Capítulo 4 - Subindo no pódio

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Gabriela Guimarães

A manhã antes do jogo foi tensa. Acordei com uma sensação de peso no peito, como se cada respiração fosse uma lembrança do que estava em jogo. Como capitã da seleção brasileira de vôlei feminino, o peso da responsabilidade nunca foi tão esmagador. A derrota para os Estados Unidos na semifinal ainda doía, mas eu sabia que não podíamos deixar isso nos definir. Precisávamos transformar essa dor em força.

No vestiário, a atmosfera era pesada, quase palpável. Caminhei entre minhas companheiras, tentando absorver cada expressão, cada gesto. Thaisa, nossa veterana, estava com o olhar fixo no chão, mas eu sabia que, por dentro, ela já estava se preparando para a batalha. Ela sempre foi nossa rocha, inabalável nos momentos de crise. Ana Cristina, nossa jovem promessa, mexia nervosamente nas ataduras dos dedos. Vi o medo nos olhos dela, o medo de falhar novamente. Eu preciso tirar isso dela. Preciso que ela confie.

— Gente, vamos lembrar por que estamos aqui. — Comecei, e ouvi minha própria voz trêmula, mas carregada de convicção. — Cada ponto que vamos disputar hoje é uma oportunidade de mostrar quem somos. Não só para o mundo, mas para nós mesmas.

As palavras saíram do meu coração, e senti que, aos poucos, elas começaram a surtir efeito. Thaisa ergueu a cabeça e me olhou com firmeza, Rosamaria parou de se alongar e assentiu, como se dissesse "estou contigo". Eu sabia que não estava sozinha. Estávamos todas juntas nisso.

Quando entramos em quadra, o barulho da torcida nos envolveu como uma onda. Mas tudo o que eu conseguia ouvir era o som do meu próprio coração, acelerado, batendo como um tambor de guerra. A Turquia começou forte, abrindo 3 a 0 logo no primeiro set. Senti um aperto no peito, o mesmo aperto que senti na semifinal, quando vimos a vitória escapar por entre os dedos. Mas não podia deixar que isso nos paralisasse.

Caminhei até a rede, onde Thaisa estava pronta para o próximo saque da Turquia.

— Vamos virar isso agora — sussurrei para ela. — Elas não vão segurar a gente.

Thaisa me olhou com uma intensidade que me fez acreditar ainda mais. E então, algo mudou. Conseguimos uma sequência de pontos, e de repente, estávamos na frente: 8 a 4. Cada bloqueio que eu fazia, cada defesa que Rosamaria conseguia, sentia uma parte da tensão se dissipar.

Era como se o time inteiro respirasse junto, um suspiro coletivo de alívio e determinação. Fechamos o primeiro set por 25 a 21, e enquanto caminhávamos para o banco, olhei para as meninas e vi a confiança voltando. Estávamos só começando.

O segundo set foi um verdadeiro teste de nervos. A Turquia não cedeu, e logo abriu 19 a 15. Por um momento, senti o pânico tentando me infiltrar de novo. Vi Ana Cristina ser bloqueada mais uma vez, e o desespero nos olhos dela era evidente. Não podia deixá-la afundar. Me aproximei rapidamente, puxando-a para um lado.

— Ana, olha pra mim — disse, tentando transmitir toda a segurança que eu podia. — Você é mais forte do que isso. Confia no teu jogo, porque a gente confia.

Ela assentiu, com os olhos ainda marejados, mas vi uma nova chama se acender. Voltamos ao jogo, e com uma incrível sequência de bloqueios e ataques precisos, conseguimos virar o placar. O set se estendeu além dos 25 pontos, mas não desistimos. Cada ponto era uma guerra, e nós vencemos essa batalha por 27 a 25. Quando o set terminou, eu estava exausta, mas cheia de orgulho. Sabíamos que podíamos fazer isso.

No terceiro set, a Turquia veio com tudo. Perdemos por 25 a 22, e por um segundo, o fantasma da derrota tentou nos assombrar. Mas eu não podia deixar isso nos abalar. Falei com o time antes do quarto set começar:

— Esse é o nosso jogo. Vamos fechar isso agora.

E assim fizemos. Entramos com uma energia renovada, com uma agressividade que não havíamos mostrado nos sets anteriores. Thaísa dominou na rede, bloqueando qualquer tentativa de ataque da Turquia. Eu sentia cada batida do meu coração se alinhar com cada ponto que fazíamos. Abrimos uma vantagem confortável, e quando chegamos aos 12 a 8, eu sabia que estávamos no caminho certo. Fechamos o set em 25 a 15, e quando o apito final soou, caí de joelhos. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eram lágrimas de alívio, de felicidade.

Através de saques e saltosOnde histórias criam vida. Descubra agora