10 ANOS
Estou dormindo em minha cama quente, agarrada no meu ursinho preferido, quando sinto um carinho em minha cabeça e um beijo familiar em minha testa. O perfume com certeza é da minha mãe, o cheiro de flores é uma característica dela. Tento abrir os olhos, mas estou tão cansada.
Meus pais ficaram de voltar da viagem nessa noite, queria muito ficar acordada esperando por eles, mas o sono me venceu. E agora não
consigo despertar. Mamãe sai do meu quarto e eu suspiro com a sensação de alívio. Há cinco dias que eles estão viajando, com meus padrinhos. Meus pais nunca tiveram lua de mel, pois mamãe estava grávida de mim quando casaram.Então, quando foram convidados para essa viagem só de casais, patrocinada pela empresa do papai e do titio Mason, eles não recusaram.
Apesar da minha mãe resistir. E como já sou grande, Julia minha babá cuidou de mim nesse tempo.
Com o coração quentinho com a chegada deles, volto para meus sonhos mais profundos. Desde bebezinho sempre tive um sono pesado, por isso, custo a perceber as mãos sob os meus ombros, tentando me acordar.
– Rosinha querida, preciso que você acorde! – A voz soa desesperada e não sei o que acontece.
– Ju porque você está aqui? Mamãe e papai já chegaram. – Digo esfregando meus olhos.
– Querida, eu… – Julia não consegue concluir a frase, pois começa a chorar compulsivamente.
– Ju, por que tá chorando?
Seguro sua mão e acaricio. Acho que
nunca vi a garota chorar. Nem quando assistimos filmes tristes de cachorrinhos.– Roseane! – Uma policial na porta chama pelo meu nome. – Eu sou a policial Garcia. Viemos conversar com você. – Diz adentrando meu quarto e eu recuo até a cabeceira da cama, segurando meus joelhos no peito.
Mamãe sempre disse para eu ter cuidado com os policiais.
– Sobre o quê? Eu fiz algo errado?
Pergunto nervosa.
– Não, querida. – A policial senta ao meu lado e coloca a mão sob a minha. – Precisávamos falar sobre seus pais, meu anjo. – Sua voz é doce, mas sinto que algo não está certo.
– O que tem eles?
– Rosinha, eles sofreram um acidente de carro! – Júlia exclama ao sentar do meu outro lado e me abraçar.
Meu coração acelera e sinto vontade de gritar, de chorar. Um sentimento que não sei explicar.
– Eu não entendo. Mamãe estava aqui agora há pouco. – Comento e as lágrimas começam escorrer por minhas bochechas.
– Querida, seus pais e padrinhos viraram estrelinhas. – Observo atenta o que a policial fala. – Eu prometo que vai ficar tudo bem. Mas, preciso que você venha comigo, pode ser?
– Não quero, não quero ir! – Grito desesperada, um soluço rompe do meu peito.
Julia me abraça mais forte. A policial acarícia minhas costas. Logo, pede que eu a olhe e assim o faço.
– Roseane, garotas como nós, precisam ser fortes. Eu vou ficar ao seu lado o tempo todo, você pode ser forte comigo?
Aceno em concordância.
Limpo as lágrimas do rosto e me levanto. Mamãe dizia que as mulheres precisam apoiar outras mulheres. Que juntas somos mais fortes. A policial Garcia pega minha mão, direcionando-me para o andar de baixo.
Êxito, mas sigo na sua companhia.
– Rosinha, vou arrumar suas coisas. Quer levar o ursinho?
Julia pergunta com um semblante carregado de tristeza. Algo muda dentro de mim e
respondo:– Não preciso mais dele! Só quero a câmera da mamãe, por favor. — E dito isso, eu saio do meu quarto, deixando para trás todas as coisas boas que vivi ao lado da minha família.
Naquela noite, minha vida mudou drasticamente, tudo que eu conhecia desapareceu. Não tive a chance de me despedir, de abraçar meus pais e meus padrinhos uma última vez.