Capítulo 11

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Priscila Barcella

Hoje seria o primeiro dia do babá e espero que ele consiga cuidar bem das crianças, pois preciso voltar à minha rotina normal. Não posso perder essa oportunidade de promoção na história da FOS, onde uma mulher nunca foi tão longe, provando que nós podemos. Mas para isso, é essencial que alguém cuide das crianças.

Falando em crianças, a noite passada foi longa. Nina não saiu do meu seio por nada, estou exausta. Já passei tantas noites em claro, mas nunca me senti tão cansada. Ela parecia sugar a minha alma, e ainda tenho uma reunião marcada para as 07:30h com Max e o dono da padaria "Hora Pães", em uma de suas cafeterias.

Estava com tanta pressa que mal olhei para o babá. A verdade é que nunca olho direito, a maioria dos meus funcionários trabalha comigo há anos, então sempre fiz questão de conhecê-los. Mas as babás, cansei de perder meu tempo. Na segunda, já sabia que não duraria muito, mas algo nele me intrigou. Quando entreguei Nina, ela não chorou. Pode ser egoísta da minha parte, mas me senti mal por ela não se importar com a minha ausência. Queria que ela me quisesse, me sentir especial com ela apenas me querendo.

Estou arrasada, nunca me senti assim. Parece que ela não liga para minha existência. Como pode? Sou a mãe dela... Não, Priscila, você não é a mãe dela, é a tia. Ela é sua sobrinha. Preciso me lembrar disso. Às vezes, aquela menina me conquistou de uma forma que sinto como se fosse minha.

Não deveria me apegar a ela. O que está acontecendo comigo para ter pensamentos assim? Não sou mãe de ninguém. Já fiz essa escolha. Não sou mãe de ninguém, mas a alimento, coloco para dormir, troco a fralda, acordo quantas vezes for necessário. Ela deveria me querer, sempre me quis.

Sei que estou sendo dramática, mas nunca tive ninguém que me olhasse como ela me olha. Respirei fundo, preciso trabalhar, o trabalho sempre foi meu melhor refúgio.

Saí de casa e, para minha tristeza, tive que dirigir para deixar Sebastião à disposição das crianças, principalmente de Nina, que precisava se alimentar.

O trânsito hoje estava pior que o normal, e pela primeira vez em 15 anos, provavelmente chegarei atrasada em uma reunião.

Liguei o rádio e começou a tocar "Como Nossos Pais". No trânsito, olhei para o bebê conforto e sinceramente, não sei o que está acontecendo comigo.

No meio dos meus pensamentos, o carro alertou que Nathalia estava ligando, e como estava parada, atendi.

Ligação on

— Oi amiga, pode falar? — ela perguntou assim que atendi.

— Posso, estou presa no trânsito...

— Sabe o Wil que eu te falei...

— Amiga, não tenho tempo para namorar, não quero colocar mais ninguém na minha vida, já bastam as crianças. Você nem acredita, as crianças invadiram a sala de reunião e disseram a todos que sou a mãe deles. Fiquei sem reação e não neguei, agora todos na empresa supõem que tenho quatro filhos...

— Mas você tem amiga, você não vai adotá-los?

— Eu gostaria de ficar só com a Nina, se pudesse, mas nunca separaria eles. Só queria que fossem mais calmos.

— É normal, eles são crianças. Tem dias que o meu me deixa louca e ele é só um.

— Mas com certeza o seu não faz o que os meus fazem. Acredita que estou na lista negra da agência de babás? Depois de ser expulsa da terceira, vai ser difícil conseguir outra.

— E eles estão com quem? — ela perguntou.

— Com o babá...

— Você contratou um homem para cuidar das suas meninas, ou entendi errado?

— Sim, contratei um homem.

— Deixou um homem com suas meninas...

—  Ele não vai durar nem duas horas. Josefa e os outros funcionários estão lá, pedi para que ela esteja sempre por perto. Você nem acredita. Deixei Nina com ele, e ela nem chorou, me largou, nem ligou para mim...

— Não acredito que estou ouvindo isso da Priscila Barcella, a pessoa que não se apega a ninguém e que odeia crianças agora está toda sensível porque a filhinha ficou com outra pessoa.

— Nathalia, por favor. Mas seu filho ficava tranquilo com a babá?

— Sim, quando voltei a trabalhar, ele ficou tranquilo com a Madalena. Falei a mesma coisa e você disse que eu estava sendo dramática. Relaxa, ela não vai deixar de te amar. Fico feliz em ver que você realmente está cuidando deles. Pensei que, a essa altura, já teria colocado as crianças em um colégio interno o mais longe possível.

— Vontade não me faltou, mas tenho que fazer isso pela Pilar. Diferente dela, honro minha palavra, e ela era minha única família...

— Agora tem os quatro...

— E três me odeiam, às vezes penso em mandá-los para a Suíça...

— Duvido, você é uma mãe coruja, só não sabe ainda. Quando criar um laço igual ao que criou com Nina, vai parar de pensar nisso.

— Eu não sou nem uma mãe, eu nem lembro o que é ter uma, imagina se eu vou agir como uma.

— Você nunca fala da sua mãe, e olha que somos amigas há mais de 16 anos, você me contou tanta coisa, mas nunca sobre ela.

— Porque eu não me lembro, ela morreu quando eu tinha a idade da Isabela, e o meu pai proibiu de tocarmos no nome dela, eu não tenho nem sequer uma foto dela, não sei como é seu rosto, só sei que ela me amava e ela disse que tínhamos que ter um futuro melhor que o dela.

— Ainda bem que você sabe que ela te ama, o que você acha de vir para a minha casa com as crianças no próximo final de semana, eu quero fazer um almoço especial para elas, afinal, eu sou tia delas e madrinha da Nina, e tenho tanta coisa para conversar.

— Não sei amiga, preciso terminar essa campanha e nem sei se o babá vai conseguir durar mais de duas horas, minhas crianças são horríveis, tenho medo delas virarem a casa do avesso.

— Você é exagerada. Mas pensa com carinho, vai ser divertido!

— Vou pensar e depois te aviso.

— Tem certeza que não quer conhecer o Wil? Ele tem 40 anos e é advogado, e você precisa se divertir um pouco para se distrair das crianças.

— Não, obrigada, não estou interessada nos seus encontros furados.

— Você precisa se divertir.

— Quando eu quero, eu vou, não preciso de namorado. Você não ia trabalhar?

— Ok! Tchau, beijo e pensa com carinho...

— Certo, tchau! - falei encerrando a ligação.

Ligação off

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Continua...

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