O QUE VALE A PENA PRA VOCÊ?

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Damon Torrance
Presente...

Minha cabeça latejava, e minhas mãos ainda estavam manchadas de sangue seco. Subi as escadas do cruzeiro, indo em direção ao andar de cima, onde ficava a área de lazer. O silêncio pesado só era interrompido pelo som das ondas batendo contra o casco. Atravessei o convés lentamente, o barulho dos meus passos abafado pela imensidão do oceano ao redor. Cheguei ao bar e pedi um whisky, sentindo a necessidade de algo forte para ajudar a organizar meus pensamentos.

Com o copo na mão, caminhei até o peitoril do navio. A brisa do mar batia no meu rosto, fresca, mas incapaz de aliviar a tormenta que se passava na minha mente. Enquanto o navio cortava as águas, minhas preocupações se intensificavam. O que eu faria com Michael? A ideia de deixá-lo sair ileso me corroía por dentro. Era impensável.

Dei um gole no whisky e soltei um longo suspiro, o álcool queimando levemente minha garganta enquanto eu tentava processar o que viria a seguir. Milhares de possibilidades desfilavam na minha cabeça, cada uma mais cruel que a outra. Michael não poderia escapar sem pagar o preço.

Meus olhos, até então fixos no horizonte, se moveram quando percebi a aproximação de alguém ao meu lado. Era Banks. Ela se acomodou no peitoril, apoiando-se ao meu lado, observando o mar da mesma forma que eu fazia.

— Tá pensativo — ela disse, quebrando o silêncio que eu me refugiava.

Olhei para ela, mas demorei um pouco pra responder. Não sabia bem como expressar o que estava passando pela minha cabeça.

— Você está bem? — ela perguntou, com a voz suave, mas carregada de preocupação.

— Você está? — retruquei, desviando meu olhar brevemente para ela.

— Depende da sua resposta — respondeu, com um meio sorriso nos lábios.

Eu dei de ombros e bebi mais um pouco do whisky antes de responder.

— Me sinto quebrado. Mas vou ficar bem, prometo.

Banks manteve o olhar fixo no horizonte, o silêncio entre nós parecia confortável, mas eu sabia que ela tinha algo mais a dizer.

— Muita coisa pra processar. — Suspirei. — Às vezes, parece que tudo tá desmoronando e a gente tá só tentando segurar as peças no lugar. Você já se sentiu assim? Como se o peso de tudo estivesse nas suas costas?

Ela ficou quieta por um momento, absorvendo minhas palavras. Banks sempre foi boa nisso, em não responder com pressa, mas com cuidado.

— Já me senti assim muitas vezes. Acho que todo mundo, em algum momento, sente esse peso. Mas o que muda é como a gente lida com isso. — Ela olhou de volta para mim. — Eu tento focar no que realmente importa. Mesmo quando tudo parece estar desmoronando, sempre tem algo que vale a pena segurar.

— E o que vale a pena pra você? — Perguntei, genuinamente curioso. Queria saber como ela encontrava esse foco, porque eu estava perdido.

Ela deu um pequeno sorriso, como se já soubesse a resposta antes mesmo de eu perguntar.

— No fim das contas, é sempre sobre as pessoas. Não importa o quanto o mundo esteja um caos, são as pessoas que te seguram quando você tá afundando. E pra você? O que realmente vale a pena?

Fiquei em silêncio, encarando o copo. A pergunta dela ficou ecoando na minha cabeça. Passei a mão pelos cabelos, frustrado. Eu nem sabia o que queria de verdade.

Eu não sabia o que responder.

— A verdade? — Ri, sem humor. — Eu não sei. Passei tanto tempo tentando proteger todo mundo, consertar as coisas, que esqueci de pensar no que realmente vale a pena pra mim. É como se eu estivesse sempre correndo atrás de algo, mas nunca sei exatamente o quê.

Ela me olhou, e eu senti que ela entendia mais do que deixava transparecer. Eu sempre fui o irmão mais velho, o cara que resolvia tudo, mas Banks... ela me via de um jeito que ninguém mais via.

