CABANA.

63 4 0
                                    

Damon Torrance
Presente.

Retirei minha jaqueta e a torci, tentando remover o máximo de água possível, antes de jogá-la sobre meu ombro. Meu olhar se voltou para Wemilly, que segurava a barra do vestido encharcado, fazendo o mesmo. A luz da lua filtrava-se através das águas, iluminando seu rosto, que estava marcado pela frustração e pelo frio. A água que escorria pelas minhas roupas parecia congelar a cada brisa que passava.

— Estou com frio. — Wemilly murmurou, a voz trêmula.

— Vamos. — Respondi, impaciente, começando a caminhar, os pés afundando na terra úmida.

— Pra onde? — Ela perguntou, hesitando.

— Há uma cabana aqui perto. Podemos passar a noite lá. Amanhã, nos reuniremos para ver o mapa. — Continuei, sem olhar para trás.

Ela se deteve por um momento, observando-me com desconfiança.

— Por que você sabe que tem uma cabana no meio da floresta? — A dúvida em sua voz era evidente.

— Pare de fazer perguntas e se apresse. — Respondi, irritado. — Lá tem roupas secas. Ou prefere ficar aqui e morrer de frio?

Wemilly soltou um suspiro resignado, mas começou a me seguir. A caminhada pela floresta era silenciosa, exceto pelo som das folhas secas sob nossos pés. O cheiro da madeira molhada misturava-se ao ar frio da noite, criando uma atmosfera tensa.

Finalmente, avistei a cabana à frente. Era simples, de madeira envelhecida, com janelas empoeiradas e uma porta que parecia prestes a cair. Empurrei a porta, que rangeu ao abrir, e entrei.

— Roupas secas, lembre-se. — Fui direto até o pequeno quarto, onde uma pilha de roupas empoeiradas estava guardada. A luz fraca da lanterna iluminava o ambiente, e o cheiro de mofo pairava no ar.

— De quem é isso? — Perguntou Wemilly, segurando um blusão no ar.

— Minha. O banheiro fica ali. — Apontei para um canto, tentando manter a calma.

— Não vou usar a calcinha molhada. — Ela revirou os olhos.

Fui até o quarto novamente e peguei uma cueca minha. Quando voltei, ela estava prestes a entrar no banheiro.

— Tome, use isso. Eu vou esperar você aqui fora. — Estendi a roupa para ela.

Wemilly concordou com a cabeça e entrou no banheiro. O som da água começando a correr logo encheu o ar, e eu me sentei em uma cadeira próxima, tentando ignorar o frio que ainda me envolvia. O barulho do chuveiro parecia um convite ao calor que eu tanto desejava.

De repente, o som da água parou. A porta do banheiro se abriu e, para minha surpresa, Wemilly surgiu, nua e radiante sob a luz suave da lanterna. Meu coração disparou ao vê-la assim, vulnerável e confiante ao mesmo tempo.

— Você vai vir? Ou vai preferir morrer de frio até que eu termine? — Seu olhar provocador desafiava.

Hesitei por um momento, mas então me movi até ela, puxando-a para dentro do banheiro. Assim que entrei debaixo do chuveiro, a água quente caiu sobre nós, aquecendo nossos corpos. Wemilly se aninhou em meu peito, e o calor que emanava dela era quase palpável.

— Senti sua falta, mesmo depois de você ter quebrado meu coração. — Ela murmurou, a voz suave.

— Minha intenção nunca foi essa. Eu estava confuso e sabia que não merecia você. — Respondi, envolvendo meus braços ao redor dela, segurando-a firmemente.

— Por que fez o que fez? — A dor na sua voz ainda era evidente.

— Porque eu tive medo. — Admiti, olhando em seus olhos.

— Medo? — Ela repetiu, a confusão misturando-se à compreensão.

— Medo de ser amado do jeito certo. — Falei, a sinceridade transparecendo em cada palavra. A água quente caía sobre nós, mas o calor que sentia vinha dela.

O mundo lá fora parecia distante enquanto estávamos imersos um no outro.

— Eu nunca soube lidar com o que sentimos, e acabei deixando minhas inseguranças transbordarem.

Ela balançou a cabeça, como se tentando entender.

— Eu estava tão confusa. A última coisa que eu queria era que você se afastasse. Eu queria que você estivesse ao meu lado.

A água escorria entre nós, mas, nesse momento, tudo parecia se concentrar em nossas palavras.

— Não deveria ter deixado você de lado. Você sempre foi tudo o que eu precisei.

Wemilly sorriu levemente, a tensão suavizando-se entre nós.

— E agora? O que vamos fazer?

— Vamos consertar isso. Juntos.

A conversa pairou no ar enquanto desliguei o chuveiro e puxei a toalha. Enrolei Wemilly nela, nossos corpos ainda úmidos, e a conduzi para o quarto.

Assim que entramos, ela começou a se vestir, e eu também troquei minhas roupas molhadas. O ambiente estava carregado de uma sensação reconfortante. Quando finalmente nos deitamos, eu a puxei para perto, envolvendo-a em meus braços.

— Me perdoe pelas coisas que fiz — murmurei, meu rosto próximo ao dela. — Tenho feridas internas que deixei transbordar entre a gente. Você foi minha cura.

Fechei os olhos, sentindo a paz de tê-la ao meu lado.

— Foi o único amor que não me machucou. — Minha voz quase inaudível, e logo o cansaço tomou conta de mim.

Adormecemos assim, enroscados um no outro, como se o mundo ao nosso redor não estivesse caindo aos pedaços.

MY LITTLE PEST || Damon Torrance.Onde histórias criam vida. Descubra agora