• Mania de você

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"Nada melhor do que não fazer nada
Só pra deitar e rolar com você
Nada melhor do que não fazer nada
Só pra deitar e rolar com você"

Depois daquela noite intensa e cheia de significado pra nos, a manhã trouxe um novo sentimento. O sol quente do verão canadense invadia o meu quarto, iluminando os traços de Wagner enquanto ele ainda dormia ao meu lado. Fiquei alguns minutos apenas o observando, tentando memorizar cada detalhe daquele momento.

Lembrei-me de tudo o que havíamos conversado no dia anterior, sobre sua vida, seus filhos, o divórcio. Havia uma carga emocional muito forte, e eu sabia que o caminho à frente não seria fácil para nenhum de nós. Mas, ao mesmo tempo, havia algo incrivelmente forte entre nós que me fazia acreditar que valia a pena.
Wagner começou a se mexer, abrindo os olhos devagar. Quando me viu ali ao seu lado, sorrindo, ele puxou um sorriso meio preguiçoso também.

— Bom dia... — Ele disse com a voz rouca, ainda carregada de sono.

— Bom dia, meu amor. — Respondi, correndo meus dedos pelos cabelos grisalhos dele. — Eu estava só te observando dormir. - digo sorrindo boba e apaixonada. 

— É? E o que achou? — Ele brincou, fechando os olhos de novo, relaxando ao toque.

— Que eu gosto de você assim, tranquilo. Sem o peso do mundo nos ombros. — Respondi sinceramente.

Wagner abriu os olhos e me encarou com um olhar mais sério.

— É difícil desligar, sabe? Quando você tem filhos, quando está em meio a um divórcio complicado, às vezes, eu sinto que carrego tudo isso comigo o tempo todo. — Ele fez uma pausa, olhando para o teto. — Mas quando estou com você, parece que tudo isso fica mais leve. Você faz tudo parecer mais simples, mais suportável. - finaliza virando-se para mim.

— Eu não quero te trazer mais complicações, Wagner. Sei que a situação é difícil, mas eu estou aqui com você. E não quero ser só mais um peso pra você.— Disse, tentando ser compreensiva, mas também sincera.

Wagner apoia seu rosto na mão, me observando de perto.

— Você não é um peso, Margot. Você é a melhor parte disso tudo. — Ele tocou meu rosto, deslizando o polegar suavemente na minha pele. — Às vezes, eu me pergunto como que alguém como você entrou na minha vida. Foi algo surreal o que aconteceu com a gente. - diz ainda me olhando.

Antes que eu pudesse responder, o celular de Wagner vibrou no criado-mudo. Ele o pegou, suspirou, e olhou a mensagem. O semblante dele mudou um pouco, mas ele não disse nada.

— Algo com o divórcio? — Perguntei suavemente.

— É, a advogada está me atualizando. — Ele colocou o celular de lado e voltou sua atenção para mim. — Mas hoje eu não quero pensar nisso. Hoje é só você e eu. - diz largando o celular de volta no criado mudo e se virando pra mim.

— Está bem... — sorri, tentando relaxar o clima.

— Só uma coisa... — Wagner continuou, me olhando com uma seriedade que eu ainda não havia visto nele. — Meus filhos. Eles são minha prioridade. Eu quero que você saiba que, por mais que eu esteja me apaixonando por você, eles sempre vão vir em primeiro lugar. E, com esse divórcio, tudo vai ser mais complicado. Eles já estão passando por muita coisa, e não sei como seria para eles me ver com alguém novo e muito mais, sendo alguém mais nova que eu. - diz sério olhando em meus olhos.

Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, esse momento chegaria. O Wagner, por mais que fosse atencioso e carinhoso comigo, tinha um passado, uma família que ainda fazia parte de sua vida, e seus filhos eram, sem dúvida, sua maior prioridade.

— Eu entendo, Wagner. — Respondi calmamente, olhando nos olhos dele. — Eu nunca quis te afastar deles ou complicar as coisas. Eu sei que é difícil e que vai levar tempo. Eles precisam de você, e eu jamais pediria pra você deixar isso de lado. - digo sincera. - E quanto a idade, isso é só um número. - finalizo.

Ele segura minha mão com força, como se procurasse alguma certeza ali.

