Passado Part 2

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15 ANOS

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15 ANOS

Há cinco anos fui trazida para o orfanato Montreal. Um lugar incrível, bem semelhante ao que vemos em filmes, no qual somos muito bem tratados. Existem a ala das meninas e dos meninos, um refeitório para as refeições, um jardim, uma horta que cuidamos, parquinho para as crianças. E salas de aulas separadas, onde estudamos conforme os níveis de conhecimento.

Apesar de raramente sair daqui, eu não almejei ser adotada. Não via sentido em fazer parte de uma família. Meus pais faleceram em um acidente trágico, voltando de Miami junto dos meus padrinhos Mason e Jodie. Um
caminhão ultrapassou o sinal vermelho e atingiu em cheio o táxi que estavam.

Todos morreram naquela noite. E eu, fiquei sozinha, já que meus avós paternos são mexicanos e não os conheço. Meus avós maternos são falecidos, não tenho tios ou tias.

Quando cheguei no orfanato não conversava com ninguém. A terapeuta me ajudou no processo de luto. Fiz amizades, cuido das crianças mais novas, porém, evito me apegar. Construí várias barreiras para não sofrer novamente. Uma delas é me isolar em dias como este.

Todo mês, durante uma tarde inteira, várias famílias vêm visitar o lugar, fazer donativos e se alguma criança se destaca, é adotada, os
adolescentes não são obrigados a participar.

Por isso, que ao invés de estar no salão com as demais crianças e jovens, estou aqui na cozinha, com um avental florido, suja de farinha, fazendo meus famosos cupcakes. Estou tão distraída, preparando a receita que minha mãe ensinou que não noto a presença na porta me observando. Até que ele pigarreia.

– Olá. Desculpa interromper, só estava dando uma volta.  – O garoto loiro fala sem jeito, encostando-se na porta.

– Tudo bem, sem problemas.  – Digo um pouco sem graça. Nunca o vi antes por aqui.

– O que você está preparando?

Ele questiona adentrando o ambiente, conforme se aproxima sinto quando minhas bochechas ruborizaram. O garoto é muito bonito, nada comum.

– Cupcakes. Você gosta?

Pergunto esboçando um sorriso verdadeiro,
pois amo cupcakes.

– Não como doces.

– Sério? Por que não?

Minha voz sai exaltada. É quase um ultraje
alguém não gostar de doces.

– Nunca gostei e minha mãe diz que faz mal à saúde.  – Ele responde, rindo da minha reação.

Quem não come doces? Eles são o alento
da vida.

– Entendo. – Abaixo a cabeça voltando a me concentrar na tarefa.

– Mas, por que você está aqui fazendo cupcakes e não está no evento? Você mora aqui?

Questiona meio inseguro.

– Sim, eu moro aqui e eu não participo desses eventos. Faço cupcakes para alegrar as crianças que não serão adotadas hoje. Elas
precisam de uma dose de felicidade, sabe?

Nossos olhares se encontram e o brilho azul da sua íris é encantador.

– Nossa, que incrível! Só não entendo por quê? Você não quer uma família?

O loiro senta na bancada e me encara com curiosidade.

– Já tive uma e a perdi. Não vejo sentido em ter outra. Mas você o que faz aqui?

Mudo o assunto, não gosto de falar sobre minha história. terapeuta diz que venho mascarando a dor, não me importo, só não quero sentir.

– Minha mãe quer adotar uma criança.  – Sua voz demonstra que não aprova a ideia.

– E pelo jeito ninguém perguntou sua opinião sobre isso?

– Não. Eu não sei, não sou egoísta, mas minha mãe quer substituir os bebês que perdeu. Não sei se isso dará certo. – Sua mão coça a cabeça, o garoto está tão perdido quanto eu.

– Olha garoto misterioso. Sua mãe é boa mãe? Ele acena concordando.  – Tem muitas crianças aqui que dariam tudo por uma boa
mãe. Acho que você deveria dar uma chance. Sua mãe tem amor de sobra e você pode ser um irmão mais velho incrível, se permitir arriscar.

– Você parece ser mais velha do que aparenta. Quantos anos tem?

Pergunta interessado e com um lindo sorriso no seu belo rosto.

– Quinze anos, não sou velha, apenas muito sábia. – Sorrio.  – Oh, pegue esse aqui.  – Digo entregando um cupcake decorado de estrelas.

– Eu não como doces, já esqueceu, fada?

Sua voz tem nuances de travessuras, como se cada palavra fosse uma melodia atrevida.

– Sério? Fada? — Começo a rir.  – Pode comer. É sem açúcar, glúten e a cobertura é de cacau. Experimenta!

O loiro pega o doce da minha mão e nossos dedos se tocam, sinto novamente minhas bochechas queimarem. O sorriso que ele me dá, faz com que borboletas cruzem meu estômago e não sei o que acontece comigo.

– Hum – murmura, saboreando o doce. – Isso é muito bom, garota cupcake.  – Ele fala com a boca cheia e o rosto sujo de chocolate.

– Pera, está sujo aqui. – Me debruço sobre ele, limpando a lateral de seus lábios que sujaram.

Nossos olhares se encontram e sua mão cobre a minha. Ficamos alguns segundos nos encarando. Até que eu tenha coragede perguntar: 

– Você poderia me beijar?

Sua mão coloca uma mecha do meu cabelo que soltou, atrás da orelha. Desde que perdi meus pais, decidi viver intensamente e não me privar dos meus desejos. De todos os garotos que já encontrei, ele foi o único que despertou em mim esse anseio por sentir, por experimentar a adolescência.

– Você quer ser beijada por mim?

O loiro pergunta, aproximando seu rosto do meu. Minhas pernas viraram gelatinas nesse momento.

– Sim. Sempre tive curiosidade de saber como é ser beijada. – Respondo e ele sorri.

De repente, ele se afasta e levanta da bancada. Faz a volta na mesa, até estar em minha frente. Assim tão perto, o garoto é mais lindo ainda, de tirar o fôlego e muito mais alto que eu. Percebo algumas sardas no seu belo rosto.

– Vai ser um prazer te beijar, garota cupcake. – Sua mão acaricia minha face e estou hipnotizada.

É a primeira vez que sinto algo assim por
qualquer pessoa. Seu corpo se inclina, ao passo que suas mãos seguram minha
cintura, colando nossos troncos. Sua boca encosta na minha e sim eu vejo estrelas. O beijo começa estranho, porém, aprendo a dinâmica e com certeza esse é o melhor primeiro beijo que uma garota poderia sonhar. 

– Você é linda!

O garoto fala e volta a me beijar. Todavia, uma batida nos assusta, fazendo com que nos afastemos rapidamente.

– Filho, preciso que conheça uma pessoa. Venha!  – Uma mulher loira e muito bonita diz com um sorriso divertido pelo flagra que nos deu.

– Estou indo! Até mais, garota cupcake. Obrigada por tudo. – Aceno em concordância, enquanto ele se afasta.

Estou estagnada no lugar, até que o garoto se vira. Nos encaramos por algum tempo, minha respiração descompassada, ele sorri e vai embora.

Eu nunca mais o vi, aquela tarde ficou apenas nas minhas lembranças mais doces e especiais.

Almas Gêmeas - JIROSEOnde histórias criam vida. Descubra agora