Capítulo 1 - Faísca

1.1K 84 9
                                    


Gabriela Guimarães

Após uma série de jogos classificatórios intensos, finalmente nosso treinador nos concedeu um dia de descanso. Até o momento, éramos um dos times que não havia perdido nenhum set e estávamos a caminho do ouro, intactas. Sentia um misto de alívio e animação. Meu corpo implorava para cair na cama, mas eu não queria dar espaço para pensamentos indesejados.

A verdade era que eu ainda estava me recuperando de um relacionamento conturbado. Minha ex-namorada havia encerrado nosso relacionamento poucos meses antes das Olimpíadas, e a dor ainda estava fresca. Estava emocionalmente exausta e, de certa forma, Paris era um recomeço, uma chance de me reconectar comigo mesma e deixar para trás as mágoas do passado.

— Gabi, as meninas estavam pensando em ir assistir à ginástica artística — Thaisa disse, ao entrar em nosso quarto. Nós duas estávamos dividindo o quarto na Vila Olímpica e era bom dividir o espaço com alguém tão empolgada e com um humor ácido. Thaisa era minha alegria. — Não vai ficar aqui chorando as pitangas, vamos porra!

— Calma, eu vou! — Dei risada. — Posso tomar um banho, pelo menos?

— Rápido. — Ela deu um tapa em minha bunda, fazendo-me rir.

Me arrumei rapidamente, colocando uma roupa mais confortável e uma camisa do Brasil, para poder torcer pelas meninas da ginástica. As arquibancadas estavam lotadas de torcedores de vários países. Fomos muito bem recebidas pelos torcedores brasileiros e conseguimos ótimos lugares para ver as provas.

— Estou tão nervosa quanto nos nossos próprios jogos — confessou Carol, sentando-se ao meu lado. Ela tinha trazido um bloquinho e uma caneta para fazer as contas das pontuações e isso me fez rir.

— Vai ser incrível. Acho que teremos dobradinha do Brasil no pódio. — Esfrego minhas mãos, ansiosa.

A competição não demorou a começar, e nós vibramos a cada movimento das ginastas brasileiras. Eu, no entanto, não conseguia evitar que meu olhar vagasse pela arena de vez em quando, admirando a destreza e a habilidade das outras atletas.

— Como estamos até agora? — Perguntei.

— A Simone não pode ir tão bem no próximo aparelho... — Carol estava tensa, como ela fica antes de qualquer partida. Mas o momento era tenso, os aparelhos estavam chegando ao fim e Rebeca era a única próxima da medalha.

Entre uma apresentação e outra, meus olhos pousaram em uma ginasta americana. Ela exalava uma beleza sem igual, vestida com um lindo collant azul e vermelho com muito brilho. Havia algo nela que capturava a atenção de todos ao seu redor, inclusive a minha.

— Quem é aquela? — Desta vez, perguntei para Roberta, que era a que mais acompanhava a ginástica nas Olimpíadas.

— É a Sunisa Lee. Ela é incrível, Gabi. Esta é a segunda Olimpíada dela. — Respondeu Roberta, empolgada.

— Ela é muito bonita, cara — Afirmei, e Roberta balançou a cabeça em concordância.

Sunisa Lee. O nome soou doce aos meus ouvidos e continuei a observá-la de onde estava. Era fácil se fascinar com uma beleza como a dela, e eu me pegava ansiosa para ver sua próxima performance.

O momento decisivo da competição chegou, e meu coração batia acelerado quando anunciaram os vencedores. Rebeca teve uma excelente performance e conseguiu a medalha de prata. Toda a torcida vibrou de alegria, gritando e aplaudindo. Ela merecia cada aplauso, cada grito de apoio. As meninas se empolgaram tanto que saíram distribuindo abraços entre si e logo fui agarrada por Carol e, em seguida, pela Roberta.

Através de saques e saltosOnde histórias criam vida. Descubra agora