Cap.10 A Noite Silenciosa

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O silêncio pairava sobre a favela, mas Jade nunca conseguia dormir facilmente...

Ela suspirou, rolando na cama, encarando o teto como se ele fosse lhe dar alguma resposta. Em sua vida, quase todos os problemas tinham uma solução direta. Tudo era preto no branco...

Traições, alianças, dinheiro, poder... Ela sabia exatamente como lidar com esses desafios. Mas, quando o assunto era sua vida pessoal, seu coração e seus sentimentos, tudo parecia complicado...

A presença de PA em sua mente era um desses problemas que ela não conseguia resolver...

Aquele garoto mais novo, com seu sorriso fácil e seu jeito despreocupado, estava conseguindo mexer com ela de uma maneira que ninguém havia feito há muito tempo...

E isso a incomodava profundamente. Não porque ele fosse ruim para ela, mas porque ele era bom demais. Ele era tudo o que ela havia evitado durante a vida inteira. Ele representava algo puro, algo que ela não sabia se poderia ter...

Aos 30 anos, Jade já havia visto e vivido coisas demais. A violência, as traições, as mortes, os acordos sujos... sua vida era cercada de caos...

Ela nunca teve o luxo de se abrir para alguém, de confiar plenamente em outro ser humano, porque a confiança era uma moeda cara no mundo em que ela vivia. Um erro, uma brecha, e tudo poderia ruir...

Seu pai a havia ensinado isso desde cedo, e ela carregava essa lição consigo como um escudo. Mas o escudo era pesado...

E, às vezes, quando a noite ficava silenciosa e ela ficava sozinha com seus pensamentos, sentia o peso esmagá-la...

Jade: Será que eu posso me permitir isso? — murmurou para si mesma, virando-se de lado, abraçando o travesseiro.

A imagem de PA passou pela sua mente. Aquele jeito despreocupado, o brilho inocente nos olhos dele, o entusiasmo juvenil. Ele era tão diferente de todos os outros homens que ela havia conhecido...

Na favela, os homens eram duros, espertos, sempre um passo à frente. Paulo era... fresco, como uma brisa leve no meio de um calor escaldante. E talvez, por isso, ele fosse tão atraente...

Ele era uma pausa no caos, uma possibilidade de algo mais simples, mais real.Mas, ao mesmo tempo, era exatamente isso que a assustava...

Jade sabia o que seu mundo podia fazer com pessoas como PA. Claro, ele era esperto, ousado, e tinha uma certa malícia que o ajudava a sobreviver na favela. Mas aquilo não era suficiente. Não no mundo dela...

Ela já havia visto pessoas como ele serem engolidas vivas por aquele sistema de poder e violência. E ela não queria ser responsável por arrastá-lo para aquilo...

Paulo André, apesar de todo o encanto que exercia sobre ela, era um risco. Um risco para ele e para ela mesma. E, se havia algo que Jade odiava, era colocar pessoas que ela gostava em perigo...

Ela já havia feito isso antes, e as consequências ainda a assombravam...

Sentada na cama, ela se lembrou de um antigo namorado, anos atrás, quando ainda estava no início de sua "carreira" como chefe do morro. Ele também era um garoto "de fora"...

Ele e Jade chegaram a ficar noivos, e um homem da facção rival para atingi-la matou ele a sangue frio, e Jade sentiu o peso de sua morte como uma marca permanente em sua alma...

Desde então, prometeu a si mesma que não deixaria mais ninguém entrar no seu mundo assim...

Havia outra coisa que a segurava, algo que ia além do medo por PA. Era o medo por si mesma...

Jade havia passado tanto tempo mantendo as pessoas afastadas, construindo barreiras ao redor de seu coração, que a ideia de se abrir para alguém novamente parecia quase impossível...

Ela tinha amigas, claro. Fefê, Vivi, Nina. Elas eram suas confidentes, mas, mesmo com elas, Jade nunca se abria completamente...

Elas não entendiam o fardo que ela carregava como chefe do morro, como mulher no comando de um mundo tão brutal...

PA representava uma ameaça a essas barreiras cuidadosamente construídas. Ele fazia com que ela quisesse abaixar a guarda, e isso a aterrorizava...

PA não sabia quem ela realmente era. Ele a conhecia apenas como a "Baronesa", a mulher poderosa e intocável que comandava a favela com punho de ferro...

Ele não conhecia Jade, a mulher que, à noite, se sentia sozinha, que se questionava sobre as escolhas que havia feito, que ainda carregava o luto pela perda do pai...

Mas será que PA poderia ver além da "Baronesa"? Será que ele seria capaz de enxergar Jade como ela realmente era? E, mais importante, será que ela queria que ele visse?...

A dúvida rondava sua mente como um fantasma. Ela sabia que havia algo entre ela e PA. Algo que poderia ser explorado. Mas o receio era grande...

PA sabia que se aproximar dela significava se envolver em algo perigoso, e, mesmo assim, ele continuava voltando. Havia coragem nele, algo que Jade admirava...

Jade: Se eu der uma chance para ele... o que vai acontecer? — ela se perguntou, olhando para o espelho no canto do quarto.

Se ela o deixasse entrar em sua vida, havia a possibilidade de que ele pudesse ser uma distração, uma luz em meio ao caos....

Mas também havia a possibilidade de que ele acabasse destruído por isso. E essa responsabilidade, Jade não sabia se estava pronta para carregar de novo...

Ela levantou-se da cama, caminhando até a janela. A favela era sua, e tudo o que estava ao alcance de sua vista estava sob seu controle...

Mas, dentro de si mesma, Jade sentia que não tinha controle nenhum. Ela estava presa em um dilema: proteger Paulo André de seu mundo ou deixá-lo entrar ???....

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