CAPÍTULO 2

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KIRA FANE

De volta a Lincoln.

Após duas semanas em Santa Mônica, matando as saudades da minha mãe, estava de volta e cansada. De Santa Mônica peguei um voo para Chicago e depois precisei pegar um ônibus e ao chegar à cidade, paguei o Uber até casa.

Bella estava feliz e saudável. Conheci finalmente o novo namorado que me falava há meses. Bella era sorridente ao lado dele, sem contar a cultura que tinham em comum por ele ser italiano também.

Queria que meu irmão estivesse presente nesse encontro, mas Chase estava no Brasil. Viajou na semana passada e ele e a Lu iriam ficar até os gêmeos nascerem. Ficava sempre amolecida ao lembrar que iria ser tia. Tia. Era muita responsabilidade.

Fechei a porta de casa e removi os sapatos, deixando-os na entrada. Calcei os chinelos e subi o pequeno degrau da entrada, caminhando pelo meu apartamento. Vivia sozinha. Gostava de ter um espaço para mim, foi a minha primeira decisão quando vim estudar música em Lincoln em vez de ir morar com estudantes numa casa lotada de gritaria.

Era um pouco contraditório dizer que odiava gritos, mas amava o som prazeroso que minha guitarra fazia quando tocava de noite. Odiava coisas desarrumadas. Tinha uma mania de limpeza que peguei do meu avô.

Durante o tempo que vivi no Japão, passei muito tempo na casa do meu avô devido à relação tóxica e abusiva dos meus pais divorciados atualmente. Yuri era obcecado com limpeza e ao crescer percebi que me tornei uma viciada em organização.

No geral, tinha muito apego e era inserida na cultura japonesa. Os sapatos de rua eram proibidos dentro de casa, tinha uma coleção de louças japonesas dadas de presente por Yuri quando me mudei e amava chás.

Apesar de ter uma relação saudável com as minhas origens, as pessoas não facilitavam na construção dela. Nasci e cresci no Japão, mas diferente do meu irmão que puxou todos os traços orientais, saí a minha mãe italiana. Eu era euro-japonesa. Minhas características não eram tão visíveis quanto as do Chase.

E isso não me tornava menos japonesa que os outros, mas não foi isso que aconteceu. Enquanto crescia no Japão, escutava muitos comentários de pessoas falando que eu nunca iria ser vista como uma japonesa. Sem contar às vezes que saía com minha mãe, 100% europeia, e ouvia murmurinhos bastantes ofensivos. Quando me mudei para os Estados Unidos de vez, não melhorou muito. Eles eram bem mais ignorantes e xenofóbicos.

Mesmo com indivíduos dando pitacos e impondo opiniões sobre minhas origens, como se eles soubessem de alguma coisa, isso nunca me proibiu em criar laços com a cultura japonesa. Nesse quesito, tive uma grande ajuda e apoio do meu vovô. Além de ser fluente no idioma.

Adentrei no quarto, sendo recebida com a cama me chamando e lancei minhas mochilas de viagem em cima dela. Esgotada, levei as mãos até minhas mechas e amarrei o cabelo curto e ondulado.

O bolso do meu casaco começou a vibrar e removi-o, ligando a tela e observando as mensagens da minha mãe perguntando se eu tinha chegado bem, da galera chata da banda, do meu melhor amigo Felipe, perguntando se hoje queria sair, e da minha namorada, Emma.

Conheci Emma através da Scarlett, elas eram amigas. Scarlett era a cantora da banda. Além dela, havia o Austin, outro guitarrista, a Zoe, a baixista e o Mason, o baterista.

Falando neles, Zoe mandou mensagem no grupo perguntando se amanhã íamos ensaiar no toppers, o bar mais conhecido do bairro e que pertencia à sua irmã mais velha. Sinceramente, a vontade era responder que não estava a fim, mas conhecendo a minha amiga respondi que sim.

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