Capítulo 29 - Você não é quem eu quero

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Gabriela Guimarães

Meses se passaram desde a última vez que Sunisa falou comigo. A imagem dela, com lágrimas nos olhos e uma expressão que desmoronou todo o meu mundo, não saía da minha cabeça.

Era uma dor diferente de qualquer outra que eu já tinha sentido, mais forte do que qualquer lesão que um dia tive.

O que mais me consumia era o fato de que eu não podia ir atrás dela, não podia tocá-la, não podia fazer nada para consertar o que havíamos quebrado.

Era como se o espaço entre nós fosse uma muralha intransponível, e isso esmagava meu peito até não sobrar mais nada.

Coloquei todos os meus sentimentos nos treinos, me enterrei em cada repetição, em cada jogo e isso era a única coisa que me tranquilizava, depois que ela partiu. Mas, ao chegar em caso no fim dos dias, na casa em que ela esteve e eu juro, que ainda podia sentir o cheiro dela por toda parte. Era somente o vazio em meu peito que era real, somente aquele vazio extremo e a culpa pesada em meus ombros.

Como eu achei que esconder o cartão seria bom? Qual o sentido disso?

Eu deveria ter dito, eu deveria ter mostrado, deveria ter sido sincera... Ela só queria que eu fosse sincera.

E chega até ser irônico que eu não fui clara com ela, sendo que meu último relacionamento acabou por conta disso, por uma traição, por uma mentira e eu só queria que ela fosse sincera comigo.

Eu não queria ser essa pessoa para ninguém.

Eu acompanhava cada passo de Suni pelas redes sociais, não perdia um vídeo ou foto postada. Eu a admirava através das telas, lembrando de quando ela estava comigo, de quando eu acordava mais cedo só para vê-la dormir. E de como eu amava quando ela sorria ao me ver, da forma como seus olhos enchiam de lágrimas quando eu afirmava o tanto que gostava dela. Como você faz falta, Sunisa...

Assistia às entrevistas que ela dava, como se estivesse tentando agarrar qualquer pedaço de sua vida que ainda me restava. Quando ela saía em revistas, eu comprava todas. Meus armários estavam cheios de exemplares, cada um com sua capa estonteante, e em cada uma delas, eu via o que havia perdido.

E então, como se as coisas não pudessem ficar mais complicadas, após a chegada de Rebeca na Itália, suas mensagens começaram a chegar. No início, eram inocentes, apenas uma amiga checando como eu estava. Mas, conforme o tempo passava, as mensagens se tornaram mais insistentes.

Rebeca: Oi, Gabi, tudo bem? Vamos marcar algo esse fim de semana? Estou com saudades.

Ignorei por um tempo, mas ela não desistia.

Rebeca: Saudade de conversar com você, vamos tomar um café?

E, claro, mais uma vez, tentei dar uma desculpa qualquer.

Gabriela: Oi, Rebeca. Tá tudo meio corrido agora, muitos treinos antes de mais Liga, sabe?

Mas ela insistia.

Rebeca: Sei, mas você também precisa relaxar, né? Vem, nem que seja por um tempinho. A gente se diverte, como nos velhos tempos.

— Gabi, o que está acontecendo entre você e a Rebeca? — Perguntou Isa, enquanto voltávamos para casa, após finalizarmos mais um treino. Eu hesitei, não querendo entrar naquele assunto, mas ela era minha melhor amiga, então acabei desabando.

— Ela está me mandando várias mensagens. Quer se encontrar, tomar café... sei lá, fazer algo. — Respondi, mexendo nervosamente as pernas.

— E o que você vai fazer? — Isa perguntou, levantando uma sobrancelha.

Através de saques e saltosOnde histórias criam vida. Descubra agora