Capítulo 15

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{790} palavras

William Rodrigues

Não sei se foi reflexo ou sorte, mas ainda bem que consegui chegar até ela a tempo de segurá-la, caso contrário, a bebê teria se machucado. O que mais me chamou a atenção foi o olhar dela, além dos seus olhos azulados, havia algo indefinível neles. Ajudei-a a sentar no sofá e saí para tomar outro banho.

Josefa me deu uma roupa de motorista para vestir, mas ficou muito grande e folgada. Fui para a sala com os cabelos ainda molhados, pensando que se não precisasse desse emprego, já teria ido embora.

Ao chegar na sala, vi os três ajoelhados esfregando o chão com escovas, e a senhora Priscila não estava mais lá. Ajoelhei ao lado de Belinha, peguei a escovinha de sua mão e ela parecia prestes a chorar. Quando a ajudei a levantar, vi suas mãos e joelhos vermelhos.

— Deixa eu te ajudar — falei, esfregando a mancha no tapete e estava muito difícil de sair.

— Babá, por que você está me ajudando? Nós que fizemos isso e te machucamos — ela disse, com uma expressão triste, e segurei sua mão suavemente.

— Porque eu quero. E amigos se ajudam. Vamos terminar logo para almoçar juntos.

— Estou cansada, mas não quero que ela grite de novo. Mamãe não gritava nem mandava a gente limpar nada, nem nos batia. Ela só nos dava carinho. A mamãe dizia que ela e a tia Priscila não tinham ninguém para dar carinho para elas, e que a tia Priscila era a mais forte, que às vezes a tia Priscila apanhava duas vezes só para a mamãe não apanhar, mas o papai não gostava quando a mamãe falava da tia. Ele dizia que ela era um monstro malvado e, às vezes, quando ela ficava com raiva, eu tinha medo dela se tornar uma bruxa — Belinha desabafou, com os olhos marejados.

E fiquei um pouco confuso. Eu achava que a Priscila era mãe deles.

— Mas vocês não faziam essas coisas, certo? — perguntei, vendo-a negar com a cabeça. — Então, se vocês não aprontarem tanto, ela não vai brigar tanto — tentei confortá-la.

— Você acha? — ela perguntou, ainda incerta.

— Sim, e que tal você pegar as penas para brincarmos depois? — sugeri, tentando descontrair a situação.

Belinha concordou e foi pegar as penas, enquanto eu continuava a ajudar a limpar o chão. Percebi o olhar de Iris, que parecia estar com raiva.

— Por que você está me olhando assim? — perguntei. — Você está com raiva... — ela nem deixou eu terminar de perguntar.

— Claro que estou. A Priscila nem liga para a gente... — desabafou Iris, com mágoa na voz.

— Não chame sua mãe assim... — tentei intervir.

— Ela não é nossa mãe, é só uma imitação barata — rebateu Iris, com amargura.

Eu meio que já tinha entendido que os três não são filhos da Priscila. Isabela falou para Nina como se a mãe fosse só dela, mas eu queria entender melhor porque a Priscila seria uma cópia barata.

— A tia Priscila é irmã gêmea da mamãe, só que a mamãe era diferente, ela ficava com a gente como a tia fica com a Nina — explicou Belinha. E realmente era nítido o quanto a Priscila ama a filha dela, e meio que não se importa com os sobrinhos órfãos da mesma forma.

— Ela odeia a gente e seria melhor a gente ficar no orfanato do que com ela — disse Iris com tanta raiva no olhar.

— Eu cresci em um orfanato e você não sabe o que está falando, Iris. Mas já pensou no lado da sua tia? Ela também está sofrendo e para ela também não deve ser fácil, de repente, ser responsável por tantas crianças.

— Você acha que ela está sofrendo? — Iris perguntou, com um tom de dúvida em sua voz.

— Acho que sim. Às vezes as pessoas se mostram duras por fora, mas têm um coração quebrado por dentro. Talvez ela só precise de um pouco de amor e paciência de vocês — respondi, tentando transmitir um pouco de compreensão para as crianças.

— De mim ela nunca terá compreensão, a Priscila não merece nada além do meu desprezo. Se não fosse por causa dela, eu estaria na minha casa, e não nesta cidade onde todo mundo olha para mim como um animal de zoológico e onde eu não tenho ninguém. Eu só queria que ela estivesse morta e não a minha mãe — Iris falou com muita raiva e pegou o balde e subiu.

Fiquei chocado com a intensidade das palavras de Iris, mas procurei manter a calma com os dois que sobraram na sala.

— Acho melhor nos limparmos antes que a tia volte e brigue de novo, desta vez eu acho que ela nos manda para um orfanato de verdade — disse Ítalo e voltou a limpar.

— Vamos fazer o seguinte, terminamos de arrumar e depois eu levo vocês para o parquinho do condomínio para brincarmos.

— Não podemos, estamos de castigo por termos jogado tinta na babá. Só podemos ir para a escola, e ainda tenho que escrever 500 vezes que não vou mais maltratar o babá — explicou Ítalo, com um sorriso travesso.

— Mas vamos limpar logo para evitar que sua tia brigue novamente — sugeri, e Belinha começou a pegar mais rápido o que nos fez rir.

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Continua...

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