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Por três vezes, a faixa de luz que que passava por entre a porta e o chão da cela se apagou até a total escuridão e depois brilhou até que Alessa pudesse enxergar a própria mão na sua frente. Três dias se passaram desde que ela foi jogada lá, faziam três dias que ninguém aparecia, faziam três dias que ela não se alimentava ou bebia algo.

Em um último ato de sadismo, Negan escolheu a antiga cela de Daryl para abandonar Alessa. Haviam outras celas vazias, muitas outras, mas ele escolheu aquela propositalmente.

Aquele era um lugar difícil de respirar. Por sorte, ela ainda estava com o seu jaleco quando foi jogada lá e ele a ajudou a passar pelas noites congelantes. A falta dos seus cigarros foi um problema só até o segundo dia, naquele momento a sede superava qualquer outra necessidade de Less, deixando a sua boca seca e os seus lábios ressecados.

Pelo contrário do que a idéia de passar dias sozinha em um cubículo escuro e frio poderia parecer, o tempo passou rápido. Rápido demais. Todas aquelas horas que Alessa ficou ali, ela passou imaginando e tendo pesadelos com o que Negan faria com ela quando aquela porta se abrisse.

Mas e se aquela porta nunca mais se abrisse? E se morrer de fome e sede fosse a punição escolhida por ele para Alessa?

De repente alguém parou em frente a porta e um par de pernas refletiu uma sombra na sua pequena fonte de luz. O coração dela palpitou. Less ouviu chaves balançando e a luz do dia preencheu a cela por completo, fazendo os seus olhos doerem.

Era ele. Alessa se encolheu no canto da cela perdendo toda a sua postura orgulhosa. Negan ficou parado olhando de cima para ela. Quando os olhos de Less se adaptaram a luz, ela viu aquele olhar arrogante no rosto dele.

-Você vai pegar ou não, Lessie?- ele perguntou sem paciência e só então ela notou a garrafa de água estendida para ela.

Alessa arrancou a garrafa da mão dele. Ela bebeu sem se importar em respirar e quando não sobrou mais nada ela escorregou seus dedos pelos cantos dos lábios e bochechas tentando capturar as gotas que escorreram por ali.

-De nada- Negan sorriu presunçoso, mas Less não respondeu- bom, já faz um tempo que você está aqui, achei que gostaria de sair um pouco- ele falou e Alessa não respondeu outra vez, ela apenas o observava por baixo dos cílios- tem uma coisa que a gente fez muito tempo atrás, você deve se lembrar- ele gesticulou- nós saímos de carro até aquele penhasco, aquilo foi bom para um cacete para a gente... Aquilo nos aproximou...- ele suspirou- e porra... Depois de toda essa briga de marido e mulher, eu acho que nós precisamos disso de novo.

"Briga de marido e mulher?", Less riu soltando o ar pelo nariz. Um riso incrédulo. Ela tentou matar ele! Ela queria ele morto! Como ele pôde diminuir o que aconteceu daquele jeito?

-Sabia que iria gostar da idéia- Negan abriu um sorriso largo vendo o olhar mortal de Alessa para ele- vem- ele estendeu a mão para ajudar ela a se levantar.

Alessa demorou, mas segurou a mão dele. Os trabalhadores olhavam curiosos para Less enquanto ela e Negan atravessavam os corredores. Ele carregava um sorriso quase imperceptível, mas estava lá, mostrando que ele era o vencedor e Less naquele estado era o seu prêmio.

-Espere aqui, boneca- ele mandou e Alessa obedeceu.

Ela observou ele ir até o Dwight e falar alguma coisa para o loiro. O salvador concordou com o que quer que Negan tenha falado e antes de sair olhou por cima do ombro de Negan para Less, um olhar rápido, mas que carregava remorso.

-Entre no carro, Lessie- Negan apontou para o Dodge Charger preto parado do lado de fora da fábrica.

Alessa caminhou na frente e ele foi logo atrás. Saber que Negan estava bem ali atrás seguindo-a de perto com Lucille em seus ombros era sufocante. Tudo piorava por ela não conseguir decifrar o que ele estava sentindo por baixo daquela máscara que ele usava.

Destinos Cruzados | Daryl Dixon | The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora