Wemilly Grayson
Presente...Minha mente congelou por um instante. Não podia ser verdade. A Rika, a garota que um dia conhecemos, que fazia parte de nossa história de uma maneira tão entrelaçada e complicada, agora estava ali, diante de mim, como uma inimiga? O choque percorreu meu corpo, me deixando sem ar, como uma onda de gelo que paralisa tudo em seu caminho.
— Rika...? — A palavra escapou dos meus lábios em um sussurro, mal formando som, sufocada pela incredulidade. — O que você está fazendo?
Ela não respondeu de imediato. Seus olhos azuis — que eu sempre lembrava como suaves — estavam agora frios como lâminas, me cortando com cada segundo que mantinham contato visual. Aquela não era mais a mesma mulher que eu lembrava. O jeito como ela se mantinha firme, a expressão impenetrável em seu rosto, gritavam uma coisa só: vingança. A distância entre nós, que um dia havia sido preenchida com uma tensão mal resolvida e uma lealdade confusa, agora parecia um abismo impossível de atravessar.
— Zyan é meu irmão — Rika finalmente disse, sua voz baixa, mas carregada de uma raiva sufocante. — E o seu irmão, — ela indicou Will com um gesto rápido, sem sequer olhar para ele, — achou que podia bater nele e sair impune. Você ficou sabendo que Will socou tanto ele que uma das suas costelas quebrou e perfurou o pulmão?
Meu coração se apertou.
— O quê?
— É, Wem. William Grayson III tem um assassinato na conta.
Will ainda estava no chão, gemendo de dor, seu rosto marcado pela violência. Eu queria correr até ele, segurá-lo, mas minhas mãos estavam atadas, assim como a minha esperança. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto tentava processar as palavras dela. Era como se eu estivesse presa em um pesadelo.
— Rika... ele nunca faria isso. — Minha voz saiu trêmula, mas firme o suficiente para ser ouvida. — Você sabe disso! Ele nunca teria tocado no Zyan se soubesse quem ele era ou o que isso significaria!
Rika deu um passo à frente, seu rosto agora perto o suficiente para que eu sentisse a fúria emanando dela. Seus olhos faiscavam.
— Não me interessa se ele faria ou não, Wemilly. Ele fez, e agora ele vai pagar. Damon também. Todos vocês vão pagar.
O peso de suas palavras me atingiu como um golpe. Não havia saída. Não havia como escapar da armadilha que Gabriel e Rika haviam armado para nós. E Damon... Se ele estivesse vindo, estaria marchando direto para a destruição.
— Você está fazendo isso por vingança? — Perguntei, minha voz um fio de desespero. — Por Zyan? Isso... isso não vai trazê-lo de volta.
Rika recuou um pouco, endireitando-se, sua postura rígida como uma parede intransponível.
— Não, não vai trazer ele de volta — respondeu ela, impassível. — Mas vai me dar o que eu quero. Justiça. A justiça que você e seu irmão tiraram de mim.
— Você tá sendo impulsiva.
— Você não iria querer vingança se alguém matasse seu irmão? — ela mexeu as sobrancelhas, seu olhar endurecendo. — Thunder Bay não funciona mais como vocês acham que funciona.
Gabriel, que até aquele momento havia permanecido em silêncio, observando a interação com um leve sorriso, decidiu falar.
— Está vendo, Wemilly? As coisas são bem simples. Você, seu irmão, Damon... cada um de vocês tem um papel a desempenhar. E o seu papel, agora, é esperar. Eu sei que Damon virá por você, mas até lá, você vai ficar quietinha, sentada, e vai cooperar.
O silêncio na sala era opressor, pesado como o ar antes de uma tempestade. Eu sentia cada batida do meu coração como um tamborim dentro do peito, ecoando pelo espaço fechado e sombrio.
Era como estar presa em uma teia que ficava mais apertada a cada segundo. Por mais que tentasse, não havia saída. Meu corpo doía, meus braços atados limitavam qualquer movimento, mas o que me doía mais era o que eles estavam fazendo com Will.
Cada gemido dele rasgava meu coração. Cada marca de sangue no rosto dele era uma ferida aberta em mim.
