Boatos

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A ginasta se sentia entediada de passar todos os dias dentro daquele apartamento. O seu joelho já estava consideravelmente recuperado, para que ela pudesse andar de um lado para o outro, mas mesmo assim nada chama a sua atenção, a ponto de fazê-la sair de casa. A não ser que fosse algum evento obrigatório, como o que ela está indo fazer nesse exato momento.

A Adidas reuniu todos os atletas que possui um patrocínio e que foram convocados para a última olimpíadas. O objetivo é uma rápida entrevista e um momento de descontração, trazendo a realidade do atleta para o público, que os vêem apenas como um Super Herói, se esquecendo de que os problemas não livram ninguém.

Rebeca está usando um conjunto preto, da marca, e também um tênis branco. Algumas mexas das suas tranças impecáveis estão soltas sobre o ombro, enquanto o restante está preto em um coque alto. Ela caminha devagar no corredor, em busca da área de convivência, onde ficou marcado a sua primeira entrevista. Demorou alguns minutos para chegar lá, mas sorriu abertamente vendo um homem sentado a sua espera e algumas pessoas a sua frente.

- Rebeca, minha querida! Você não imagina o quanto estou feliz por ter você aqui. - o homem jovem, com a mesma média de idade da maior medalhista olímpica brasileira se levanta e caminha até ela, lhe abraçando apertado - É um prazer enorme.

- Ah, o prazer é todo meu! Também estou muito feliz! - tímida, a mulher lhe abraçou do mesmo modo - Eu me atrasei um pouquinho, foi difícil achar.

- Não nos importamos com isso. - ele a guiou até os bancos, para que ela pudesse sentar e começar a entrevista - Então, Rebeca, vai ser uma entrevista rápida. Pode se sentir a vontade para poder responder as perguntas.

- Aí meu Deus. - ela sorriu divertida quando sentiu a câmera em sua direção - Vamos lá, pode começar. - deu liberdade ao homem.

- Antes de tudo, eu queria saber, cara, como é a sensação de ser a maior do Brasil? - o homem perguntou divertido.

- Aí gente, eu não explicar como é! - sorriu - Eu não estava esperando ganhar tantas medalhas em Paris. Para ser sincera, eu pensei que sairia de lá sem nada.

- Coisas opostas né! - falou a olhando - E o seu joelho? - questionou e se virou para a câmera - Para quem não está sabendo, a Rê sofreu uma lesão no último mundial de ginástica e está fora dos tablados por alguns meses.

- Hoje ele está bom. - a mulher encarou a parte do seu joelho - No início doía muito. E era insuportável ser obrigada a ficar em casa, não que hoje não seja ainda. - gargalhou - Mas hoje eu já consigo andar sozinha e fazer minhas coisas. Espero voltar em breve.

- Tem planos para a sua volta? Talvez um Andrade... - jogou no ar.

- Eu treinava muito o meu salto, mas ainda não me sentia confortável para realiza-lo em uma competição. Quando eu voltar, quero que seja a primeira coisa a apresentar.

- E eu quero estar sentado lá, na primeira fila, vendo isso! - sorriu - Posso dizer que eu sou o seu maior fã.

- Ah, obrigada! - sorriu tímida - Vou te dar uma cortesia. - brincou.

- E eu vou ser o homem mais feliz do mundo. - deu uma piscada - Mas voltando ao assunto de fãs, como é ser o centro das atenções de algum lugar? Tivemos um exemplo nas olimpíadas, em que você ia nos jogos de vôlei e virava o xodó das meninas.

- Eu ainda acho um pouco estranho. - confessou - Sempre que vou em algum lugar tem alguém para me gravar, tirar fotos e outras coisas. E sobre as meninas do vôlei, eu adorei conhecer elas.

- Inclusive, em quase uma ou duas semanas atrás você estava com elas na praia aqui do Rio, não é mesmo? - a mulher concordou com a cabeça, já temendo o que viria pela frente - Sabemos que você é muito ligada nas redes sociais... Está de olho nos boatos de você e Gabi?

- Boatos? - sorriu nervosa e levou a mão até a nuca, coçando - O que estão falando?

- Ah, você sabe... Todo mundo tá percebendo um clima entre vocês. Mas a questão é, está namorando?

- Estou solteira. - disse depois de um tempo. Era estranho proferir essas palavras em voz alta, porém era uma realidade.

