado semanas por aquilo, e a saúde dela já estava comprometida por causa do sequestro. Eles precisavam agir rápido.

O hospital era um contraste total com o ambiente de escuridão do cativeiro. As paredes brancas, o cheiro de desinfetante e o som suave dos monitores traziam uma sensação de segurança e esperança. A Isa estava deitada numa cama, pronta para iniciar a primeira sessão do tratamento. A sala de tratamento era pequena, com luzes suaves e uma sensação de tranquilidade, mas o Gabriel não conseguia relaxar.

Ao lado dela, o Gabriel e a Leo observavam enquanto a equipa médica preparava tudo. A Isa estava nervosa, mas havia uma determinação nos seus olhos que não existia antes. Por mais debilitada que estivesse, a Isa não se deixaria vencer pela doença ou pelas cicatrizes do sequestro.

Quando a primeira gota do medicamento entrou na veia dela, ela olhou para os dois homens à sua frente, e algo nos olhos dela mudou. Havia gratidão, mas também força. Ela sabia que, apesar de tudo, tinha uma luta pela frente — e não era só contra a doença. Era pela vida, pela liberdade de ser quem era.

O Gabriel olhou para o Leo, o homem que ele sempre considerou seu rival. Agora, sentia um respeito profundo. O Leo havia sido essencial para encontrar a Isa, e durante todo esse processo, ele havia mostrado um lado que o Gabriel nunca imaginou: leal, corajoso e implacável quando necessário.

- Obrigado! – murmurou o Gabriel, sem conseguir evitar. A palavra parecia inadequada, mas era tudo o que ele tinha.

O Leo assentiu, os olhos fixos na Isa.

- Eu faria qualquer coisa por ela! - respondeu Leo, sem desviar o olhar. - E tu também.

Os dois homens ficaram em silêncio enquanto a Isa recebia o tratamento. O passado sombrio do Gabriel e as diferenças entre eles ainda existiam, mas, naquele momento, ambos sabiam que tinham uma missão comum: proteger a Isa, custe o que custasse.

Enquanto a primeira sessão prosseguia, o Gabriel sentiu que, apesar de todas as feridas que o destino lhes infligira, aquele era o início de algo novo. Isa estava a iniciar a sua batalha mais difícil, mas não estava sozinha. E o Gabriel sabia, pela primeira vez em muito tempo, que tinha algo pelo qual lutar que valia todos os sacrifícios.

Segredos e paixões.Onde histórias criam vida. Descubra agora