27. Devolve minha Garota

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As palavras escritas por Liam embaralhavam-se diante dos meus olhos. A cada frase, sentia que poderia chorar se ainda tivesse lágrimas. Tudo aconteceu tão rápido: o incêndio, o caos, o grito de Fritz, a explosão... e eu desmaiei, só para acordar sequestrada novamente, agora por outra pessoa e por motivo de vingança pessoal.

Após mostrar sua declaração, Liam guardou o caderninho e a caneta no bolso e saiu do carro. Ele abriu a porta de trás e me puxou para fora, segurando meu braço. Como estava algemada, não tive escolha senão me deixar levar.

Havia anoitecido, de longe ouvia o canto estridente de cigarras e coaxar de sapo. Eu caí ao chão e ele me arrastou por uma trilha. O local era remoto, escuro, cercado de árvores. Onde estava? Que merda era essa? Meu pulmão estava fraco; a cada inspiração, o oxigênio parecia se dissipar e eu sufocava.

- Liam... - tentei falar, tossindo enquanto era arrastada, meus pés descalços tocando a terra batida. - Liam... Me ouça... Eu sinto muito... Conheci Fritz e também fui enganada por ele... Liam...

Ele ignorou meus clamores e continuou me conduzindo para o desconhecido. Chegamos a um terreno vasto, iluminado por lâmpadas de jardim, onde se destacava uma casa de campo luxuosa. Em meu estado horrível, mal conseguia absorver os detalhes.

Liam me arrastou além da casa, até a parte de trás no jardim, onde havia um pequeno galpão, uma espécie de cabana de madeira. Abriu a porta e me jogou pra dentro.

Colocou tanta força que eu voei contra o chão, indo com os ombros no assoalho. Debilitada e confusa, não me esforcei para levantar. Do jeito que estava, fiquei, abraçada pela escuridão.

(...)

Acordei com a sensação invasiva de picada no braço. Arregalei os olhos assustada e me deparei com Liam, ele estava agachado na minha frente, aplicando o conteúdo de uma seringa direto em minhas veias. Gritei rouca, com um clamar de pânico através da garganta seca, e ele arrancou a seringa para pegar o seu caderno, virou a folha adiante do meu rosto para que eu lesse.

"Isso é remédio, você inalou muita fumaça e precisa de medicação para os próximos dias. Eu trouxe água e alimento. Chelsea, me deixe esclarecer algumas coisas. Primeiro, essa cabana fica na propriedade do meu pai. Fritz não conhece esse lugar, então acho que estarei seguro aqui. Segundo, eu não vou te matar, então não precisa ter medo de mim. Apesar de eu ter ajudado Fritz em muita coisa, me arrependo. Terceiro, tampouco posso chamar a polícia, já fui preso uma vez e não quero voltar pra prisão nunca mais. Alguma dúvida??"

Balancei a cabeça em negativo após ler, embora tivesse incontáveis dúvidas. Estava sentada no chão, apoiada na parede de madeira. Liam deve ter tomado banho porque não estava mais sujo, havia trocado de roupa - só usava preto - e sua queimadura do pescoço parecia em melhor aspecto.

A iluminação do Sol invadia a cabana e alcançava meu rosto preto de fuligem. Meu corpo reclamava, por estar há muito tempo algemada.

- Me solta... Me solta, por favor. - pedi, observando o garoto pegar água em um engradado sobre a mesa. - Cadê o Fritz? Você deixou... Deixou ele pra morrer?

Liam agachou de novo na minha frente, abriu a garrafa e me deu na boca. Eu recebi o líquido ensandecida, a cada gole que ingeria, era como se meu corpo revigorasse. Depois, ele pegou o caderninho do bolso e anotou algo.

"Vou te soltar da algema, mas vou ter que te manter aqui na cabana. Eu não sei se Fritz sobreviveu ao incêndio, ele desmaiou nos escombros em chamas e não fiquei pra ver. Te peguei, enfiei no carro e trouxe pra cá." - escreveu e me mostrou.

Que garoto burro... Provocou o diabo em pessoa.

- Se ele sobreviveu, ele vai te caçar... - falei. - Vai te queimar vivo pelo o que fez.

A Vítima Perfeita || Bill Skarsgård Onde histórias criam vida. Descubra agora