Capítulo 13

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Priscila Barcella

Mas nada me preparou para aquela cena. Assim que abri a porta, meu mundo caiu. Eu simplesmente não podia acreditar no estado em que aquele lugar estava. Havia manchas de tinta no meu carpete e várias penas. Mas o que me chocou foi o estado do babá: ele estava cheio de penas e com farinha na cabeça. Ele segurava a minha bebê no colo, e a Nina estava chorando e completamente suja, enquanto a Isabela agarrava a perna dele com medo e suja. Foi então que vi a própria imagem do caos: a Iris tentava pegar algo, e o Ítalo estava tendo um ataque de raiva no sofá, com farinha espalhada no tapete e nos móveis.

Tudo estava completamente sujo, e eu nunca tinha visto minha casa daquela forma.

Não podia acreditar no que estava presenciando. Senti meu rosto queimar e uma raiva começou a tomar conta de mim. Como era possível? Eu havia conseguido a melhor escola para eles, e eles não foram. Tinham tudo o que eu queria quando era criança e se comportavam daquele jeito. Minha irmã não soube educar esses pestinhas. Não entendo por que ela decidiu ter tantos filhos se não soube ensinar o mínimo de educação e respeito aos outros.

Meu primeiro impulso foi reagir como meu progenitor fazia comigo e com minha irmã, mas lembrei que prometi nunca tratar alguém como fui tratada. Estava na hora de abandonar esse papel de Priscila boazinha, pois essa não era eu. Eu não sou boazinha.

- O que aconteceu aqui? - perguntei em voz alta, e eles me olharam sem dizer uma palavra, o que só aumentou minha impaciência. - O QUE ACONTECEU AQUI? ME RESPONDAM - gritei, e Isabela e Nina começaram a chorar de medo.

- Priscila, nós já falamos. Queremos voltar para casa, eu cuido dos meus irmãos o Enzo vai me ajudar... - ouvi a voz de Iris, o que só aumentou minha raiva. Como ela ainda podia achar que o mundo era cor-de-rosa?

- Cale a boca agora. Primeiro, é senhora. Aprenda a respeitar os mais velhos - falei com firmeza, me aproximando dela e de sua expressão de deboche. - Claro que você vai cuidar. Iris, estou farta disso, estou farta de vocês.

- Eu... - Iris tentou falar, e eu a agarrei pelo braço com força.

- Cale-se. Aprenda a me respeitar. Querendo ou não, quem manda aqui sou eu. Esta é a minha casa, e vocês estão aqui unicamente por falta de opção. Portanto, é melhor se comportarem como gente decente.

- Meu pai... - ela tentou falar, e eu a segurei ainda mais forte, torcendo para não perder o controle.

- Não quero ouvir falar desse homem na minha casa. Não me importa o que ele pensava ou deixava de pensar. Ele está morto e enterrado. Você entendeu, Iris? Ele morreu, está morto - falei me aproximando ainda mais dela, encarando seus olhos enquanto ela tentava me intimidar. - Não vou permitir que faltem à escola por causa de um jogo idiota. Lutei muito para proporcionar uma boa educação a vocês, e não vão desperdiçar as oportunidades que estou oferecendo.

- Não queremos o seu dinheiro. Engula-o. Você nunca vai se importar com nada além do seu trabalho idiota.

- Este "trabalho idiota" paga as contas, a comida, as fraldas e tudo aqui. Sustentou a sua família por anos. Ou acha que seu pai dava conta da família com um salário mínimo? Seu pai sempre foi um preguiçoso, um encostado. Todo mês eu mandava dinheiro, e ainda tinha que ouvir reclamações do idiota do seu pai quando não queria aumentar a grana que eu suava para conquistar. Esse comportamento, mocinha, precisa acabar - ela abriu a boca, e eu a encarei como faço com meus funcionários. Ela queria saber por que era odiada, e eu fazia questão de mostrar.

Cansei de ser boazinha e aceitar. Essa não sou eu. Nunca abaixei a minha cabeça. Soltei-a, e ela se afastou de mim, indo em direção à escada.

- Para onde pensa que vai? Ainda não terminei - falei sem me mover.

- Estou só adiantando as coisas. Você vai me mandar subir para o meu quarto, dizer que não vou comer e que a Ana vai me levar comida... - ela falou com aquela voz insuportável e de deboche.

- Não é tão fácil assim. Na sua idade, eu já trabalhava para poder estudar. Já que não querem estudar, vão trabalhar. E se acham pouco o castigo, vou dar um verdadeiro para vocês. Acabaram-se as mordomias.

- Meu pai nunca deixaria, e você não é doida de me bater - ela falou se aproximando de mim, rir da expressão assustada dela, segurando seu rosto com minha mão.

- Seu pai não está mais aqui. Sou a única responsável por vocês, e o que eu digo é lei. Escutem bem, os três. Não vou tolerar que tratem as pessoas dessa maneira. Se querem tratar as pessoas como lixo, serei obrigada a tratá-los da mesma forma. Entenderam? Se não gostarem, podem ligar para a assistente social. Ficarei muito feliz em me livrar de vocês - comecei a falar, vendo-a engolir em seco. - Vocês vão começar a limpar essa bagunça imediatamente. Não quero ouvir choro, grito, nada além do som da escova. Quero esta casa como era antes - falei com firmeza.

- Sim, senhora - respondeu Isabela.

- Vocês precisam aprender que não se trata as pessoas desta maneira. Isso não vai fazer eu mandá-los de volta para o Piauí, vai fazer eu mandar cada um para um colégio interno diferente. Já vi vários maravilhosos, e o melhor está bem longe do Brasil. Ou posso mandá-los passar uma temporada no reformatório, afinal, lugar de marginais e terroristas é lá - falei, e Iris revirou os olhos.

- Senhora - o babá tentou falar, mas não permiti.

- Babá, por favor, vá tomar um banho e me entregue a minha bebê. Ela está assustada - pedi a ele, que me passou a bebê sem dizer nada. - Josefa - chamei e comecei a balançar Nina para acalmá-la.

Afinal, a única realmente inocente nesta história é a Nina.

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Continua....

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