Capítulo 5 - Voltando a realidade

556 52 4
                                    




Gabriela Guimarães

A festa de comemoração estava em pleno vapor, aquela noite jamais será esquecida por cada uma e principalmente por mim. Finalmente podíamos relaxar e aproveitar o sabor da vitória contra a Turquia e esperar para recebermos nossas medalhas. Eu estava muito orgulhosa de todas elas, eu não sei como voltaria para casa sem que ganhássemos uma medalha, viemos até aqui com um propósito e não seria nada legal voltar de mãos vazias.

— Gabizinha, peguei mais uma bebida para você. — Carolina se aproximou.

— Obrigada Carol. — Disse, ela se acomodou ao meu lado enquanto encarava Anne com um sorriso no rosto.

— Por que está aqui isolada? — Ela perguntou.

— Estou em êxtase ainda. — Dei risada. — Feliz por todas nós.

— É, sei bem como é. — Carol me encarou. — Afinal, quem é a garota que aquela repórter perguntou mais cedo?

Sim, a Sunisa causou usando uma camiseta do Brasil e com meu número na torcida do jogo de hoje. E não fui a única a notar, isso até que incomodava um pouco.

— A Suni? Uma garota que eu conheci. — Disse, tentando não sorrir.

— Ah Gabriela, de segredinho pra cima de mim? — Carolina zombou. — Você está tendo um caso com ela?

— Eu tentei.. — Abri um sorriso lateral.

— Tentou?

— Sim, meio que ela escapou por entre meus dedos. — Expliquei. — Foi somente uma, quase, aventura de Paris.

— Espera, é aquela ginasta que fomos assistir? — Ela perguntou. — Ohh, agora eu sei.

— É ela mesmo. — Respondi, lembrando do dia em que a vi pela primeira vez. A forma como ela me encantou foi... Diferente.

— Abaixa a guarda capitã. — Carol iniciou. — Se eu pudesse te dar um conselho, é esquecer a necessidade de controlar tudo o tempo todo. Você já carrega tanto nos ombros, talvez seja hora de permitir-se viver algo fora do padrão. Quem sabe essa 'quase aventura' não poderia ser mais?

As palavras de Carol ressoaram em minha mente. Eu era acostumada a manter as coisas sob controle, principalmente quando se tratava de minha carreira. Mas havia algo em Sunisa que me fazia querer abaixar a guarda, me deixar levar. Talvez Carol estivesse certa; talvez eu devesse me permitir sentir, sem as amarras do controle.

— Eu sei, Carol, mas é difícil. — Respondi, olhando para a multidão de jogadoras comemorando. — Eu sempre fui assim, sempre precisei estar no comando, mesmo nos meus relacionamentos.

— Não estou dizendo para você perder o controle, Gabi. Só estou sugerindo que, talvez, essa seja uma daquelas oportunidades que você não pode deixar passar. — Ela sorriu. — Afinal, você é a Gabi Guimarães, capitã da seleção brasileira de vôlei. Se tem alguém que pode conciliar as duas coisas, é você.

Sorri para ela, sentindo uma mistura de gratidão e incerteza. Era verdade, sempre fui muito exigente comigo mesma, e isso se refletia em todas as áreas da minha vida. Mas, por outro lado, Sunisa havia despertado algo em mim que eu não sentia há muito tempo, uma vontade de me entregar sem reservas, de viver o momento.

Enquanto a festa continuava, minha mente vagava entre as palavras de Carol e as lembranças de Sunisa. Talvez Carol estivesse certa, talvez fosse hora de deixar a capitã de lado e apenas ser Gabi. Ainda havia tempo para mudar o que parecia ser um fim abrupto para nossa história em Paris.

De repente, me levantei, decidida.

— Vou dar uma volta, Carol. — Disse, tentando esconder o nervosismo na minha voz.

Através de saques e saltosOnde histórias criam vida. Descubra agora