— Talvez porque você esteja sempre se colocando em segundo lugar — ela disse, sua voz suave, mas firme. — Sempre pensando nos outros antes de pensar em você mesmo. Não é errado querer proteger quem você ama, mas você também precisa se cuidar. — Ela fez uma pausa, e seus olhos me penetraram. — O que você quer de verdade, Damon? Não o que você acha que precisa fazer, mas o que você quer?

Eu franzi a testa, tentando encontrar a resposta dentro de mim. Era uma pergunta simples, mas a verdade é que eu nunca tinha parado pra pensar nisso.

— Eu... — As palavras travaram na garganta. — Eu quero paz. Quero parar de viver nessa guerra constante, tanto por fora quanto por dentro. Quero olhar pra minha vida e não sentir que ela tá sempre prestes a desmoronar. Quero olhar pra Wemilly, pro Will, pra você... e saber que a gente vai ficar bem.

Falar aquilo em voz alta me atingiu de uma forma diferente. Admitir que, no fundo, eu estava cansado de lutar.

Banks assentiu, e o sorriso dela era leve, mas cheio de compreensão.

— Às vezes, acho que a paz é uma escolha. Não quer dizer que o mundo ao nosso redor vai estar perfeito, mas que a gente encontra um jeito de viver em meio ao caos.

Talvez fosse isso que eu estava procurando esse tempo todo. Paz, mesmo que ela estivesse escondida entre os destroços.

— Eu só espero que, quando eu finalmente encontrar essa paz, não seja tarde demais. — Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, como se o pensamento me pegasse de surpresa.

Banks balançou a cabeça, determinada.

— Estive pensando na nossa conversa, desde que Wemilly voltou para Thunder Bay — ela disse, quebrando o silêncio de forma inesperada. — Você a ama, e eu nunca percebi isso antes. — Seus olhos se viraram para mim, cheios de uma compreensão tardia. — Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu entre vocês no passado. Foram tempos perdidos.

Eu franzi as sobrancelhas, surpreso com a direção da conversa.

— Eu não diria que foram tempos perdidos — respondi, escolhendo minhas palavras com cuidado. — Tudo pelo que passei só me provou que preciso de Wemilly na minha vida. Ela faz meu coração bater de novo toda vez que a vejo.

Banks sorriu levemente, como se compreendesse algo profundo.

— Você vai ficar bem, D. — Ela me olhou com carinho. — Sei que você está pensando demais agora, mas vai ficar tudo bem. Me desculpe pelas vezes que fui uma péssima irmã.

Eu ri de leve, balançando a cabeça.

— Você nunca foi uma péssima irmã, Banks. Eu fui o péssimo irmão. Tirei muito da sua vida, e tudo o que eu quero agora é que você consiga viver plenamente, aproveitar cada momento.

Ela desviou o olhar para o chão, mordendo o lábio, seu rosto tenso por um momento antes de perguntar:

— Você perdoou Winter?

Suspirei, um sorriso amargo nos lábios.

— Não me faça perguntas difíceis — respondi, o que fez Banks rir levemente. — Mas não. Winter não merece meu ódio, não quando há outras pessoas que realmente merecem.

Banks encolheu os ombros, como se aceitasse a resposta.

— Faz sentido — disse, com um leve aceno de cabeça. — Eu te amo, sabe?

Senti algo se mover dentro de mim, como agulhas perfurando meu peito. Por que era tão difícil para mim dizer que também a amava? Em vez de responder com palavras, puxei-a para um abraço apertado e afaguei seus cabelos. Senti meu coração bater forte no peito, uma batida pesada e real.

Foi então que ela sussurrou:

— Estou grávida.

Fiquei sem palavras por um instante, mas um sorriso começou a se formar no meu rosto, trazendo um calor inesperado.

— Puta que me pariu, Banks, Kai já sabe? — perguntei, rindo enquanto segurava sua mão. Era a primeira boa notícia que ouvia em muito tempo.

— Ainda não — ela sorriu, um sorriso tímido. — Mas quero contar a ele assim que puder.

— Você vai ser uma mãe incrível. — A abracei mais uma vez, com ainda mais força. — Estou muito feliz por você, de verdade.

MY LITTLE PEST || Damon Torrance.Onde histórias criam vida. Descubra agora