Capítulo 10

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William Rodrigues

Depois de me arrumar com uma roupa estilo chofe de madame, que ficou no tamanho certo, fui até o quarto dos santos diabinhos. Não posso desistir assim tão facilmente.

Assim que cheguei no quarto, vi a Isabela chorando e me aproximei dela, que agarrava uma boneca de pano.

— Por que você está chorando, princesa? — perguntei ao me aproximar.

— Eu quero a minha mãe — ela falou chorando, e eu passei a mão em seu cabelo.

— Você quer que eu ligue para sua mãe? — perguntei, mas ela apenas chorou mais — Não precisa chorar, princesa, a mamãe foi trabalhar. Você quer ir para a escolinha, brincar com os amiguinhos?

— Eu não tenho amigos. Eu quero a mamãe e o papai — ela disse chorando, e entendi a dor de querer alguém que nunca mais veremos, ou que nem sequer conhecemos.

— Se você não for, não vai fazer amigos...

— E se eles nunca quiserem ser meus amigos? Eu gostava da minha outra casa, eu tinha amigos lá... eu quero voltar para a casa do papai.

— Quer que eu te conte um segredo? — perguntei, e ela fez que sim com a cabeça — Eu também sinto saudade da minha terra. Sou do Ceará, e quando estou com muita saudade, fecho os olhos e deixo as lembranças me levarem para lá. Me conte como era onde você morava — pedi, e ela fechou os olhos com força.

— Eu não consigo, estou esquecendo o rosto do papai — ela falou chorando, e a abracei.

— Você tem uma foto dele? — perguntei.

— Não, não deu tempo de pegar quando viemos para cá — ela é tão pequena, sei como é isso, a dor que está sentindo.

Parece que eles não são monstrinhos e não são diferentes das crianças más do orfanato; eles só não sabem lidar com a dor que estão sentindo.

Peguei-a no colo e comecei a ninar como se fosse um bebê, afinal, ela só tinha 4 anos e era uma fofinha quando não estava me jogando algo.

— Você não parece uma babá.

— Porque eu não sou uma babá e sim o babá — falei, fazendo cócegas nela, e ela começou a rir.

— As outras babás não me abraçavam...

-— Belinha, o que você está fazendo com o inimigo? — Italo entrou no quarto e puxou o braço da irmã para afastar ela de mim.

— Ei, assim você vai machucar a sua irmã, e é hora de tirar esse uniforme, já passou das oito horas. Vocês ganharam essa batalha, mas a punição será limpar a bagunça das tintas...

— Não. Vamos, Belinha — Italo jogou um estilingue e algumas bolinhas de tinta em mim.

— Pare com isso, Italo — Isabela pediu.

— Você está do lado dele? — Italo perguntou para a menina.

— Ele é legal...

— Escute, ou você está com a gente ou está com o inimigo?

— Estou com vocês, mas não vou machucá-lo — ela respondeu baixinho.

Italo parou de jogar as bolinhas de tinta e olhou para a irmãzinha.

— Vamos parar, os dois, e me dê o estilingue...

— Se você quer, venha pegar — Italo falou e saiu correndo, e eu fui atrás.

— Italo, não corra. Você vai se machucar — corri atrás dele, mas tropecei em algo, e quando estava no chão, comecei a receber ovadas; vi que era Iris jogando vários ovos.

— Você não é bem-vindo, babá — Iris disse, e logo Italo voltou com um travesseiro e começaram a jogar penas em mim.

—Crianças, parem com isso...

— Parem com isso — eles repetiram — O babão vai chorar — falavam enquanto um jogava ovos e o outro penas. Tentei me levantar, mas estava difícil. Nina começou a chorar, e não conseguia ajudá-la com os dois me atacando.

— Parem, Nina está chorando — Isabela tentou fazê-los parar, mas não deu certo.

Consegui me levantar e andar um pouco enquanto eles me jogavam ovos, e não sei em que pisei, mas escorreguei e comecei a deslizar pelo piso, até bater na parede e um saco de farinha cair na minha cabeça. Passei a mão no rosto, tentando limpar.

— Por que fizeram isso comigo? Eu nunca fiz nada a vocês...

— Babá, qual parte você não entendeu de que vamos tornar sua vida um inferno? — Iris falou se aproximando com a cara fechada.

— A vida me ensinou a dar uma segunda chance...

— Ui, ui, vai dar uma segunda chance — Iris falou — Fora, não queremos você aqui.

— FORA! — ela e Italo gritaram.

Tentei me levantar, mas minhas costas e cabeça doíam muito.

As crianças não paravam de gritar 'FORA'. Nina chorava, e eu já estava ficando louco com essas crianças.

— Parem, Nina precisa de ajuda, ela é pequena — Isabela abriu a porta do quarto da senhorita Priscila.

Me levantei para entrar no quarto da mãe dela, sujo, mas não posso deixar a bebê em prantos desse jeito.

Assim que entrei, vi Isabela na cama alisando o rosto de Nina.

— Nina, não chore, o babá já vem — ela falou com carinho para a pequena.

— Oi, princesinha. Obrigada, Belinha, você é uma boa irmãzinha — falei pegando Nina, que continuava a chorar. Vi que a fralda estava seca.

— Ela chora alto quando está com fome. — a Isabela falou

— Eu esqueci que a mãe de vocês deixou os horários para levar a bebê para mamar.

— Você está encrencado, ela vai te colocar de castigo — Belinha falou.

— Ai, Belinha, ela é tão brava assim? — perguntei.

— Eu não sei, ela não é de beijos e abraços. A mamãe sempre me abraçava, me dava beijinhos, me colocava na cama e cantava, o papai expulsava os monstros de debaixo da minha cama e sempre lia uma historinha. Agora, Iris me abraça, e sinto falta deles...

— Vem cá — disse, pegando-a no colo.

— Eu gosto de você —  Belinha falou. — Eu também gosto de você, princesa, de vocês duas. Agora vamos nos limpar para ver a mamãe.

— Viu, Nina, não precisa chorar, a gente já vai ver a sua mãe — Belinha falou para a irmã, e saí do quarto com cuidado, com as duas no colo. Desci as escadas e encontrei Italo e Iris assistindo televisão.

— Desliguem isso, vocês estão de castigo _ falei, mas eles me ignoraram — Certo, vou ligar para a mãe de vocês, ela vai adorar.

— Pode ligar, ela não vai atender mesmo — Iris falou.

Coloquei Belinha no chão, tentei colocar Nina no cercadinho, mas ela chorava mais, então desisti e fui até a televisão, desligando-a.

— Você não pode fazer isso — Italo falou com raiva.

— Mas já fiz.

Quando falei isso, Iris veio até mim tentar pegar a tomada, e quase derrubei Nina. A situação estava uma bagunça, Italo começou a fazer um escândalo, se debatendo, pulando, se jogando no chão, Belinha se agarrou na minha perna, e Iris fez um chilique para ligar a televisão, enquanto Nina chorava e a farinha sujava a casa toda.

— Já falei, não é não — disse para eles, e nesse momento a porta se abriu, e a senhora Priscila entrou.

Primeiro, ela ficou chocada, depois ficou vermelha, seu olhar era aterrorizante, parecia que ia explodir a qualquer momento.

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Continua...

Oi meus amores. Estou pensando em só postar no sábado em compensação postaria 10 capítulo no sábado, o que vocês acham? Como vocês acham que seria melhor?

O babá Onde histórias criam vida. Descubra agora