CAPÍTULO 1

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MAHARA HASSAN

Como dizia o grande Martin Luther King: "eu tenho um sonho."

E o meu sonho era ser rica, pois não aguentava a vida de uma pobre fodida universitária, que além de estudar ainda trabalhava.

Estava terminando de fechar o meu armário e colocando a alça da minha bolsa no ombro, após mais um dia de trabalho cansativo na lanchonete. Ter ganhado uma vaga na faculdade nesta cidade me trazia alguns custos.

Normalmente, estudava de manhã, cursava medicina, e de tarde ocupava o meu tempo no trabalho para sustentar a mim e a minha irmã mais nova que trouxe para morar comigo. Essa era a minha rotina.

Suspirei cansada e estiquei os braços, prendendo o cabelo alisado com uma piranha. Precisava de um banho, precisava dormir. As férias estavam terminando, as férias de duas semanas devido a uma celebração importante aqui na cidade.

Saí da sala dos funcionários com o celular na mão lendo a mensagem de uma das minhas melhores amigas afirmando que já tinha chegado para me dar carona. Ela estava sendo a minha salvação nos dias que costumava sair tarde.

Me despedi da minha colega, desejando um bom final de semana, que limpava o balcão, com um aceno e atravessei a porta. Ergui o cenho e procurei o BMW da Zami. Avistei-o do outro lado da rua, mais afastado, ligando e desligando as luzes do carro anunciando a sua presença.

Soltei uma risada fraca da sua palhaçada e corri até o veículo. Abri a porta e adentrei, sendo recebida pelo cheiro doce e um clima refrescante. Zamira piscou para mim com uma mão no volante parecendo aqueles homens cis pervertidos, tentando me paquerar.

— Obrigada mais uma vez pela carona, amiga. — Soltei um suspiro aliviada, pousando meus pertences no chão.

— Você não precisa agradecer, Mah. — Sorriu e automaticamente seus olhos puxados se fecharam um pouco.

Zamira era filipina. Nascida no país, mas seus pais decidiram vir morar nos Estados Unidos. Conheci-a no primeiro dia de aula, quando nos esbarramos no campus e éramos duas calouras. Sem querer, trombei contra ela, pois estava perdida e desde então, seguimos a nossa amizade. Diferente de mim, Zamira estava cursando letras e em seu tempo livre era ginasta.

Seu cabelo era preto e ondulado, destacava sua pele bronzeada. Seus olhos eram puxados e castanhos escuros. Ela usava roupas esportivas, me fazendo supor que estava treinando até tarde.

— Kailani já foi buscar a sua irmã, não sei se você leu a mensagem dela. Mas ela está com a Lasya, te esperando em casa. — Zami avisou concentrada na estrada.

Diferente de mim, as aulas da minha irmã já tinham voltado.

— Não sei o que seria de mim sem vocês. Queria um dia poder retribuir o tamanho da gratidão que sinto. — Fui emotiva, coisa que Zami não sabia lidar muito bem.

— Começando por parar com essas declarações, somos suas melhores amigas, Mahara. É o mínimo em uma amizade.

Para finalizar, a última do trio, era a Kailani, uma mulher marrom. Lani estava fazendo psicologia. Eu e a Zamira a conhecemos durante a temporada de atividades no campus no ano passado.

Elas duas me ajudavam a suportar o caos que minha vida era. Quando saía muito tarde, Kailani fazia questão de ir buscar minha irmã na escola e ficava em casa com ela até o meu retorno. Às vezes ficava com peso na consciência por trazê-las para esse meio, mas elas já me deram sermões, falando que estava tudo bem e que não custava nada.

— Como você está? Como foi o trabalho? — Quis saber, entrando na rua que eu conhecia pela palma da mão.

Não morava em nenhum prédio luxuoso nem moderno, mas era o que o meu dinheiro conseguia pagar de aluguel em um apartamento. E foi uma luta para achá-lo, precisei conversar bastante com o dono da casa. Preferi morar em um apartamento do que na irmandade justamente pela minha irmã.

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