Priscila Barcella
O restante do caminho foi tranquilo, ouvindo música. Estacionei o carro perto da cafeteria e, ao sair com minha bolsa e pasta, percebi que ela estava toda grudenta. Peguei um lenço umedecido para limpar e entrei na cafeteria, onde logo avistei Max olhando para o relógio e para mim com um sorriso no rosto.
— Desculpe pelo atraso de 5 minutos, foi por causa do trânsito — me justifiquei.
— Não se preocupe, Priscila. Pensei que algo tivesse acontecido, já que você sempre chega antes do horário — respondeu ele com bom humor.
— Desculpe, não vai se repetir... — comecei a me desculpar, e ele começou a rir.
— Não estou reclamando, isso acontece. Eu também costumo me atrasar — admitiu Max, e eu achei estranho, mas era verdade que ele sempre se atrasava. — Onde está a pequenina?
— Minha filha? — perguntei naturalmente, percebendo que tinha chamado Nina de filha.
— Sim — respondeu ele com um sorriso encantador, levantando-se. — Já estou com saudades daquela fofura.
— Nem me fale, eu também estou com saudades da minha bebezinha — concordei, e ele sorriu ainda mais. — Podemos começar? — perguntei, e ele puxou a cadeira para eu me sentar, voltando a sentar em seguida. — Obrigada!
— Você não perde tempo. Estou esperando o senhor Mario. O que você quer comer? — perguntou, entregando-me o cardápio. — Se quiser conversar, podemos tomar café depois que acabarmos.
— Não precisa, obrigada! — respondi, olhando para o cardápio. Não estava confiante em retomar a conversa com Max como se nada tivesse acontecido.
— A rainha do gelo, tinha esquecido — brincou ele, enquanto chamava o garçom.
— Bom dia, por favor, traga um copo de suco de laranja, um copo de leite desnatado, uma omelete com queijo brie e um croissant, e uma fatia deste bolo de fubá - fiz meu pedido, surpreendendo o garçom.
— Eu vou querer outro café e um croissant — pediu Max, e eu apenas deixei o cardápio de lado.
Arrumei a mesa, incomodada com a bagunça. Coloquei a pasta em um canto e peguei meu celular, querendo saber se o babá havia se demitido.
— A Joyce vem hoje? — perguntou Max ao me ver com o celular.
— Não, ela está treinando a nova secretária — respondi sem olhar para ele, enviando uma mensagem para Josefa.
— Ah, ela parece ser bem prestativa...
— Ela é ótima, meu braço direito. Profissionais como ela não são fáceis de encontrar — elogiei.
— Pretende levá-la com você caso consiga a promoção? — questionou ele, dando a entender que talvez estivesse interessado na minha secretária.
— Está tentando roubar minha secretária? Esperava isso do Felipe, não de você. Por isso me ofereceu outra secretária? — brinquei, mas com um tom sério.
— Claro que não, foi só curiosidade.
— Será que o senhor Mario vai demorar muito? — perguntei olhando ao redor.
— Fique calma, meu anjo...
— Eu não sou nada sua — respondi ríspida, e ele pareceu confuso.
— Desculpe, não foi minha intenção te ofender. Por que tanta pressa? Só temos uma reunião às 15:00h.
— Tenho outro compromisso — disse sem dar detalhes.
— No horário de trabalho, senhorita Barcella? — perguntou ele, sério.
— Sim — respondi, e ele me olhou curioso.
— O que vai fazer? — detesto quando me fazem essas perguntas, como se fosse da conta dele.
— Oi!? — fingi não entender.
— Você ouviu. Sou seu chefe e posso te demitir por isso.
— Amamento a Nina, não precisa me ameaçar. Estou no meu direito. Minha filha só tem três meses, poderia estar em casa com ela, mas estou trabalhando. Organizo minha agenda para isso, já que ela sabe muito bem a hora de comer — expliquei.
— Ela é igualzinha à mãe. Só queria saber por que não me contou sobre ela...
— Não estávamos nos falando. Lembra que se mudou e parou de atender minhas ligações? Anulou nossa amizade de anos, até no trabalho. Agora volta como se nada tivesse acontecido este ano inteiro.
— Desculpe, sei que errei em me afastar. Precisava de um tempo para digerir tudo o que aconteceu entre a gente. Sinto muito por não ter estado presente durante esse tempo.
Suspirei, olhando para ele e percebendo a sinceridade em seu olhar. Sabia que ele realmente sentia muito por ter se distanciado, e eu também sentia falta da nossa amizade. Mas tinha medo de interpretarmos as coisas de forma equivocada. Agora, mais do que nunca, não posso me envolver com Max, não quero que pensem que conquistei algo por causa dele.
— E me conta, por favor, o que aconteceu para você ter duas crianças e uma adolescente agora na sua vida? — ele tentou pegar minha mão, mas não permiti. Queria fugir do assunto, mas não tinha para onde correr.
— Eu os adotei recentemente — revelei, percebendo que ele se assustou com a novidade.
— Você adotou três crianças. Realmente, não te conheço. Até entenderia se tivesse engravidado, já que essas coisas acontecem, mas escolher adotar, escolher ser mãe, deve ser muito difícil...
— Eu não escolhi, mas você nem imagina o quanto é difícil. Realmente não nasci para ser mãe. Acho que só faço as coisas erradas, e eles só pioram. Mas claro, mal os conheço. Não sei a cor favorita da Isabela, o que o Ítalo gosta, e a única coisa que sei da Iris é que me odeia e me culpa por sua vida ser um inferno.
— Vai dizer que não era assim com sua mãe — provocou ele, mas percebendo minha expressão, pareceu pensar melhor.
— Você não sabe nada da minha vida...
— Só queria ajudar — respondeu, e nosso pedido chegou. — Desculpa, sei que não gosta de falar da sua mãe...
— Não gosto de misturar vida pessoal com profissional...
— Já entendi, deixou bem claro ao esconder seus filhos, sim, escondeu...
— Desculpe a demora — interrompeu o senhor Mario.
— Não tem problema, senhor Mario — disse Max, levantando-se.
A reunião foi tranquila, mas demorada. Meus seios começaram a doer, minhas costas também, e, sinceramente, não sabia o motivo. Ao olhar para o relógio, entendi que estava quase na hora de Nina mamar. Decidi voltar para casa e descansar um pouco, já que não tinha dormido à noite, e as crianças estavam na escola, então estaria mais tranquilo.
Ao chegar na porta do meu apartamento, ouvi muita gritaria, o que achei estranho, já que as crianças deveriam estar na escola. Isso me deixou em alerta.
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Continua...
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O babá
RomansaApós a trágica morte de sua irmã e cunhado em um acidente, Priscila, uma renomada empresária conhecida por sua dedicação implacável à carreira, se vê inesperadamente responsável pelos seus quatro sobrinhos órfãos. Acostumada a lidar com os desafios...