Capítulo 1

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{2512} palavras

Priscila Barcella

Depois de um voo de três horas e meia, aluguei um carro e dirigi por mais cinco horas, finalmente chegando em um pequeno povoado do município de Santo Antônio dos Milagres. A estrada era de terra e parecia que o tempo naquele lugar passava em câmera lenta e pouquíssimas coisas tinham mudado em 16 anos. As casas eram simples e a única diferença era nos fios de energia e novas construções, mas mesmo assim parecia existir apenas uma rua e uma praça como novidade.

Fui devagar pela estrada de terra batida até chegar na casinha onde crescemos. Pouquíssimas coisas tinham mudado, mas a única diferença era que, além do reboco, a pequena casa estava pintada de branco, que já estava amarelada, com dois quartos. Apesar de ser bem diferente da minha cobertura, estar naquele lugar me causava arrepios, como se as paredes pudessem falar ou apenas de ver sentir os arrepios pelo meu corpo me pedindo para fugir daquele lugar.

A casa estava cheia, e respirei fundo antes de sair do carro. Pedi coragem e dei ré indo até o pequeno cemitério ali perto.

Ele, diferente da minha antiga casa, me trazia alívio e como estava vazio, não demorei a ir até o túmulo da minha mãe e me sentei em cima dele.

— Oi mainha — falei, mas perdi a minha voz quando vi o túmulo da minha irmã ainda recém mexido. — Isso não é justo.

Falei tentando não chorar, eu não podia demonstrar fraqueza.

— Estou conseguindo, sabe mainha, estou vencendo na vida como eu te prometi, e sem chorar, eu não vou ser fraca — falei olhando para uma pequena foto e peguei o meu celular para tirar uma foto, não era nítido, mas conseguia ver alguma coisa. — Eu não lembrava como era o seu rosto, como a senhora era linda, cuida da Pilar, por favor. — uma lágrima teimosa insistia em cair, mas logo a limpei.

Voltei para o carro pouco tempo depois e precisei me recompor para voltar para aquele lugar.

Ao descer do carro, sujei meu salto em uma bolsa de lama, o que me deixou irritada, afinal, meu salto com certeza custava mais do que todos os bens daquela casa. A expressão de surpresa das pessoas ao me ver era clara. Haviam cerca de dez pessoas na porta e mais algumas na sala. Tirei meus óculos de sol, e uma menininha de cabelos castanhos, com um vestidinho simples, correu até mim com um sorriso enorme no rosto.

— Mainha, eu sabia que você não tinha morrido — a menininha falou correndo até mim e me abraçando. Eu simplesmente paralisei naquele momento, não estou acostumada com crianças, muito menos com abraços.

— Isabela, está aí, não é a mainha — disse uma garota que com certeza era a Iris, a filha da minha irmã, ela parecia muito com a minha irmã.

— Iris — falei quase em um sussurro.

— O que você veio fazer aqui, Priscila? — a vizinha e amiga da minha irmã perguntou. Eu nunca fui com a cara dessa garota e sinceramente não queria ver ninguém, mas todos os olhares estavam em mim.

— Oi, Amanda. Eu vim por causa dos meus sobrinhos — respondi. Ela tentou me olhar com desdém, mas eu a observei de cima a baixo. Realmente, esses anos não foram gentis com ela.

— Nós podemos cuidar deles — uma senhora disse. Eu a conhecia, e ela nunca me ajudou. — Eles não merecem viver como uma pessoa como você — ela falou tentando pegar a Isabela, que ainda estava segurando a minha perna.

— Priscila — ouvi meu nome em murmúrios, as pessoas me olhavam como se eu fosse um animal de zoológico. Eu simplesmente odiava isso.

— Então você é a Priscila — uma senhora de uns quarenta anos, um pouco acima do peso e baixa, falou. Eu não a conhecia. — Sou Samara, a assistente social responsável pelo caso dos seus sobrinhos. Falei com a sua secretária sobre o assunto.

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