— Obrigado por me entender. — Ele murmurou, inclinando-se para me beijar suavemente. — É só que esse divórcio tem sido mais complicado do que eu esperava. Sandra sempre foi maravilhosa, mas temos coisas profissionais envolvidas também o que torna tudo mais difícil. Eu também não queria que as crianças sofressem, e me dói pensar que, ao seguir em frente, estou colocando mais peso nas costas deles. - desabafa Wagner.

Fico quieta por um momento, tentando encontrar as palavras certas para confortá-lo.

— Você está fazendo o melhor que pode, Wagner. Eles são seus filhos e sabem que você os ama. Claro, vai ser um processo difícil, mas você não está deixando eles para trás. Só está seguindo sua vida também, o que é algo que eles vão entender com o tempo. E sinto muito pelo que tem ocorrido entre você e a Sandra, sei que tem um carinho especial por ela ser a mãe dos seus filhos. - digo. 

Ele respira fundo, claramente tocado pelas minhas palavras e por eu entender todo esse processo. Sou filha de pais separados, então sei o que é estar nessa situação toda.

— Às vezes, eu me pergunto se estou mesmo tomando as decisões certas. Se esse é o momento de me envolver com alguém novo enquanto tudo isso ainda está tão turbulento. - se questiona.


— Não existe um momento certo para essas coisas, Wagner. — Eu disse, apertando sua mão com carinho. — Se esperar por um momento perfeito, você nunca vai viver. A vida está acontecendo agora, com toda essa bagunça, e a gente tem que lidar com ela do jeito que dá.

Ele me olha de um jeito diferente, talvez mais vulnerável do que nunca. Era como se, pela primeira vez, ele realmente estivesse permitindo-se sentir o que estava entre nós, sem pensar em todos os obstáculos à frente.

— Eu quero que você faça parte disso, Margot. — Ele disse baixinho, quase como se tivesse medo de admitir. — Mas eu também preciso de tempo. Preciso fazer isso da maneira certa, por eles, por mim e por você.

— Eu estou disposta a esperar, Wagner. — Respondi com firmeza. — Eu sei que não vai ser fácil, e sei que vai haver momentos em que tudo vai parecer pesado demais, mas se você estiver comigo, eu estou aqui. Não quero te pressionar em assumir nada, só ter você perto de mim é o suficiente. - digo.

Ele me puxa para perto, me abraçando com uma intensidade que me faz sentir segura. O calor do corpo dele contra o meu era o suficiente para me acalmar, me fazer acreditar que, por mais difícil que fosse o caminho à frente, valeria a pena.

Ficamos assim por alguns minutos, sem falar nada. Apenas sentindo a presença um do outro. Era como se, naquele silêncio, todas as promessas que não podiam ser ditas em voz alta estivessem sendo feitas.

— Eu vou precisar conversar com eles. — Wagner disse de repente, quebrando o silêncio. — Preciso encontrar o momento certo pra explicar tudo. Sobre nós. Não vai ser fácil, mas eles precisam saber.

Eu assenti, sabendo o quanto aquilo significava para ele. Sabendo que, por mais que ele quisesse me incluir em sua vida, seus filhos vinham em primeiro lugar.

— Eu não espero que você faça isso agora. — Respondi suavemente. — Quando você sentir que é o momento certo, eu estarei aqui te esperando.

Ele me beija de novo, mas dessa vez, o beijo era mais profundo, cheio de sentimentos que nem precisavam ser colocados em palavras. Não era apenas desejo ou paixão; era algo maior. Algo que transcendia os obstáculos que estavam entre nós.

— Só me promete uma coisa. — Ele sussurrou contra meus lábios. — Que você vai estar aqui quando tudo isso passar. Que, no final, você ainda vai querer ficar comigo. - me pede Wagner.
Eu sorri, sentindo meu coração aquecer.

— Eu prometo, Wagner. Eu vou estar aqui, com você, quando tudo isso passar. - digo sorrindo e ele me puxa para mais perto.

Tinha planejado um dia divertido pra nos, mas depois desse desabafo de Wagner, decidimos passar o dia todo em casa, na cama curtindo um ao outro, e naquela noite, fizemos amor de uma maneira que parecia diferente de todas as outras vezes. Não era só a paixão do momento, mas a entrega, o compromisso não dito de que estávamos juntos nessa, não importava o quão complicado o caminho fosse.

Roda de Samba | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora