BANG BANG.

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Wemilly Grayson
15 anos atrás...

Wemilly: 4 anos
Will: 7 anos

Naquela mesma noite em que Will roubou os doces.

A casa estava quieta, envolta no silêncio pesado da madrugada. Eu dormia profundamente, enroscada nas cobertas ao lado de Will, como sempre fazíamos quando o medo rondava. Nossos pais tinham brigado algumas horas antes, mas como em todas as outras vezes, a briga tinha diminuído e eu imaginei que tudo estava bem, pelo menos por aquela noite. O calor do corpo de Will ao meu lado sempre me dava uma sensação de segurança, como se nada pudesse nos machucar enquanto estivéssemos juntos.

De repente, um som alto cortou o silêncio — o som de algo quebrando, vidro talvez. Meus olhos se abriram, o coração já disparado antes mesmo de eu entender o que estava acontecendo. Eu virei o rosto para Will, que já estava acordado, os olhos arregalados no escuro.

— O que foi isso? — sussurrei, tentando manter a calma.

Ele balançou a cabeça, sinalizando que não sabia. Mas o som logo veio de novo, dessa vez mais alto, mais violento. E então ouvimos os gritos. Minha mãe, gritando com todo o fôlego, implorando para ele parar.

— Não, por favor, para! — a voz dela ecoou pelo corredor.

Will se mexeu rapidamente, jogando as cobertas de lado e se levantando. Eu podia ver a tensão em seu rosto, mesmo na penumbra do quarto. Sabíamos o que estava acontecendo, mesmo sem precisar ver. Aquela cena já havia se repetido tantas vezes. Mas dessa vez, algo parecia diferente. Os gritos estavam mais intensos, mais desesperados.

— A gente precisa fazer alguma coisa, Will — eu sussurrei, mas minha voz tremia. Eu tinha medo, muito medo. Toda vez que eles brigavam, algo dentro de mim congelava.

— Fica aqui, Wemilly — ele respondeu com a voz baixa, mas firme.

Will começou a andar em direção à porta do quarto, e eu o segui imediatamente. Não ia deixar ele ir sozinho. Quando abrimos a porta, os gritos ficaram mais claros, misturados com os sons pesados de socos e objetos caindo no chão.

Descemos o corredor com o coração na garganta, e quando chegamos à sala, o que vimos foi um pesadelo. Meu pai estava de pé, furioso, com o rosto vermelho, sua mão levantada, e minha mãe estava caída no chão, com a bochecha inchada e sangrando. Eu nunca o tinha visto assim, tão cheio de ódio.

— Traidora! — ele gritou, avançando sobre ela. — Eu descobri tudo! Tudo!

Minha mãe chorava, tentando se levantar, mas cada vez que ela fazia um movimento, ele a empurrava de volta com um golpe.

— Pai, para! — Will gritou, sua voz carregada de pânico.

Meu pai se virou bruscamente para nós, os olhos cheios de raiva. Por um segundo, pensei que ele fosse avançar em cima do Will, mas ao invés disso, ele soltou uma risada amarga.

— Então vocês finalmente acordaram pra ver quem é a vadia que chamam de mãe? — ele cuspiu as palavras, apontando para ela no chão. — Eu devia ter acabado com isso há muito tempo!

Minha respiração estava presa no peito, o medo tomando conta de mim como uma corrente pesada. Eu olhei para Will, mas ele já estava correndo na direção do nosso pai, tentando intervir, tentando de alguma forma protegê-la. Ele pulou na frente da nossa mãe, levantando as mãos para tentar segurar o próximo golpe.

— Não encosta nela! — Will gritou, sua voz tremendo, mas determinada.

Por mais que Will apanhasse feio da mamãe, ele odiava ver ela apanhar.

MY LITTLE PEST || Damon Torrance.Onde histórias criam vida. Descubra agora