2. Decisões

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POV Ana Carla



A cerimônia fúnebre de Alice era um daqueles momentos em que tudo parecia surreal. O céu estava nublado, como se até mesmo o tempo lamentasse a perda. As fileiras de policiais de farda alinhavam-se com precisão, as mãos cruzadas nas costas, as expressões firmes, mas carregadas de dor. Eu me encontrava entre eles, vestida com a farda oficial, o peso da medalha no peito, o chapéu escuro sobre a cabeça. Lara estava ao meu lado, seus olhos fixos no caixão coberto com a bandeira do país, mal conseguindo disfarçar a emoção.

Meus pés pareciam presos ao chão enquanto observava a cena. O caixão de Alice, uma colega, uma amiga, sendo levado por seis policiais, movendo-se em um passo sincronizado, a bandeira cuidadosamente dobrada sobre ele. O som abafado dos tambores ecoava pelo cemitério, marcando o ritmo solene do cortejo.

Eu mantinha a cabeça erguida, mas meu coração estava em pedaços. Por mais que quisesse honrar sua memória de maneira digna, era impossível segurar o nó na garganta que crescia a cada segundo. As imagens de Alice, sorridente e cheia de vida, contrastavam com a frieza da cerimônia. Eu sentia a ausência dela como um buraco no peito, uma ferida que jamais cicatrizaria.

Quando chegamos ao ponto onde o caixão seria colocado na sepultura, o comandante da polícia deu o sinal, e o grupo parou. O som de armas sendo carregadas cortou o silêncio, preparando-se para a salva de tiros em sua homenagem. Mas antes disso, veio o momento que eu temia.

O comandante pegou a bandeira do caixão e, com gestos lentos e precisos, começou a dobrá-la. Cada movimento meticuloso parecia uma eternidade. Eu não conseguia desviar os olhos, sabendo o que viria a seguir. Quando a bandeira foi finalmente dobrada em um triângulo perfeito, ele se aproximou dos pais de Alice, que estavam sentados na primeira fila, devastados.

Ele entregou a bandeira ao pai dela, um homem que eu tinha conhecido algumas vezes, sempre sorridente e orgulhoso da filha. Agora, suas mãos tremiam visivelmente enquanto ele recebia aquele símbolo. Os olhos dele estavam vermelhos e inchados, e, mesmo assim, tentou manter a compostura.

— Em nome da Polícia Criminal de Los Angeles , oferecemos nossas condolências — disse o comandante, com uma voz firme, mas carregada de respeito. — Alice foi uma heroína.

O pai de Alice assentiu, mal conseguindo encontrar palavras, e apertou a bandeira contra o peito, como se fosse a última coisa que o conectasse à filha.

Foi aí que senti as lágrimas ameaçando cair. Eu olhei para Lara, ao meu lado, e vi que ela também lutava para manter o controle. Sua respiração era pesada, e suas mãos estavam cerradas ao lado do corpo. Sabíamos que não podíamos desmoronar ali, não diante de todos, mas a dor era insuportável.

— Ela merecia muito mais do que isso — sussurrei, mal conseguindo controlar minha voz.

Lara me olhou, seus olhos marejados.

— Eu sei, Ana. Eu sei — respondeu ela, com um tom amargo, quase raivoso. — Mas o que podemos fazer agora?

Eu não respondi. O que mais havia para ser dito? Estávamos ali, de pé, assistindo à última homenagem a Alice, uma amiga que nunca deveria ter sido tirada de nós. Mas, por dentro, eu só conseguia pensar na vingança. Em encontrar quem fez isso com ela e garantir que pagassem por cada segundo da vida que roubaram.

Quando a salva de tiros ecoou pelo ar, eu senti meu corpo tremer. O som cortou o silêncio como uma faca, um lembrete cruel de que Alice nunca mais voltaria. As balas foram disparadas para o céu, mas cada tiro parecia atravessar meu coração.

Após o último disparo, o caixão foi lentamente baixado à sepultura. A multidão ao redor permanecia em silêncio, apenas o som abafado do vento e dos soluços dos pais de Alice quebrava a atmosfera.

ROBERT PATTINSON | A VINGANÇA DE ANAOnde histórias criam vida. Descubra agora