O PRÓPRIO DIABO.

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Damon Torrance
Presente...

— Onde vai? — Wemilly perguntou assim que saí do banheiro, o vapor ainda preenchendo o ar enquanto eu vestia minhas roupas.

— Resolver alguns problemas — respondi sem dar muitos detalhes, sentindo seus braços macios me envolverem por trás. Seus lábios tocaram minha pele em um gesto suave, e, por um breve momento, quase esqueci da tempestade que estava prestes a enfrentar.

— Hum, homem de negócios... Quem sabe mais tarde eu possa te ajudar a relaxar. — Sua voz era doce.

— Você vai descansar, ok? Eu não vou demorar — disse, me soltando delicadamente do aperto dela. Precisava manter o foco.

Eu caminhei em direção à porta, tentando conter o tumulto de pensamentos.

— Damon. — A voz dela me fez parar. Virei, esperando, o peito apertado. — Eu não acredito na Erika. Não vou te odiar por isso.

Meus músculos enrijeceram, e um nó se formou na minha garganta.

Ela achava que Erika mentiu.

Acreditava que eu era inocente.

Isso complicava tudo.

— Sobre o que você está falando? — perguntei, tentando disfarçar o nervosismo que se acumulava.

— Sobre a banda. Sei que não foi você. Sei que a Erika está mentindo sobre tudo.

Droga. Meu coração acelerou. Wemilly estava tentando me proteger de algo que eu, de fato, fiz.

— Ah, Wem... é que... — procurei as palavras, mas ela me interrompeu com um sorriso terno.

— Shhh, depois você me explica. Vai resolver suas coisas.

Eu assenti, incapaz de dizer mais nada. Não era o momento de jogar a verdade sobre ela, não agora. Saí do quarto, minha mente em ebulição, os corredores do navio se alongando à minha frente enquanto eu caminhava rapidamente em direção ao salão principal. Lá, em risos, encontrei quem eu procurava: Michael Crist. Ele estava despreocupado, jogando sinuca como se o mundo não estivesse prestes a desabar em cima dele.

Já com as mangas da camisa arregaçadas, marchei em direção à mesa. Meus punhos se fechando a cada passo.

— E aí, cara. — Michael me cumprimentou casualmente, sem nem desviar o olhar da mesa. — Wemilly está bem?

A arrogância em sua voz me fez parar por um segundo, o sangue borbulhando em minhas veias.

— E isso é da sua conta?

Ele riu levemente, finalmente olhando para mim com um sorriso pretensioso.

— Ora, saí da minha casa para ajudar o irmão dela. Claro que me importa.

— Você veio porque Will é seu amigo, ou veio por outro motivo? — perguntei, minhas palavras carregadas de veneno.

Michael piscou, surpreso, tentando entender onde eu queria chegar.

— Claro que vim por isso. O que mais seria?

— Sabe, Michael... — Eu comecei a me aproximar, cada palavra mais carregada de ódio. — Eu encontrei a Erika Fane.

Seu rosto mudou. Não de imediato, mas havia um leve desconforto nos olhos dele. Ele coçou a garganta e tentou rir, como se estivesse aliviado.

— Sério? Que coincidência, faz tanto tempo que a gente não a vê.

— "A gente"? — Eu soltei um riso cínico, já me preparando para o confronto.

— Sim, desde o ensino médio, sabe? — Ele tentou se fazer de inocente, mas eu já tinha ouvido o suficiente.

— Ela me disse algumas coisas sobre você. — Continuei me aproximando, até que nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância. — E de repente tudo fez sentido.

Antes que ele pudesse reagir, agarrei-o pelo colarinho e o empurrei contra a mesa de sinuca, derrubando as bolas que rolaram pelo chão com um som agudo.

— Porra, Michael. Você colocou a vida de todos nós em risco por conta de uma buceta? — Meus olhos queimavam com uma fúria que eu mal conseguia conter. — Eu vou acabar com você.

Sem esperar resposta, joguei-o no chão e subi em cima dele, desferindo o primeiro soco com força. Senti o nariz dele quebrar sob meus dedos, o sangue espirrando enquanto Michael soltava um gemido abafado. Mas eu não parei.

— Seu filho da puta! Will poderia ter morrido por sua culpa! — gritei, socando-o de novo, e de novo.

— Que merda é essa? — A voz de Kai irrompeu na sala, e ele correu em nossa direção, mas não rápido o suficiente para impedir outro golpe meu.

— Esse desgraçado traiu a gente — eu disse entre dentes, mal conseguindo conter minha fúria. Michael já estava com o rosto coberto de sangue, respirando com dificuldade.

— O quê? — Kai olhou para o amigo no chão, incrédulo. — Michael, é verdade?

— Eu não... eu não fiz isso! — Michael balbuciou, tentando se livrar dos golpes.

— Ele contou tudo pra Erika Fane. Cada detalhe dos nossos planos — expliquei, desferindo mais dois socos, meus punhos ficando sujos com o sangue de Michael.

Kai soltou um suspiro exasperado, passando as mãos pelo cabelo em frustração.

— Por isso você se ofereceu para dar aulas de jiu-jitsu para ela, não foi? — Kai disse, incrédulo, olhando para o amigo caído. — O tempo todo, você estava tramando algo?

— Por favor, manos... — Michael sussurrou, a voz trêmula. — Ela mente! Vocês estão acreditando nela?

— Não é só sobre Erika, Michael — gritei, minha voz tremendo de raiva. — Eles sabiam dos nossos planos. Sabiam que íamos para a prisão. Meu pai sabia da infiltração na festa dele, e você contou tudo! — Eu me abaixei, aproximando meu rosto do dele. — Você está fora, Michael. Não faz mais parte dos Cavaleiros.

Michael tentou dizer algo, mas eu não estava mais interessado em ouvir. Levantei-me, limpando o sangue dos meus nós dos dedos, a respiração pesada. Kai observava em silêncio, a gravidade do que acabou de acontecer finalmente caindo sobre nós dois.

— Leva ele daqui — falei para Kai, sem tirar os olhos de Michael. — Antes que eu faça algo pior.

Kai assentiu, ainda chocado, e começou a ajudar Michael a se levantar, o corpo mole e fraco de tantos golpes.

— FILHO DA PUTA, EU VOU MATAR VOCÊ. — eu gritei pra Michael. — EU VOU MATAR VOCÊ, MICHAEL CRIST. ESCONDA-SE NO INFERNO E EU TE BUSCAREI, POIS SOU O PRÓPRIO DIABO.

Eu soquei o ar observando Kai levar ele pra longe, aqui não era lugar pra se acertar as coisas corretamente.

Não em alto mar.

MY LITTLE PEST || Damon Torrance.Onde histórias criam vida. Descubra agora