CAPÍTULO 5

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KIRA FANE

— O Felipe? — Zoe perguntou assim que entrei na sala, na nossa bagunça.

A música lá fora quase estourava as paredes que vibravam. Se escutava até a gritaria da irmã da Zoe e do Mason, botando ordem no ambiente, porque existiam aqueles alecrins dourados que abusavam da boa vontade e queriam arrumar briga por motivos fúteis.

— Foi levar umas conhecidas para casa, elas estavam alcoolizadas e sem condições de irem sozinhas. — Expliquei, me jogando no sofá.

— Nossa, que filho da puta, ele disse que ia me dar carona. — Reclamou. — Austin, Scarlett e Mason já foram embora.

— Ele vai voltar, não se preocupe. — Tranquilizei-a.

— O show foi do caralho, né? — Comentou, vestindo sua jaqueta de couro. — Você como sempre deixando as mulheres apaixonadinhas. — Brincou, piscando seu olho direito.

— Ainda bem que ela namora, Zoe. — Uma terceira voz preencheu o espaço.

Atrás de Zoe estava Emma, relaxada contra a parede e com os braços cruzados em frente ao peito. Zoe revirou os olhos e soltou uma lufada de ar. Ninguém gostava da Emma, eles só a suportavam por respeito.

— Vou esperar o Lipe lá na frente do bar. — Zoe a ignorou, pegando sua mochila. — Adeus, Kira. — Se despediu e saiu, me deixando sozinha com minha namorada.

Se bem que achava que namorada já não era o título dela. Hoje Emma foi me visitar lá em casa e eu acabei cedendo ao tesão do momento e acabou rolando, por mais que eu estivesse cansada de suas atitudes.

E burra como estava sendo, durante o ato me relembrei o porquê estava de saco cheio do nosso relacionamento. Aquilo foi uma merda. Era eu quem fazia tudo e quando era a vez dela, parecia que ela não fazia com gosto, não me satisfazia. E o que mais me deixou puta foi saber que ela trouxe um cinto de pau e pediu para eu usar, porque estava com saudades de sentir um pênis dentro dela.

Seu comentário me fez apagar a vontade no mesmo segundo. Com a cabeça quente, falei que se ela queria tanto um homem, era só se relacionar com um e me deixar em paz. Emma ficou brava, sem razão e saiu do apartamento, como se fosse o centro do mundo.

Ela era egocêntrica para caralho.

E como uma boa sonsa que ela era, apareceu aqui como se nada tivesse acontecido, querendo apego. Passei o show inteiro a evitando e agora que acabou, achava que era melhor colocar um ponto final.

Eu era uma mulher. Queria me sentir uma mulher num relacionamento. Queria fazer atos femininos sem que alguém falasse que não combinava comigo. Sim, eu era uma mulher lésbica com um estilo de roupa masculino, no entanto, não deixava de ser menos mulher por isso.

E devia ser tratada como uma. Para quê continuar uma relação com alguém que me enxergava como um homem?

— É impressão minha ou seus amigos deixaram de fingir que gostam de mim? — Empurrou a parede e caminhou em direção a mim.

— Eles nunca fingiram, Emma. Só te respeitavam porque você era minha namorada. — Declarei, me erguendo para o surto dela.

— Era? — Franziu o cenho. — Não entendi.

— Estou terminando com você. — Afirmei.

Emma soltou uma risada seca com desdém e estalou a língua.

— Você está mentindo, só pode. Ninguém termina comigo como se eu fosse um nada, Kira.

— Eu estou terminando. — Disse simplesmente. — Estou cansada das suas atitudes há bom tempo. Você acha sempre que é a dona razão e a princesinha do mundo. Não entende quando está errada e nem aceita.

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