XXIV - Ulvesangen

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 Fazem longos minutos em que Ylva continua a chorar. Agda está sentada, visivelmente irritada por ter sido retirada de seu sono. Fenrir está sentado ao seu lado. Com os cotovelos por cima dos joelhos e cabeça baixa. Igualmente cansado. Ylva está em meus braços, balanço-a gentilmente de um lado para o outro tentando acalmá-la, mas sua angústia parece inabalável. A frustração começa a crescer dentro de mim . Estou ficando sem opções. Pensativa eu digo a todos do comodo:

— '' ela não está com fome, não está doente, não está suja... eu não sei mais o que poderia ser!''

Agda então levanta a cabeça e me observa em quanto diz:

— '' bem, talvez ela esteja sentindo falta da mãe dela. O que foi? Você achou mesmo que ela iria te aceitar assim de imediato?''

Após ouvi-la, sinto uma estranha dor em meu peito. Minha avó pode ter razão. Eu não sou a mãe dessa criança, mas... sua mãe está morta. Fenrir, se levanta de seu assento e esfrega os olhos com as duas mãos. Frustrado, diz:

— '' eu vou voltar para a cama.''

Com passos pesados, o lobisomem se levanta da cama e segue em direção ao nosso quarto. Sou deixada com a minha avó, em quanto Ylva continua a chorar. Não consigo evitar a não ser olhá-la com uma expressão preocupada. Eu me viro para a minha avó e pergunto:

— '' mas o que eu deveria fazer?''

Com um sorriso irônico, minha avó se levanta do assento e diz:

— '' faz o S de Se vira. Foi assim que eu aprendi a ser mãe.''

Ela se afasta, indo para o próprio quarto, rindo da própria piada, deixando-me sozinha mais uma vez. Olho para Ylva, ainda soluçando em meus braços, e sinto uma onda de desespero tomar conta de mim. Com um sussurro trêmulo, digo:

— Me desculpa, mas... eu não sei como cuidar de ti...

Mais alguns minutos se passam, e o cansaço começa a me dominar novamente. Ylva, nos meus braços, também dá sinais de estar finalmente cedendo ao sono, exausta de tanto chorar. Um alívio suave se espalha pelo meu peito, e sinto que talvez, finalmente, possamos descansar um pouco.

Com passos cuidadosos, volto para o quarto. Fenrir está deitado, sua cabeça afundada no travesseiro, o corpo coberto até a cintura. Com delicadeza, coloco Ylva ao seu lado e me deito logo em seguida, puxando as cobertas sobre nós duas. Solto um suspiro de alívio ao sentir a suavidade do travesseiro contra minha cabeça. Mas antes que eu possa me entregar ao sono, a voz grave de Fenrir quebra o silêncio

Eu disse que não era uma boa ideia.

O tom dele é firme, mas sem raiva, apenas constatando o que já havia previsto sobre Ylva. Fecho os olhos por um instante e esfrego o rosto com ambas as mãos, sentindo o peso das palavras dele. Talvez ele tenha razão, mas não posso deixar de responder.

Não era isso que eu queria... Eu só queria evitar que algo de ruim acontecesse com ela.

Fenrir continua em silêncio, mas sei que está escutando cada palavra. Tento encontrar a coragem para expressar o que realmente sinto.

Sou jovem demais para ser mãe. Eu... gostaria de ser, mas... não agora.

Ele se vira na cama para me encarar, seus olhos sérios fixos nos meus.

Precisas encontrar alguém para ficar com ela

As palavras de Fenrir ecoam em minha mente, e eu as mastigo lentamente, sentindo o gosto amargo da verdade que carregam. Sei que ele está certo. Não tenho condições de cuidar de uma criança. Ela, tão frágil e inocente, estaria mais segura com outra pessoa... ou melhor ainda, com a própria mãe. Mas essa possibilidade foi cruelmente arrancada dela. O pensamento da mãe da menina, de sua vida brutalmente tirada, me assombra.

Histórias De Inverno (A Chapeuzinho Vermelho e o Lobo)Onde histórias criam vida. Descubra agora