Bestas.
Neste mundo cheio de espécimes humanóides, as bestas são as que melhor se encaixam em dois mundos distintos, animais e humanos, não só humanos como demônios e outros místicos também.
Os homens lagartos, meio humanos, meio lagartos, com corpos longos e cabeça de animal, dentes afiados e caudas esverdeadas. Vivendo em algum lugar afastados dos humanos assim como muitas outras bestas, se escondendo e se refugiando desses seres nojentos e sanguinários.Seu corpo se esgueirou pelas sombras do corredor de pedregulhos velhos, com fechos de luz invadindo onde não tocava. Usando seu cachecol para tapar os lábios e nariz, para que sua respiração soasse baixa e não fosse ouvida.
Seu corpo se estendeu por uma das paredes, ouvindo vozes de freiras e logo em seguida os gritos de horror. Fechou os olhos por mais alguns segundos enquanto o corpo se contorcia contra a parede para evitar ser vista. Seria um pesadelo ser descoberta e torturada pela morte de um padre.
Lilith suspirou ao conseguir sair, olhando para o sangue em sua roupa enquanto fugia dos olhares do povo.Abriu a porta do quarto, vendo Edgar e Sun sentados na cama.
Retirou o cachecol e o jogou à cabeceira — Bom dia, gente.
— Senhorita Lilith! Por onde andou?
Balançou o dinheiro em sua mão — Trabalhando.
Sorriu — Uh, fez o pão do dia.
A jovem se jogou no colchão, que balançou com seu peso — Agora temos café da manhã garantido.
— Só se for do dia seguinte — Seu dedo apontou para o pequeno cômodo ao lado, com Colen cozinhando e cantarolando como um provável costume. O cheiro das panquecas começava a se expandir até a cama, enquanto ouvia a fritura do bacon ao lado. Leite fervendo na panela e os pratos dispostos pela pia prontos para abraçar a comida.
Deu um leve sorriso, vendo como o grande homem vestia um avental feminino, de cabelo preso num rabo de cavalo alto e sua bunda seguindo o ritmo de sua canção.
— Então ele sabe cozinhar?
O ruivo se aproximou, abraçando Lilith e encaixando o rosto em seu pescoço — Aham, cozinha feito pai de família.
Edgar balançou a cabeça vendo os dois juntos — Tão melosos para "amigos".
A mulher riu — Não sou do tipo que se apaixona só com um abraço.
— Só você mesmo, aqui não tem perca de tempo — Se gabou.
A mulher revirou os olhos — Você é o primeiro homem galinha que conheço.
— Eu?! — Bufou, com as pontas dos dedos no peito — Eu sou um homem de respeito. Só sei aproveitar que estou na minha melhor fase pra arrumar umas gatinhas.
Colen ouviu a conversa atrás de si e deu uma gargalhada alta — Você na sua melhor fase com "gatinhas"?
Rangeu os dentes — Por que a pergunta?
— Não sei... Mas imaginava que você fosse mais uma prostituta barata para homens do que para mulheres.
— Ei! — Jogou uma almofada em suas costas — Você não sabe de nada! Vá ao inferno.
— Ir para sua casa? Só depois que me pagar um jantar.
— Eu não pagaria nem uma rapidinha com você.
— Você não aguentaria de qualquer forma — Provocou, mostrando a língua — Devia respeitar seu pai.
— Sonhe alto que talvez um dia alcance. Só porque você é pai de consideração não significa que vou te tratar como um.
Revirou os olhos rindo — Vai ficar de castigo, hein.
Riu — Idiota.
— Senhor Colen, me responda algo — Disse Sun — Quando você e meu irmão se conheceram? São tão próximos.
— Ah sim... — Sorriu, se virando — Faz tantos anos... Você era uma criancinha rechonchuda e com um cabelo bagunçado. Edgar tinha por volta dos 13, eu estava com 24.
Passei quase dois anos na cidade onde vocês moravam.Os olhos de Colen brilhavam com o sorriso do garoto. Colen também, com cabelos que ainda cresciam e uma barba rala. Sorriu, com roupas novas nas sacolas para seu agora filho. A luz do sol iluminava a cidade e suas ruas, mas não tanto quanto seus sorrisos.
— É... Eu me lembro dessa época... — Edgar sorriu.
— Se lembra...? Você me chamava de Senhor Colen, assim como Sun.
Abaixou o rosto — Lembro que você chorou quando te chamei de pai… — Riu — Seu frouxo.Seus dedos fracos tentaram estupidamente passar a agulha pelo tecido.
— Shiiih, fique quietinho! — O garoto de cabelos brancos virou o rosto para baixo, vendo um pequeno bebê, agitado e com cachos bagunçados, seu rosto estava vermelho e chorava sem parar.
A agulha passou o pano e machucou seu dedo, deu um gritinho fino e colocou o dedo dentro dos lábios.
O ruivo começou a chorar mais alto. — Se acalma, por favor — O segurou em seus braços e a criança se debateu — Fica calmo, neném... Por favor... Fica calmo, por favor — Abaixou a cabeça e franziu o rosto enquanto chorava, balançando a criança em seus braços.
Sentados numa esquina qualquer, com uma pequena cabana e pessoas que passavam com olhares de reprovação.
O garoto continuou a chorar — Para de chorar, por favor...! — Soluçou.
— Ei...
Uma voz adulta o assustou, levantou o rosto rapidamente e viu o semblante preocupado. Um homem de pele parda, olhos brilhantes. Havia uma pequena cicatriz em seu olho, um sorriso na barba rala e cabelos que roçavam na gola da camisa.
O homem continuou a sorrir, o que fez com que as lágrimas continuassem a descer. Pela primeira vez em tanto tempo um rosto amigável.
— Você está sozinho?
Balançou a cabeça.
— Qual seu nome?
— Edgar... Edgar White...
Sorriu — Eu sou Colen Ricch — Seu irmãozinho voltou a se debater, o homem o segurou em seu colo e acariciou a criança.
— O que ele tem?
Virou os olhos baixo — Ele tá com fome... Eu já tentei pedir na taverna ali do lado mas me expulsaram...
Suspirou — Não comem a quanto tempo...?
O menino voltou a chorar — Três dias... — Esfregou os olhos.
Colen estendeu sua mão — Para de chorar... Vem, eu tenho comida em casa. Vou dar um banho em vocês.
O rosto se iluminou, segurou a mão tão grossa, era maior que sua cabeça. Todo o caminho sentiu o peito bater rápido e as lágrimas involuntárias, uma mistura de alegria e medo.
Era confusa a situação. Edgar não sabia quais as intenções do homem, nem ao menos sabia se defender contra um adulto de 2 metros.
Agora já era tarde.
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Assassina de Pandora
FantasyÉ inevitável se perder na confusão do acaso. E é inevitável se entregar quando ele lhe oferece o que mais desejava. Neste complexo mundo literário, em meio aos meados do século XIX na Rússia, um mundo de reinos, magia e diversas espécies humanóides...