28. Memento Mori

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Devido à fraqueza por estar sem me alimentar e após inalar fumaça, desmaiei debilitada aos braços de Fritz, me sentindo estranhamente segura por sobreviver aos últimos terríveis trinta dias.

Após se tornar meu martírio e me levar à limites, Fritz ainda me surpreendia, a ponto de me fazer desistir de lutar, desistir de negar...

Talvez eu estivesse fadada a ele. E se algo tentasse impedir, com certeza ele mataria. Era uma terrível epifania onde tudo se tornava claro como água e sombrio como meus sentimentos: nada poderia ir contra a obsessão de Fritz .

(...)

Acordei tempos depois, em outro lugar.
O teto branco e limpo foi a primeira coisa que meus olhos cansados viram. Estava em um quarto de hospital, em uma cama hospitalar e cercada de aparelhagens médicas.

Olhei para mim mesma, haviam cateteres presos em minhas veias. Levei a mão com sondas para o rosto, com algo desconfortável no nariz e percebi que era um curativo.

Confusa, olhei para o lado e encontrei uma mulher alta, magra e bonita, usava roupa de enfermeira. Sua pele era negra e os cabelos curtos. Mexia em algo em cima da mesinha de vidro, de costas.

- Olá... - tentei falar e minha voz saiu rouca.

Na mesma hora, a desconhecida virou pra mim, com um sorriso expressivo.

- Chelsea!! Sabia que ia acordar agora, na hora certa. - se aproximou trazendo uma bandeja com tigela com sopa e pães fatiados. - Acabei de fazer pra você, deve tá faminta.

Acionou um botão na cama reclinável, pondo na posição sentada. Posicionou a bandeja em meu colo.

- O que...

- Me desculpe, esqueci de explicar. Me chamo Olivia, sou esposa do doutor Henrike, amigo do Fritz. Sou enfermeira, responsável pela sua recuperação.

Peguei a colher com os sentidos e pensamentos vagarosos, processando devagar.

- Onde tá o Fritz?

- Fritz tava esperando por seu despertar. Vou avisar que você acordou. Enquanto isso, coma a sopa, você precisa se alimentar. Tá muito fraca, tô introduzindo soro pra reidratar seu organismo. Seu nariz foi fraturado, então imobilizei com esse curativo.

- Espera... - chamei, antes que ela saísse. - Que lugar é esse?

- É a casa do meu marido, do Henrike. - explicou com seu sorriso enorme. - Em breve, vocês se conhecerão.

Então a enfermeira se retirou. Meio dopada de remédios e com a mente lenta, imaginei que fosse a casa de mais um médico clandestino metido a tráfico de órgãos.

Enquanto Fritz não vinha, comecei a me alimentar. Apesar de não sentir o gosto, a sopa me revigorou de imediato.

Após alguns minutos, com a tigela ao fim, a porta abriu e Fritz apareceu. Eu larguei a colher e paralisei ao vê-lo. Seu cabelo estava bem penteado, mais curto, o rosto magro e perfeito estava impecável como sempre. Usava camisa social cinza. Fui tomada por um imenso alívio. Que loucura, aliviada em ver Fritz... ele fodeu mesmo com minha cabeça.

Se aproximou com um sorriso que demonstrava quase devoção.

- Chelsea... Finalmente você acordou.

Eu dei um sorriso torto, sem saber como agir com o reencontro estranho. Não saberia dizer, mas havia algo em Fritz e na forma como me olhava. Um vulto de estranheza que me incomodou. Mas debilitada, achei que fosse minha imaginação.

- Você tá vivo mesmo, por um instante pensei que fosse coisa da minha cabeça...

- Claro que tô vivo. Demorei muito pra ir te salvar? - perguntou, enfiando os dedos nos fios do meu cabelo e fazendo uma carícia.

A Vítima Perfeita || Bill Skarsgård Onde histórias criam vida. Descubra agora