Gabriel falava com a voz controlada, quase divertida, como se estivesse encenando um espetáculo. Um espetáculo macabro onde todos nós éramos marionetes. A cada palavra dele, eu sentia o pavor crescer, mas havia uma parte de mim que se recusava a desistir. Não podia. Por Will. Por Damon. Por mim mesma.
— E o que você vai fazer quando ele chegar? — A pergunta saiu antes que eu pudesse conter, minha voz soando mais firme do que eu me sentia. — Você sabe que ele vai vir, e ele não vai jogar pelas suas regras.
Gabriel sorriu, aquele sorriso frio que nunca chegava aos olhos, e deu um passo à frente. O chão de cimento fez um som baixo sob suas botas pesadas.
— Ah... — Ele suspirou, como se estivesse cansado de explicar algo óbvio. — Não se trata de regras, entende? Damon não tem escolha, ele virá por você, e quando ele vier, ele vai estar exatamente onde eu quero. É simples. Ele já perdeu. Só não percebeu ainda.
Minhas entranhas se reviraram com as palavras. Gabriel não estava brincando. Ele acreditava que tinha o controle de tudo, e isso me aterrorizava mais do que qualquer ameaça física. Porque, de algum jeito, ele parecia saber o que viria a seguir.
Meu olhar se voltou para Rika. Ainda era difícil acreditar no que estava acontecendo. A garota que um dia conhecemos, que um dia lutou ao nosso lado, agora estava ali, alimentada por uma sede de vingança que eu não conseguia entender totalmente.
— Rika...— A palavra saiu trêmula, eu sabia que não adiantaria, mas eu precisava tentar. — Como você soube que íamos estar na prisão?
— Tenho meus contatos. — ela me jogou uma piscadinha.
Eu tentei argumentar, lutar contra o desespero que se infiltrava em cada uma das minhas palavras.
O ambiente parecia se fechar ao meu redor. Eu podia sentir o ar ficando mais denso, quase sufocante, como se as paredes estivessem se movendo, se aproximando, até que eu não tivesse mais para onde ir. Gabriel observava com um sorriso satisfeito, como se tudo estivesse indo exatamente como ele havia planejado.
Foi então que algo mudou. Gabriel fez um sinal sutil, e eu vi a sombra de alguém se movendo no fundo da sala. Meus olhos tentaram focar, mas a penumbra dificultava ver quem era. Um vulto emergia das sombras, a figura caminhava devagar, como se estivesse esperando o momento certo para se revelar.
Meu coração começou a bater mais rápido, o ar ao meu redor parecia esfriar ainda mais. Quem era? Outro capanga? Mais uma peça no jogo cruel de Gabriel?
Então, ele saiu completamente das sombras, e a luz fraca da sala finalmente revelou seu rosto.
Um homem alto, de cabelos castanhos com algumas mechas grisalhas nas têmporas, e olhos verdes profundos. Ele estava vestido de forma simples, mas sua postura era firme, autoritária. Seu rosto carregava uma expressão de cansaço, mas também de algo mais. Algo mais sombrio.
Meu corpo congelou. Por um segundo, minha mente se recusou a aceitar o que meus olhos estavam vendo. Não podia ser ele. Não aqui. Não agora.
— Pensou que o "homenzinho mau" de Thunder Bay era Gabriel, Wemilly? — A voz do homem era familiar, tão familiar que cada palavra perfurava minhas lembranças como lâminas afiadas. — Pois bem... talvez seja hora de ver quem realmente está no comando.
Eu senti o chão sumir debaixo de mim. Minhas mãos tremeram, e as lágrimas começaram a encher meus olhos sem que eu pudesse controlar.
— P-papai? — Minha voz saiu num sussurro quebrado, como se meu próprio corpo estivesse rejeitando a realidade diante de mim.
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MY LITTLE PEST || Damon Torrance.
Fiksi PenggemarWemilly Grayson, uma talentosa guitarrista de uma banda de rock, retorna à sua cidade natal, Thunder Bay, como parte de uma turnê. Durante essa jornada, ela reencontra seu irmão e antigos amigos, mas é surpreendida ao esbarrar em Damon Torrance, uma...