Capítulo 3

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{2000} palavras

Priscila Barcella

Natália teve que ir para casa às cinco da manhã para uma reunião em Campinas. A Nina chorou quase o tempo todo. Com um conta-gotas, conseguimos que ela comesse um pouco, mas era muito complicado. De acordo com Natália, ela estava com sono. Como não sabia o que fazer, a Nina tentava a todo custo pegar meu seio e desistia. Ela só dormiu no meu peito. Eu dei para ela ver que não havia nada lá, mas não imaginei que ela usaria isso como chupeta. Era uma sensação tão estranha e dolorosa. Tive que escolher entre a dor de cabeça causada pelo choro incessante ou a dor física, e o simples fato de ela ter parado de chorar já era um avanço.

Eu acabei não dormindo, mas como não podia faltar a reunião de hoje, fui me arrumar para ir à empresa. Coloquei a Nina na cama mesmo ela choramingando. Desci com a bebê no colo e a Josefa estava na cozinha. Pelo som do forró, sabia que ela estava cozinhando. Justamente hoje era o dia de folga da moça da limpeza, e a minha cozinheira já tinha avisado que só teria uma consulta pela manhã, e a ajudante dela também não viria hoje.

— Senhora, pelo visto você trouxe os seus sobrinhos — comentou Josefa, que não parecia ter jeito com crianças, mas com certeza seria melhor do que eu.

— Sim, e já preciso ir, as crianças estão no quarto de hóspedes. Por favor, mantenha a casa em perfeito estado. A bebê tem uma consulta no pediatra, e achei que poderia levar também a outra pequena. A Joyce lhe avisará o horário e o motorista as levará até mim. Por favor, quero as coisas impecáveis. Se for preciso, pode usar o cartão para despesas.

— Sim senhora, mais alguma coisa? — ela perguntou, e entreguei a Nina, que começou a chorar. — Senhora, acho que ela não gostou de mim.

Peguei-a de volta e comecei a ninar, tentando acalmá-la. Josefa foi preparar o leite e expliquei que ela não estava usando a mamadeira. Então, ela colocou o leite em um copo pequeno e me ajudou a posicioná-la no colo para ver se assim ela comia. Ela tomou o copo todo, mas recusou o segundo.

— Pequena, você vai ficar com a Josefa. Eu preciso ir trabalhar, meu anjinho, já estou atrasada, e você se comporta que eu volto rapidinho — falei, entregando-a para Josefa, que estava com uma cara de choque, e só então percebi como chamei a menina.

Foi tão espontâneo que sinceramente não me importei.

Mesmo que eu não tenha dormido e esteja muito cansada e irritada, há algo nela que quando olho me faz sentir uma certa paz. O fato de ela gostar de mim e me querer facilita, afinal está ali chorando só para ficar comigo. Ou estou tentando ver o copo meio cheio ou estou virando uma idiota.

Decidi ir logo antes que piorasse. Peguei a bolsa e desci. Estava tão exausta, mas tinha que dirigir. Ao entrar no carro, coloquei meus óculos de sol. Precisava focar no trabalho. Não perderia esta promoção.

Cheguei na empresa, Joyce estava à minha espera com um café forte em uma das mãos, pois eu já estava atrasada.

— Bom dia, quer repassar a sua agenda? — ela perguntou, e disse que sim, entrando no elevador. — Às 8:40h, tem a reunião com a equipe de marketing sobre o novo projeto. Às 9:50, a conferência com os italianos para apresentar o projeto com o Max. Às 10:30, você tem uma vídeo conferência com os portugueses sobre a campanha da agência de turismo.

— Eu tenho uma consulta no pediatra às 13:30. Tem algo neste horário? — perguntei ao entrar na minha sala.

— Não, você só tem uma reunião com o senhor Max às 16:00. Ele quer ver o andamento da campanha das duas novas empresas e o levantamento do setor.

— Certo, se eu precisar de alguma coisa, te aviso — falei, e ela saiu. Comecei a organizar algumas coisas antes de ir para a reunião. Meu dia hoje estava tranquilo, seria fácil levar as meninas para o pediatra.

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