MAPA.

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Damon Torrance.
Presente.

Enquanto eu observava Wemilly dormir em meus braços, o silêncio do quarto parecia pesar mais do que o ar ao meu redor. Sua respiração era suave, ritmada, e por um momento, ela parecia tão serena, tão distante de toda a merda que estava acontecendo lá fora. O rosto dela, mesmo marcado pelas lágrimas, tinha uma fragilidade que eu não conseguia ignorar. Ela não era só a garota que eu conhecia desde sempre. Ali, nos meus braços, ela parecia mais... humana, mais vulnerável.

Era difícil de acreditar que essa era a mesma garota que enfrentava tudo e todos com aquela teimosia implacável, a mesma garota que me desafiava com cada palavra. Agora, parecia tão... frágil. E isso me atingiu de um jeito que eu não esperava. Por mais que eu quisesse me convencer do contrário, eu me importava com ela. Mais do que devia, mais do que era seguro.

Passei a mão pelo seu cabelo, afastando uma mecha que caía sobre seu rosto. Como eu podia ter deixado tudo chegar a esse ponto? Como deixei que ela se machucasse assim, por minha causa? A culpa queimava dentro de mim como uma ferida aberta, e eu sabia que, no fundo, tudo isso era minha responsabilidade.

Eu quem deveria ter levado a surra, não Zyan.

O pensamento invadiu minha mente com uma clareza dolorosa.

Eu quem estragou os sonhos da Wemilly, eu quem merecia todos os tipos de castigo que o Will teria pra dar.

Oh, foda-se.

Eu já havia feito a merda, quando ela descobrir, não vou poder reverter.

A culpa era minha, Will foi preso pelo o que causei.

Fui eu quem trouxe o caos para a vida dela, quem a fez mergulhar nesse inferno. Se eu tivesse ficado longe, se eu tivesse tido a decência de não me envolver, ela não estaria aqui, despedaçada nos meus braços.

Eu merecia a dor que Wemilly está sentindo.

Cada lágrima dela era um reflexo do meu fracasso. O que quer que acontecesse depois disso, eu sabia que não tinha como escapar dessa culpa. Eu era o responsável por tudo, por cada cicatriz invisível que ela carregava.

E, de algum jeito, isso me fazia querer protegê-la ainda mais, como se, por um momento, eu pudesse corrigir o que fiz. Mas sabia que não era tão simples.

Minha mente vagou de volta para aquele momento no prédio abandonado. A discussão intensa, as palavras cortantes, e então... o beijo. Um beijo cheio de desejo reprimido, de frustração, mas também de algo que eu ainda não conseguia definir. Nós dois ansiávamos um pelo outro, como se aquele instante pudesse apagar todos os erros e cicatrizes que carregávamos. Mas agora, à luz de tudo o que aconteceu, percebo que fomos precoces demais.

Não era para as coisas estarem assim. Nós nos precipitamos, mergulhamos em algo que nem sabíamos controlar. E agora, tudo o que restava eram os pedaços quebrados de uma relação que mal tinha começado. Ela merecia mais, algo além das mentiras, além da escuridão que eu trouxe para a vida dela.

Respirei fundo, sentindo o peso das emoções se acumulando dentro de mim. Lentamente, me levantei, tomando cuidado para não acordá-la. Coloquei-a suavemente sob a cama, ajeitando o cobertor sobre seu corpo, como se isso pudesse protegê-la dos pesadelos que eu sabia que a esperavam.

Meus olhos permaneceram nela por alguns segundos a mais, uma parte de mim querendo ficar, mas a outra sabendo que eu não devia.

Eu era o caos que ela não precisava.

Silenciosamente, me retirei do quarto, cada passo mais difícil do que o anterior. Quando fechei a porta, senti como se estivesse fechando também a última chance de reparar o que estraguei.

MY LITTLE PEST || Damon Torrance.Onde histórias criam vida. Descubra agora