Cap.4 Paulo André

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Rio de Janeiro,Tempo atual...

Os anos passaram, mas algumas dores nunca cicatrizam por completo

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Os anos passaram, mas algumas dores nunca cicatrizam por completo. Eu tinha 14 anos quando meu pai foi assassinado, e a lembrança daquele dia ainda me persegue de vez em quando, como um fantasma que se recusa a descansar...

Não foi um simples assalto ou algo que acontece em qualquer esquina. Não. Meu pai foi morto por vingança. Minha mãe, Mari, sempre me dizia que a vida dele como policial o colocou em muitos perigos, e, eventualmente, um desses perigos o alcançou...

Por um tempo, eu também quis vingança. Até os meus 18 anos, o único pensamento que me acompanhava era descobrir quem tinha feito isso...

Quem tirou meu pai de nós. A fúria queimava dentro de mim, consumindo cada passo que eu dava. Eu estava obcecado...

Mas com o tempo, com a maturidade que a vida impõe, percebi que essa raiva só estava me destruindo. Ela não ia trazer meu pai de volta. E, se eu buscasse vingança, só alimentaria o ciclo de violência que já tinha destruído tantas vidas...

Minha mãe, Mari, nunca disse isso diretamente, mas eu sabia que ela se sentia aliviada quando eu finalmente dei um basta nessa busca. Ela me apoiou quando decidi não seguir os passos do meu pai...

Todos na família queriam que eu fosse para a polícia. Meus tios, meus primos, todos achavam que eu devia honrar o nome do meu pai, continuar o legado dele. Mas eu não queria aquilo para mim.Não queria acabar como ele...

No fundo, minha mãe também não queria me ver com um distintivo no peito, colocando minha vida em risco todos os dias, assim como meu pai fez...

Foi por isso que eu escolhi a contabilidade. A vida por trás dos números sempre me pareceu mais segura, mais controlada. E, para ser honesto, foi a melhor decisão que eu podia ter tomado...

Minha mãe foi a única que me apoiou de verdade. Ela viu que eu estava tentando construir algo diferente, fugir de um destino que parecia escrito...

Agora, com 24 anos, estou quase me formando. Cada dia que passa, estou mais próximo de me tornar aquilo que escolhi ser, e não o que os outros esperavam de mim...

As pessoas ainda falam. Os comentários sobre como eu deveria "fazer justiça" pela morte do meu pai continuam, especialmente quando nos reunimos em família..

Mas eu já aprendi a ignorar. A verdade é que ninguém ali sabe o que é carregar esse peso. Ninguém além da minha mãe...

A faculdade foi uma espécie de refúgio para mim. Lá, encontrei meu lugar. E, mais importante ainda, encontrei meu melhor amigo. Léo Picon...

Ele tem a mesma idade que eu, mas parece que vive em um mundo completamente diferente. Desde o primeiro dia de aula, ele já chegou mostrando o quanto era cheio de vida, sempre alto astral, sempre trazendo uma energia leve para qualquer situação...

Lembro quando conheci Léo. Foi na sala de contabilidade, em um daqueles seminários chatos que temos que apresentar no início do curso. Ele foi o último a entrar na sala, com o cabelo todo bagunçado, falando alguma piada que eu nem entendi direito na hora...

Mas o que eu lembro bem é que ele não parava de falar. Enquanto todos nós estávamos nervosos com a apresentação, ele estava ali, descontraído, como se já conhecesse todo mundo...

Léo: E aí, qual é seu nome? — ele perguntou, sentando do meu lado como se já fôssemos amigos de longa data.

PA: Paulo André - respondi, meio desconcertado com a abordagem direta.

PA: Paulo André...— ele repetiu, pensativo. — Nome de pagodeiro, hein? Curte um samba?

Eu ri. Não tinha como não rir. Ele tinha aquele jeito natural de quebrar o gelo, de te fazer sentir confortável em qualquer situação. E foi assim que começou nossa amizade...

No começo, eu pensava que ele era só um maluco. Mas com o tempo, vi que tinha mais nele. Ele era leal, divertido e, principalmente, não julgava ninguém. Léo se tornou meu melhor amigo...

Na faculdade, passamos por várias juntos. Léo sempre me convidava para sair, para me distrair, para curtir a vida. E, mesmo sendo completamente diferente de mim em vários aspectos, eu gostava de ter ele por perto...

Ele trazia uma leveza para minha vida que, até então, eu não sabia que precisava...

Mas o mais curioso sobre Léo era sua família. A gente não falava muito sobre isso, mas eu sabia que ele vinha de um lugar complicado. Ele sempre fazia piada sobre como a família dele era "diferente", mas nunca entrou em muitos detalhes...Não me importava...

Recentemente, ele começou a me convidar para os bailes na favela onde ele morava. Eu nunca fui muito fã dessas festas, mas Léo insistia...

Dizia que eu precisava conhecer as pessoas de lá, que eu estava muito preso na minha bolha, e que sair um pouco do meu mundo me faria bem...

No início, eu resisti, mas acabei aceitando o convite...

Léo: Cara, você tem que ir. É uma vibe completamente diferente, o pessoal é tranquilo, e a música é top. Você precisa relaxar um pouco!— ele disse, me convencendo com o mesmo entusiasmo de sempre.

PA:Tá eu vou !

E foi assim que aceitei a ideia de ir com ele ao baile...

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