- A última pergunta pessoal e vamos abrir para que o público pergunte... - ele fez uma pausa - Hétero? Só pra saber se tenho chances...

- Depende. Depende de quem me pergunta. - ela gargalhou divertida. Havia conseguido se livrar dessa.

Em Minas Gerais, Gabriela recebe uma massagem antes de começar o treino com bola. Um meio sorriso nasce em seus lábios, quando vê Rebeca gargalhando com uma pergunta feita pelos fãs. A sua morena já tinha contado sobre a entrevista, então Gabi contava nos dedos as horas de poder ver-la, para matar um pouco de saudades. A sua atenção no vídeo foi interrompida por Sheilla adentrando o lugar, usando o uniforme azul com branco e com os cabelos soltos sobre os ombros.

- Bom dia! - cumprimentou com o semblante sério, mas com voz tranquila - Porque está aqui? Sentiu alguma coisa? - perguntou preocupada.

- Bom dia, Sheilla. - cumprimentou de volta - Eu só estava um pouco travada. Preferi vir aqui antes de treinar com a bola. - explicou.

- Fez certo. - a mulher se sentou um pouco afastada, mas ainda observava a ex namorada - Me diz, está se sentindo bem com os treinos?

- Estou. - respondeu simples - Eu pensei que seria difícil voltar a ficar bem, depois daquela fase, mas no primeiro jogo eu me senti confortável e dei o meu melhor.

- Eu quero que você sempre dê o seu melhor, mas sem ultrapassar os seus limites, ok? - perguntou e vou Gabriela concordar com a cabeça - Eu pensei que fosse se aposentar lá na Itália.

- Mas quem sabe isso não aconteça? - deu de ombros e desligou o celular, conta a sua vontade, pois queria continuar vendo a sua quase namorada - Eu ainda me acho muito nova para me aposentar. Eu quero viver isso até o último minuto possível.

- Eu pensava a mesma coisa. - a bi campeã gargalhou, se lembrando de como a vida pode dar voltas.

- Mas é diferente. - ergueu a sobrancelha - Você era casada e querendo ou não isso é uma grande responsabilidade, ainda mais quando a pessoa não te apoia. E também teve as meninas. Talvez a sua aposentadoria precoce era um aviso para você aproveitar a vida.

- Eu não considero que foi algo tão precoce assim. Mas eu concordo com a parte do aproveitar a vida. - suspirou - Eu não sei se teria psicológico para continuar trabalhando, tendo gêmeas em casa.

- Tudo tem seus prós e contras. - comentou por fim, se levantando após o término da massagem.

Sheilla Castro entendeu que a conversa tinha se finalizado e se aprumou, saíndo da sala, voltando até a quadra onde as outras jogadora estavam e não demorou muito para que Gabriela se juntasse a elas e o treino fosse iniciado. Treino que durou cerca de três horas. No final, todas estavam cansadas, suadas e descabeladas e isso causou uma gargalhada na comissão técnica.

As mulheres seguiram para o vestiário, tomaram um banho de água gelada e se arrumaram para voltar para casa. Gattaz convidou Gabi para ir até uma padaria tomar um café da tarde, mas a camisa fez negou. Não via a hora de chegar em casa e poder conversar com Rebeca. Tanto que poderia voltar para casa andando, mas aceitou a carona de Sheilla, que mora no mesmo prédio.

- As meninas estavam querendo marcar de sair com você. - comentou estacionando o carro na sua vaga da garagem.

- Eu vou adorar. Sabe que eu amo elas. - disse após sair do carro - Mas me fala com antecedência, para que eu possa me organizar.

- Claro, eu irei fazer isso. - a técnica chamou pelo elevador - Bom descanso, Gabi.

- Obrigada pela carona, Sheilla. - agradeceu educada e segui até seu apartamento. Não queria ter que dividir um espaço muito pequeno com a ex namorada.

Ao chegar em casa a primeira coisa feita, foi enviar uma mensagem para Rebeca, que parecia atenta a isso, que lhe respondeu na hora, feliz. E questionou sobre o treino e sua rapidez para chegar em casa, pois sabia que geralmente Gabi chegava às cinco, e ainda eram quatro e quinze.

Insuperável - Rebeca andrade & Gabi guimarães Onde histórias criam vida. Descubra agora